[04.05] ESTRELAS

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Blair não conseguia saber se já havia passado semanas ou nem um dia na nave dos Guardiões. Ela estava deitada na cabine de comando, observando as estrelas enquanto a nave deslizava pelo espaço em direção à Terra.

A garota nem sabia mais se queria ou não chegar lá e ver o que havia restado.

Blair se move um pouco, gemendo de dor com o seu ferimento. Tony havia usado praticamente tudo que havia de suprimento médico nela, mesmo ela repetindo que deveriam dividir. A cada dia via ele ficando mais magro, perdendo suas forças, e ela se sentia culpada por isso.

Não só por isso, a garota carregava uma profunda culpa em seu coração.

Tony e Nebula jogavam futebol de dedo na mesa, ela conseguia ouvir os gemidos de raiva da estranha mulher.

— E você ganhou — Tony diz, vendo a reação assustada de Nebula — Parabéns, jogo justo.

O motor havia parado de funcionar há dias, os três haviam passado horas tentando o consertar, mas foi inútil. Estavam a deriva no espaço, esperando que um dia cheguem em algum lugar. Tony se levanta da mesa, tentando procurar Blair, e a vê deitada na mesma posição que estava desde o momento que embarcaram na nave

Tony se aproxima da garota, pegando o que havia restado da comida, e coloca ao seu lado.

— Você deveria comer... — Ele fala e senta-se ao lado dela.

Blair se assusta com a sua voz, seus pensamentos já estavam longes. Ela vira-se e sofre para se sentar, seu ferimento sempre a lembrando de sua existência.

— Nós dois devemos comer — Ela pega um pedaço do que parecia ser alguma fruta desidratada, como aquelas que comia em Sakaar, e entrega o resto do pacote para ele — Vamos dividir, certo?

Tony concorda, pegando um pouco da comida.

— Estamos nos últimos dias de oxigênio — Ele finalmente fala, já sabia disso, mas dizer em voz alta tornava real — Não vamos conseguir chegar na Terra.

— Acho que isso é para o melhor...não sei se conseguiria encarar o que encontraríamos lá. — Lágrimas não surgiam mais, estava desidratada o suficiente para não conseguir chorar — Estou sozinha agora.

Tony respira fundo, sabendo que em algum momento teria que falar isso.

— Você não está sozinha, e me desculpa por ter te deixado na mão quando precisou de mim — Ele diz, chamando a atenção de Blair — Eu estava com medo, com medo do que você era capaz. E ao invés de te ajudar, apenas...apenas piorei as coisas.

— Eu também estava com medo de mim...

— Eu tive uma visão um dia...da Terra totalmente destruída e de todos que conhecemos mortos — Tony continua a dizer — Por um momento eu pensei que talvez fosse você, Blair...eu estava errado. Eu devia ter te ajudado...quem sabe não estaríamos aqui.

Blair observava Tony enquanto ele dizia aquelas palavras, ela não precisava ler a mente dele para perceber que estava profundamente arrependimento. Seus olhos brilhavam com as lágrimas se formando, mas ele não a deixaria escorrer. Era verdade que ele a trouxe tremenda tristeza, mas naquele momento não conseguia mais sentir raiva de Tony.

Estavam os dois totalmente destruídos, vivendo os seus últimos momentos juntos.

— Todos nós fizemos coisas que nos arrependemos — Blair suspira e segura a mão dele, sentindo sua profunda tristeza e angústia.

Tony sorri singelamente.

— Desculpa por ter entregue a Joia do Espaço...eu...eu deveria ter lutado mais, deveria ter a usado...deveria ter feito algo.

— Blair, você quase morreu por aquela joia. — Tony estava inquieto — Eu já repensei todos os nossos movimentos, criança...eu não sei o que mudar...eu só consigo pensar nisso.

Tony respira fundo, saindo do transe de dentro de sua mente, e joga o pacote de comida para ela.

— Termina de comer... — Ele fala e se levanta.

Blair olha as frutas desidratas, a mesma coisa que comida há dias, vê seus pulsos magros e suas mãos esqueléticas. Há dias apenas via um pouco do seu reflexo no vidro da cabine de comando, e a via cada vez mais morta.

O ar estava acabando, junto com a comida.

Blair deita a sua cabeça novamente no chão, cansada da pequena conversa que teve com Tony. Seu corpo estava esgotado, assim como a sua mente. Ela não conseguia nem mais pensar corretamente.

Seu passatempo era sentir sua respiração em seu pulso, ver o vidro embaçando. Enquanto isso acontecia, ela sabia que ainda estava viva.

Nebula passava de vez em quando apenas para confirmar se ela estava bem, vendo se o ferimento estava infeccionado ou não. Não conseguia ver muitas emoções em seu rosto, mas sabia que de alguma maneira ela estava cuidando dela.

Em algum momento ouve Tony gravando uma mensagem para Pepper. Ele chama Blair pelo nome, tentando confirmar se estava acordada, ela não responde, mesmo estando acordada. Tony havia perdido as esperanças, gravando uma despedida para Pepper.

Blair então se rende, sem saber se acordaria no dia seguinte.

Ela pensava em Peter, no seu sorriso e nos momentos bons que haviam passado. Blair pensa nele a abraçando enquanto chorava no chão, após Thanos partir com as Joias, ele sussurrando em seu ouvido que estavam juntos. A garota então sente novamente tudo que ele sentia enquanto desaparecia lentamente, todas a sua tristeza e desespero passando pelo seu corpo até não sentir mais nada.

Blair pensa em Loki, no seu sorriso antes de partir. Não entendia o motivo, mas no meio de sua tristeza sentiu felicidade. Ela lembra do momento que o vê na nave, voltando para lutar em Asgard.

As palavras de Thanos...dizendo que ele era seu pai. Seria isso verdade, ou apenas um joguinho?

Blair não sentia mais a presença de Peter, e nem de Loki. Sua mente finalmente havia aceitado a morte dos dois.

Sua mente navegava em suas memórias, tentando lembrar de pequenos momentos de felicidade. O dia que conheceu Peter, aquelas horas que passaram conversando no quarto de hotel. Os dias que passou com Loki em Sakaar, antes que Thor chegasse, os dois brincando de serem pessoas totalmente diferentes.

Os meses que passou sendo uma Barton...o quanto desejava que eles estivessem bem. Assim como Steve, Wanda e Sam, como desejava voltar para a sede dos Vingadores e rever o seu quarto.

Lembrou de Sienna, das madrugadas que passaram conversando enquanto ela tomava uma taça de vinho e Blair comia seu sorvete. Não a via desde quando foi para Sakaar, nem sabia se a amiga soube o que aconteceu com ela. 

As memórias a distraiam, da completa e gélida solidão daquela nave, lentamente deslizando pelo espaço.

Algo incomoda a visão de Blair, uma luz brilhante. Seus olhos abrem, incomodados com a claridade, já estavam acostumados com a escuridão. Ela senta, com dificuldades de entender o que estava acontecendo.

Tony estava sentado na cadeira do piloto, olhando para o brilho que se aproximava da nave. Blair se levanta com dificuldades e se aproxima do vidro, vendo o brilho cada vez mais tomar a forma de uma pessoa.

Uma mulher.

— Nós vamos para casa, Blair — Tony suspira.

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