Não é o que parece

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India

Era disto que todos falavam? Todos os românticos de todos os tempos? Era desta sensação leve e mágica que escreviam nos seus poemas e romances? Só podia ser porque nunca me sentira assim; nas nuvens, capaz de acreditar que havia tudo para que o futuro corresse bem. Estar ao lado de Michael, juntos, perdidos em beijos vagabundos era como queria ficar o resto dos meus dias. Ele encostou-se no banco, sorrindo de orelha a orelha. Fiz o mesmo. Ele manteve o seu braço em volta dos meus ombros e deitei a minha cabeça no seu ombro. Em que estaria ele a pensar?

— Vamos para o meu carro, está um gelo aqui. — Ele afagou os seus braços num arrepio.

Ainda que quisesse ficar ali, com receio que mal puséssemos os pés fora do pasto tudo voltasse ao que era antes, estava também com frio. Ele nunca largou a minha mão até chegarmos ao carro.

— Ah, está melhor. — Comentei, aconchegada. — Sabes o que me apetece agora? Ir ao Pizza 24/7.

— Leste os meus pensamentos.

Fall River era, de facto, uma cidade pequena. Conseguíamos chegar a todo o lado com muita facilidade, portanto o caminho até ao restaurante foi breve. Passou ainda mais depressa pela música de Mayday Parade no rádio e pelo bom ambiente entre nós.

— Quase que me esquecia. — Michael disse ao trancar o carro. — Tenho uma coisa para te contar. Depois de nos sentarmos à mesa e de lermos o menu, ele retomou: — Sabes quem está na equipa de futebol?

— Hum... acho que não. — Dei de ombros. — Quem?

— O teu grande amigo Calum. — O seu sorriso era amargo. — Sabes, aquele que encontrámos na ponte?

— Ele não é o meu grande amigo, Michael. — Repreendi. — E por acaso já sabia, ele disse-me.

Com isto, olhou-me de sobrancelhas juntas. Estava confuso, magoado até, e sacudiu a cabeça.

— Como sabias? Ele disse-te? — Preparei-me para responder, mas ele não me deixou: — Vocês têm falado?

— Bom, claro que temos falado. — Constatei o óbvio. Qual era o seu problema? — Conhecemo-nos há uns dias e já nos encontrámos algumas vezes aqui e ali, mas para quê o teu espanto? Tu sabes que somos amigos.

Michael não disse nada. A sua mão, que ainda há pouco estava na minha, afastou-se e torci o nariz. Eu sabia que sair do pasto ia trazer-nos chatices. Quando o empregado trouxe as nossas bebidas, agradeci mentalmente por ter aliviado o silêncio confrangedor. Sorvi o refrigerante pela palhinha, mas Michael nem tocou no seu.

— Qual é o teu problema? — Insisti. Ele soprou. — É assim tão mau que nós sejamos amigos? Eu e ele somos como eu e tu éramos no princípio; a única diferença é que ele não me chateia.

— Eu não quero que me entendas por mal, mas há algo de estranho nele... tens a certeza de que ele é teu amigo?

— Claro, por que não haveria de ter a certeza? Olha, vamos deixar este assunto para lá. Cá para mim estás com ciúmes, só não o queres admitir. Podemos não estragar este dia? Por favor?

— Só não acho que ele seja boa companhia. — Embirrou. — Eu vi-o nos balneários, ele... não sei, mas devias manter a tua distância.

— Eu nunca te contei dos meus pareceres sobre as tuas queridas amigas de pernas despidas, portanto não insistas. — Salientei. — Eu e o Calum só nos damos bem, nada mais. Eu não me daria com alguém que não fosse boa pessoa, qualquer das maneiras.

— Faz como achares melhor. — Revirou os olhos. — Só acho que nem tudo é o que parece.


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Com amor,
MukeCakesauce



SICK. - 3 Caminhos CruzadosOnde histórias criam vida. Descubra agora