Uma noite diferente

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India

— India! — ouvi a minha mãe preocupada mal entrei, mas logo se recompôs quando reparou no rapaz que me seguia.

— Olá, Sra. McConnel. — Ele ofereceu-lhe um sorriso educado antes de sacudir a neve do casaco.

— Michael, que surpresa agradável — usou um tom de voz completamente diferente do anterior. — Peço desculpa pela confusão, não sabia que íamos ter visitas.

— Não se preocupe. Eu só vim trazê-la até cá casa. Até mais, India.

Com um sorriso ternurento, fechou a porta atrás de si e, mal saiu, preparei-me para o inquérito.

— India...

Fugi para o meu quarto. Sabia exatamente aquilo que ia perguntar e eu não tinha planeado nem metade das coisas que iria responder. Contudo, ela seguiu-me.

— India.

Sentei-me na cama, pronta para esconder a timidez entre as almofadas. Ela apoiou-se na ombreira da porta.

— Mãe, por favor — implorei-lhe. — Agora não.

— Vocês têm passado muito tempo juntos ultimamente. — Mesmo sem conseguir vê-la, sabia que tinha um daqueles sorrisos. — Fiquei até preocupada quando deixaram de se falar...

— Não precisavas, mãe. Está tudo bem. — Ela sentou-se na ponta da cama.

— Sabes, querida... — Suspirei pela sua insistência. — Quando começamos a isolar-nos do mundo lá fora é quando precisamos de estar mais atentos. Eu e o teu pai já não sabíamos o que fazer ao ver-te deitada todo o dia, sempre a dormir...

Continuou a desabafar, suspirando como se um peso lhe tivesse saído de cima. Não pude deixar de sentir-me culpada por tê-los preocupado com parvoíces da minha cabeça.

— Acho que seria uma boa ideia se procurássemos ajuda.

— Não, mãe. Eu estou bem. A única coisa que preciso é de tempo e de espaço.

Encontrava-me de pé, com o coração de volta à boca. Se alguma vez me deixasse levar na cantiga de procurar ajuda para os meus "problemas", não ia ter outra opção senão acreditar que eles eram tão reais quanto eu. Preferia lidar com o assunto à minha maneira. Nada mais. Sem querer insistir, a minha mãe levantou-se com as mãos na cintura.

— Mas não te afastes dos teus amigos outra vez — advertiu-me. Antes de continuar, parou e voltou-se:

— Ah, quase que me esquecia. Um rapaz passou por cá e pediu-me para te entregar isto.

Franzi a testa sem conseguir lembrar-me de quem poderia ter lá passado. Reticente, observei o pequeno pedaço de papel nas minhas mãos. Tinha um número escrito a lápis e no verso o nome "Calum" escrito.

— Não é um amigo teu?

— Hum, sim. — Sacudi a cabeça. — Mais ou menos. É um novo aluno lá na escola. Ele vive aqui nas redondezas.

Sem mais perguntas, deixou-me a sós com o papel e com todas as minhas dúvidas. Como ele tinha descoberto a minha casa? Sabia que lhe tinha dito em que zona morava, mas não esperei que adivinhasse qual das casas seria. Esperei ainda menos que passasse por lá. Desviei todas as questões, convencendo-me de que seria normal; ele era novo na escola e provavelmente estaria só à procura de uma amizade. Não me importaria assim tanto se nos tornássemos amigos, para dizer a verdade. Ele pareceu ser um rapaz tão querido. Foi bom poder falar com ele. Quem sabe? Com o tempo, ele poderia acabar por se juntar ao meu humilde grupo de amigos.

SICK. - 3 Caminhos CruzadosOnde histórias criam vida. Descubra agora