India
Ella e Merida aguardavam do outro lado da porta. Ainda que não as visse, sentia o suspense pela espera de uma simples palavra minha. Estava em casa de Ella, confinada às quatro paredes da casa-de-banho, à mercê da pressão imposta pelos testes diante de mim. A determinação em colocar um ponto final em toda aquela angústia era inegável, mas, sempre que ganhava a coragem, distraía-me com o súbito interesse em ler todos os componentes do gel de banho com aroma a rosas, ou em contar a quantidade absurda de batons no seu necessaire.
— Ainda falta muito tempo? Na caixa dizia que demorava apenas três minutos! — Merida, claramente ansiosa, disse.
— Shh, não a pressiones. Não tenhas pressa, India! Vamos estar aqui à tua espera.
— Tens a certeza que não queres que chamemos o Michael?
Enterrei a cabeça nas minhas mãos ao relembrar-me da nossa última conversa.
Michael brincava com alguns acordes na sua guitarra enquanto cantarolava simples melodias, mas, ao contrário do que tipicamente acontecia, só havia silêncio da minha parte.
— Ok, já chega disto — Michael disse ao pousar a guitarra. — Desde que acabámos de comer que não abriste a boca uma única vez. Queres contar-me o que se passa? Foi o Calum outra vez?!
— Não, não... — descansei-o — Não tem nada a ver com o Calum, mas sim connosco.
Mal aquelas palavras foram ditas, o cenho de Michael enrugou-se. Engoliu em seco e segurou a minha mão, encarando-me.
— Connosco? Fiz algo de errado? Desculpa se as coisas têm estado complicadas, mas eu realmente tenho feito o meu melhor para te ajudar e ——
— Michael — interrompi-o, fechando os meus olhos. Não acreditava que estava prestes a dizê-lo em voz alta. — Eu... eu acho que estou grávida.
Se antes tudo na sua cara era confusão, agora olhava-me sério à espera que lhe dissesse que não passava de uma brincadeira, mas quando isso não se observou, Michael soltou uma risada.
— Não me assustes com tolices dessas, por favor. Diz lá o que se passa.
— Não estou a brincar, Michael.
Naquele dia tinha visto uma versão sua inédita. O seu rosto tinha perdido toda a suavidade e os lábios estavam estreitos, pressionados numa linha preocupada. Andava em círculos pelo quarto enquanto murmurava palavras para mim inaudíveis. Voltou a sentar-se, ainda que longe de mim, para dizer:
— Tu achas que estás grávida, o que significa que há a possibilidade de não estares. Isso já é um bom começo.
Estava ciente da promessa que fizeramos um ao outro naquela tarde: quando o momento chegasse, ele estaria lá também. Escusado será dizer que aquele momento na companhia de Ella e de Merida fora premeditado. Desde a hora matinal até à quantidade de água por mim ingerida foram cuidadosamente planeadas e, claro, a ausência de Michael foi uma decisão igualmente consciente.
— Vamos ficar só nós as três, por favor.
Inspirei fundo e cerrei os olhos durante a expiração, enquanto magicava uma pequena prece para que os meus desejos se tornassem reais. O meu coração batia com tanta força, os seus batimentos ressoavam pela casa de banho. Só me restava esperar.
Três longos minutos.
— Por favor, por favor... — Juntei as minhas mãos, implorando aos céus para que pudesse ser poupada de uma desgraça como aquela.
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SICK. - 3 Caminhos Cruzados
Fanfiction| História premiada por um Watty 2015 na categoria de Melhor Fanfiction | Primeiro volume da trilogia SICK. Na cidade chuvosa e melancólica de Fall River, três adolescentes estão prestes a ter suas vidas entrelaçadas de maneiras inesperadas. India...