Novinho em folha

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Calum

Ela tinha razão. Acabei por chegar a essa conclusão depois dos longos dias passados na sua ausência. Mesmo que lhe tivesse ligado vezes sem conta para a implorar que voltasse para mim, nunca me atendeu. Não a censurei; entendi a deceção por estar ainda agarrado num passado distante. Foi exatamente por isso que decidi pôr India para trás das costas e focar-me apenas no presente; focar-me em Margaret.

— Não, Calum. — Em frente à porta da casa de Jack, Maggie cruzou os braços. — Disse-te para não me procurares, mas nem isso és capaz de fazer.

Sabia que ainda estava chateada e de pé atrás em relação a mim, mas foi quando lhe desvendei o elaborado arranjo de flores escolhidas a dedo pela florista que não conseguiu esconder-me a sua surpresa e satisfação. Olhou à sua volta e tive os seus braços em volta do meu pescoço e os seus lábios nos meus.

— Sei que não te valorizei como deveria ter feito — admiti. — Agora reconheço a sorte que é ter-te para mim.

Maggie não se preocupou muito com o que tive para lhe dizer. A única coisa que pareceu importar foi puxar-me para dentro da casa de Jack e bater com a porta.

— Hey, Wright. — Despertei das antigas recordações quando Jeff me chamou. — Esses pratos não se vão arrumar sozinhos.

Jeff sempre carregava consigo um semblante enfadado. Tinha as bochechas enrugadas e os olhos descaídos por detrás dos óculos sujos de farinha. Estalava os dedos para que me despachasse. Com um sorriso torto, foquei-me em secar e arrumar a loiça nas prateleiras. Trabalhar no café ao fim da rua não era um trabalho exigente, desde que conseguisse dançar ao ritmo dos estalos de Jeff, claro.

— Quando é que posso trabalhar ao balcão?

— Quando conseguires fazer uma tarefa como deve ser. — Jeff soprou, aborrecido.

Jeff não gostava da ideia de me ter ao seu lado no balcão a oferecer sorrisos estranhos a clientes. Jeff gostava de manter tudo sob controlo, sem grandes conversas, para depois voltar aos sacos de farinha e caixas de ovos. Ainda assim, perguntei-lhe a mesma coisa todos os dias. Era divertido ver como as suas costas corcundas e a barriga saliente se voltavam para me mostrar o desapreço por tal impertinência.

Estava em frente à porta de madeira grossa e pesada. Bati quatro ou cinco vezes, absurdamente impaciente para que me deixasse entrar. Tinha tanto para lhe mostrar e para lhe contar. Ajeitei o meu cabelo já encaracolado e clareei a garganta, pronto para lhe saudar alegremente quando os seus olhos baralhados caíssem sobre mim.

— Malia, olá.

— Calum? — Hesitante, olhou-me.

A sua boca primeiro estava numa linha estreita, mas logo formou uma curva. Puxou-me para um abraço apertado e insistiu para que entrasse. Sorri-lhe por voltar a sentir o cheiro a café e a baunilha da sua casa apertada. Ajeitou o sofá e levou-me um copo de água. Irrequieta e nervosa, andou de um lado para o outro, sem saber ao certo se devia ou não perguntar tudo o que queria saber. Por isso, disse:

— Senta-te, vim para falar contigo.

Sem grandes demoras, Malia bombardeou-me com todas as questões que pareciam querer saltar-lhe da boca: primeiro quis saber como estava, certificando-se se ainda havia vestígios de Maggie na minha vida ou não. Quando lhe disse que sim, engoliu os comentários inapropriados. Perguntou também o que estava ali a fazer e porque estava com tão "bom aspeto". A isso expliquei que tinha decidido mudar de vida. Malia brilhou, repleta de alívio e de contentamento, ao saber que estava de volta ao psicólogo e à medicação reguladora. Levantou-se, enxugando as lágrimas felizes com a desculpa que tinha andado muito sensível ultimamente. Depois, pegou no telemóvel e ligou para os nossos pais.

— Calum!

— Sim, sim. Já sei. — Revirei os olhos, aborrecido por ouvir os estalos novamente.


Calum? És mesmo tu? Está tão diferente que mal o reconheci...

O que acharam?

Com amor,

MukeCakesauce

SICK. - 3 Caminhos CruzadosOnde histórias criam vida. Descubra agora