[01.1] OS PRIMEIROS DIAS

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O segurança escolheu trabalhar no orfanato pensando na facilidade do turno, olhar as câmeras e responder um possível chamado, o que raramente acontecia. Confessava que as vezes o sono vencia, um turno da noite monótono fazia isso, mas naquele dia as coisas mudaram.

Era uma noite comum de inverno na França, a neve caia singelamente e cobria o chão da calçada. Todos ficavam dentro de suas casas com as lareiras acesas e debaixo de vários cobertores, não ousando sair para a rua.

O homem estava encolhido por causa do frio rigoroso e lutando com sono, a cabeça caindo ocasionalmente, mas numa dessas quando ele abriu novamente os olhos algo estava diferente. Na câmera da entrada havia um movimento, uma caixa jazia na frente da porta.

Ele pega sua lanterna e caminha pelo longo corredor de entrada até a grande porta, abrindo-a e se deparando com uma pequena caixa escrito "Blair" em letras garrafais. O segurança se ajoelha e abre a caixa, revelando algo menor do que o recipiente, um bebê recém nascido enrolado em um cobertor.

O homem fica assustado, gritando pela ajuda das freiras que cuidavam do orfanato. Enquanto o socorro chegava, o segurança pega a criança e a enfia dentro do seu casaco e a leva para dentro.

As freiras descem correndo as escadas, esperando por algum acidente, mas quando observam o fato se acalmam.

— Isso é normal, pelo menos uma vez a cada cinco anos — A senhora responde pegando o bebê no colo — Pelo menos dessa vez os pais se importaram em nomear a criança.

— E o que fazemos agora?

— Cuidamos da criança, ora. Somos um orfanato.

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O bebê cresceu e se tornou uma menina com cabelos castanhos escuros, lindos olhos da mesma cor e uma pele clara. Com a idade outras coisas se desenvolveram além de sua aparência, tudo começou quando ela tinha apenas dez anos.

Blair estava sentada no balanço, desenhando na areia do chão com seu sapato, as freiras ficavam nervosa com a sujeira depois, mas ela não se importava. O orfanato ficava numa pequena cidade do interior e possuíam um grande terreno. A criança adorava descansar no grande jardim que ficava na parte de trás, e em um desses momento um grupo de meninas surgiram, gritando para ela sair de lá.

— Saí daí, garota! — A mais velha fala — Esse lugar é meu.

Blair ignora e começa a se balançar, o que não agrada as meninas.

— Saí daí! — A mesma menina novamente diz e empurra Blair para fora do balanço.

Blair grita ao cair no chão, e pela primeira vez sente sua ira se transformar em algo mais. Ela se volta para a garota e instintivamente estende sua mão, que estava sangrando por conta do impacto, querendo dar um tapa nela, mas a garota é levada para trás fortemente, como se algo a estivesse empurrando, mas não havia ninguém fazendo isso.

Blair fica assustada, todas as garotas olham para ela com medo. Ela tinha feito isso, havia sentido algo saindo de suas mãos e fluindo por todo o seu corpo, e totalmente fora do seu controle.

— Você não é normal... — Uma das garotas fala depois de socorrer a amiga — Você é uma aberração.

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Depois desse incidente os nomes começaram, gritavam "aberração" em seu ouvido, puxavam seu cabelo nas aulas, seus amigos se afastaram. Isso apenas a deixou no limite, ocasionando mais acidentes.

Um cabelo puxado resultava numa janela quebrando, um xingamento em um livro voando.

Blair vivia triste e sozinha, além disso com medo de si mesma. Ela não sabia do que era capaz, observava sua mão com receio do que não via.

Pela televisão via o Homem de Ferro lutando, via notícia de um deus nórdico, um homem congelado com força super-humana, um cientista com um mostro verde dentro de si. E na sua mente ela pensava, talvez ela fosse mais como eles do que ela era com as pessoas ao seu redor.

O maior acidente então aconteceu, Blair tinha apenas treze anos, mas já fazia quatro anos desde que suas habilidades apareceram. Ela estava na sala de estudos lendo um livro quando ouve umas meninas a xingando de longe.

Já estava cansada e resolve apenas ignorar e ir ao banheiro. Ela entra numa cabine do banheiro e senta no vaso, apenas querendo descansar em paz, quando ela sente um monte de lixo a atingindo por cima.

Blair não conseguia pensar claramente, o desespero por conta do susto bloqueava sua mente. Ela sente o poder saindo dela e fora do seu controle, ouve o vidro e as pias estourando, as meninas que fizeram isso com ela começam a gritar e sair correndo do banheiro.

Blair ainda estava dentro da cabine, chorando e limpando seu corpo, mas quando finalmente sai de lá vê o que havia feito.

Todas as janelas haviam estourado, cacos de vidro para todos os lados, as piam jorravam água e sangue jazia no chão. Blair olha para a direita e vê uma das meninas tentando estancar o sangue que saia de um corte profundo causado por um caco de vidro, outras meninas tinham cortes no rosto e em outras partes do corpo.

Elas sobreviveram, mas a notícia se espalhou.

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Uma freira a acorda durante a noite, pedindo para que se trocasse em silêncio para não acordar as outras garotas. Blair faz tudo isso roboticamente, com seus olhos cansados e o corpo ainda lento por ter sido despertado contra a sua vontade. Ela saí do quarto e desce as escadas, encontrando no fim do corredor um homem carregando uma mala ao lado da mesma freira que havia a acordado.

— Você foi adotada, Blair — Ela diz com um voz trêmula.

Algo está errado. Blair pensa vendo as roupas do homem, um tipo de uniforme escuro, e na sua manga um símbolo de uma caveira com oito tentáculos.

A criança para no fim do corredor, não querendo se aproximar dele, seu corpo começa a tremer e sente está perdendo o controle novamente. O homem começa a andar em sua direção e ela vê os quadros do corredor tremendo. Não sabia se concentrava para parar com seus poderes ou os piorava para não deixar o homem chegar até ela.

Então, a garota resolve controlar seus poderes para fazerem o que ela queria, no caso, impedir que aquele homem chegasse até ela. Blair estende sua mão e imagina uma barreira entre ela e o homem de preto, focou nisso até ver o homem tentando andar em sua direção e não conseguindo, como se algo o puxasse para trás.

Ela não via nada saindo de sua mão, mas sentia uma pressão saindo dela e indo até aquele homem. Queria sorrir por finalmente conseguir fazer o que queria com seus poderes, mas no outro instante sente uma agulha sendo cravada em seu pescoço.

A visão fica turva, seu corpo pesado. Tudo vai ficando preto e perde as forças para permanecer em pé.

Estava indo e sabia de apenas uma coisa: seu mundo nunca mais seria o mesmo.

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