Michael
— Ei, pinga-amor. — Cerrei os olhos mal ouvi Jack. — O uniforme não se vai vestir sozinho.
Soprei pela sua inconveniência e, antes que me pudesse despedir da rapariga à minha frente, as suas mãos largas arrastaram-me para longe. Jack olhou-me, indeciso se havia de rir ou de cumprir o seu papel de capitão, e disse:
— Meu, tens de deixar algumas raparigas para o resto da equipa.
— Ouve Jack, eu não...
— Não, ouve-me tu. Eu sei bem. — Ele falava sempre num tom trocista. Era difícil saber quando estava a sério. — És novo e as miúdas gostam, eu sei, mas ou estás com a cabeça dentro do jogo ou estás fora.
Não esperou para que lhe pudesse dar qualquer desculpa e avisou a todos para estarem no relvado dentro de dez minutos. Ainda procurei pela rapariga de cabelos escuros, a Mary? Ou será que era Patty? Abanei a cabeça, pronto a deixar o mundo lá fora e comprometer-me com o treino. Não era o maior adepto de futebol, para ser sincero, mas na altura foi o melhor que pude arranjar; mantinha-me em movimento e, claro, abria-me várias portas para diferentes pessoas novas. E era disso que precisava. No relvado, o treinador delegou os mais variados exercícios para o aquecimento, sempre sem nos dar os parabéns pela vitória. Pelo que ouvi dizer, ele era um osso duro de se roer.
— Clifford! — chamou-me. — Hoje ficas na equipa do Jack. Gostei da tua prestação no último jogo.
Não foi preciso olhar para o Jack para saber que a decisão não lhe agradara, mas também não era importante. Depois de uma dúzia de vaivéns e de outro tanto de exercícios de flexibilidade, estávamos prontos para jogar. E, antes que o treinador soprasse o apito, encontrei a India sentada na bancada mais próxima juntamente com as suas amigas. Não era como se ela trouxesse consigo sempre uma cara sorridente, mas denotei a sua severidade de longe.
Quando o jogo terminou, o sol já se tinha posto e mais ninguém estava sentado nas bancadas. Para onde teria ela ido? Decidi apressar-me e tomar duche o quanto antes que o Jack resolvesse partilhar mais um discurso sobre a importância do trabalho de equipa. Havia dias em que me esforçava para ouvir tais parvoíces, mas naquele dia havia algo de mais urgente.
— Ei, Clifford! — Ashton chamou-me quando me viu fechar o casaco, pronto para partir. — Para onde vais com tanta pressa?
— Bom...
Aquela era uma excelente questão. Para onde ia tão acelerado? Não sabia onde ela estava e sabia ainda menos qual a urgência que me inquietava. Ocorreu-me que ela me pudesse ter visto com a tal de Carrie e esse pensamento preocupou-me, mas logo parei para pensar: porque haveria eu de me justificar ou de me sentir mal por algo tão banal quanto um beijo?
— Anda, tenho um sítio para te mostrar.
Anui, deixando para segundo plano todo o meu plano sem qualquer fundo. Além do mais, o Ashton parecia porreiro. Entrámos na sua carrinha de caixa aberta e o caminho foi feito ao som do motor já velho a trabalhar. Parei para notar o quão sossegadas eram as ruas àquela hora comparativamente com as de Sydney.
— Chegámos. — Ele anunciou ao estacionar em frente a uma casa velha de tijolo.
No topo da parede havia um sinal luminoso que dizia "Pizza 24/7" e não pude imaginar um sítio melhor que aquele. Se havia algo que gostava de comer era pizza, por isso, não pude estar mais contente por finalmente ter conhecido o meu futuro restaurante preferido. As janelas de vidro mostraram-nos que estava essencialmente vazio, talvez com cinco ou seis pessoas sentadas à mesa. Quando entrámos, o Ashton cumprimentou todos os que lá trabalhavam como se os conhecesse há tanto tempo. Pediu-me para que lhe seguisse até uma sala escondida atrás do balcão.
— É o melhor sítio. — Comentou, orgulhoso. — É reservado para clientes especiais, claro.
Gargalhei pelo seu entusiasmo e as minhas expectativas subiram ainda mais pela espera de provar a comida, mas o meu sorriso desvaneceu quando reparei em quem também estava por lá.
— Malta, já chegaram?
As três raparigas que lá estavam voltaram-se para nós mal o ouviram e, naquela milésima de segundo, os olhos frios e rígidos de India cravaram os meus.
Ops, algo aqui parece tenso!
Espero que tenham gostado!!
Com amor,
MukeCakesauce
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SICK. - 3 Caminhos Cruzados
Fanfic| História premiada por um Watty 2015 na categoria de Melhor Fanfiction | Primeiro volume da trilogia SICK. Na cidade chuvosa e melancólica de Fall River, três adolescentes estão prestes a ter suas vidas entrelaçadas de maneiras inesperadas. India...