Capítulo Trinta e Um

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Eu odiava quem eu estava sendo, odiava o modo como agia e como eu pensava. Odiava o fato de não estar mais sendo forte e indiferente como a Amber Bennet de semanas atrás. Era patético estar apaixonada. Eu não sabia para onde transferir aquele sentimento, só queria socar alguma coisa.

Eu nunca senti ciúmes, nem mesmo quando Gabriel me traiu. Aquilo só havia sido raiva, talvez nojo. Mas agora... Eu estava sentindo ciúmes. Como Jason falou comigo, como ele me empurrou e me rejeitou. Como deixou claro que não queria que eu estivesse ali, que não era eu quem ele queria por perto. Sua voz, o modo como estava completamente alterado, como se só o fato de eu tiver aparecido fosse o suficiente para ser humilhada.

Era patético!

Faltavam pouco mais de seis meses para o fim de um ano que eu nem mesmo queria que tivesse começado. E eu estava presa a isso, estava fadada a ser torturada todos os dias, durante suas aulas infinitas. Eu não ia suportar.

Pisquei algumas vezes e parei de rabiscar o caderno, quando ouvi a porta da sala. Não olhei para frente, eu sabia que era ele. Ao invés disso, eu virei a página no caderno e comecei um novo desenho. Já era a terceira aula e logo acabaria, eu só precisava ter paciência.

Sua voz, alta e clara, começou a discursar pela sala. Ele falava como quem não estivesse nem um pouco preocupado em dar satisfação, irritantemente seguro e egocêntrico, acabou fazendo com que eu quebrasse a ponta do lápis depois de tanto apertá-lo contra a folha. Respirei fundo algumas vezes, saindo do sério só em estar na mesma sala então, por impulso, eu me levantei. Não me atrevi a olhar em sua direção, mas percebi que ele parou de falar. Suspirei antes de bufar e sair da sala. Já sentia as lágrimas arderem em meu olhos quando o ouvi atrás de mim, no corredor.

—Bennet?

Parei de andar e fechei os olhos, me obrigando a ser a mesma Amber indiferente e irônica de sempre. Me virei e, pela primeira vez no dia, olhei para ele. Meu coração se contraiu no peito por Jason ser tão descaradamente bonito. Era irritantemente bonito e isso, de certa forma, quebrava ainda mais o meu coração.

—Você está bem?

Não consegui responder. Apenas continuei encarando seu rosto Pacífico. Como Jason podia estar tão tranquilo com aquilo? Como podia estar achando que, depois de me afastar, eu ainda iria estar de braços abertos?

Ele se aproximou alguns passos, não ficando tão próximo já que algumas pessoas estavam no corredor. Seu rosto estava melhor do que no domingo, quando fui até sua casa. Ele parecia relaxado, apesar de curioso.

—Quer ir pra minha casa depois daqui? —Sua voz era baixa o suficiente para que só eu escutasse.

Aquilo foi o bastante para perceber que Jason não vazia ideia do que eu estava sentindo. Não imaginava que fosse me incomodar tanto ser rejeitada e humilhada como fui, por uma mulher que parecia ser, àquela altura, mais importante do que eu.

—Vai pro inferno! —Falei, antes de me virar e sair.

A partir de agora, eu não queria trocar nem um par de palavras com esse babaca.

***

Só que foi ao contrário do que pensei que seria. Imaginei que ele teria entendido o recado e se mantido longe, mas não o fez. Ao invés de se afastar, Jason estacionou o carro na porta da minha casa, antes mesmo que eu pudesse entrar. Me virei quando ouvi o barulho do pneu, ao vê-lo freiar.

Por sorte a minha mãe ainda não estava em casa.

Jason saiu do carro, batendo a porta e eu tentei me apressar ao encontrar a chave para poder entrar em casa. Não queria falar com ele, não queria prolongar ainda mais aquele sentimento desesperador no meu peito.

—Que diabos está havendo? —Sua voz era alterada. Não de um jeito arrogante e sim preocupado.

Revirei os olhos, finalmente encontrando minha chave.

—Eu estou falando com você. —Insistiu e, mesmo assim, permaneci calada —Sabe o quanto é arriscado você ter me feito vir até aqui, Bennet?

Foi o bastante para me tirar do sério.

—Eu não te pedi para estar aqui, porra! —Gritei, sabendo que não tinha nenhuma platéia.

—Mas era isso o que queria, não era? A minha atenção!

Minha boca formou um "O" em completa surpresa. Como ele ousa?

—Vai se foder, Jason. Some daqui!

Ele sorriu e apoiou as mãos na cintura.

—Já entendi tudo, Bennet. Você se cansou.

—É, você tem razão. Eu me cansei! Me cansei de você e me cansei dessa merda toda, Jason. Agora sai daqui!

Apesar de esperar raiva vindo dele, Jason apenas me olhou. Ele encarou meus olhos por minutos infinitos, daquele modo intenso que só ele sabia fazer. Meu coração vacilou uma batida, querendo por um segundo que a situação fosse outra. Seus lábios se entreabriram para mim, convidando-me a prová-los. Mas agora eu sabia que era um jogo, era tudo um jogo para Jason Smith.

Ele se aproximou alguns passos, mas eu coloquei a mão na frente.

—Preciso de um minuto. —Disse, rapidamente me lembrando da palavra de segurança que ele mesmo havia criado quando eu quisesse que ele parasse.

E ele parou.

Seus olhos agora estavam apreensivos. Ele suspirou e esfregou o rosto. Algo estava o incomodando e doía ainda mais saber que ele não fazia nem ideia do motivo e estrago que tinha feito em mim.

—Você realmente não faz noção do que se trata, não é? —Meu tom agora era dolorosamente baixo então, não querendo mais prolongar a conversa, eu empurrei a porta —Não se preocupe comigo saindo da jogada, Jason. Acho que você já tem uma peça nova no tabuleiro.

Seus olhos se arregalaram levemente, primeiro surpresa e depois compreensão.

Entrei e bati a porta, deixando minhas coisas no sofá.

Passaram-se alguns minutos antes que eu ouvisse Jason ligar o carro e dar partida. Fui até a janela, só para ter certeza de que ele já tinha ido embora e, depois de comprovar, desejei muito que aquele dia nunca tivesse começado. Ou que Jason nunca tivesse aparecido. Talvez assim, de certa forma, eu ainda seria eu.

***

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Enlouquecendo Jason SmithOnde histórias criam vida. Descubra agora