Capítulo Quarenta e Nove

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Eu nunca pensei na possiblidade de estar ao lado de alguém pisicológicamente afetado. Júlia era um bomba relógio, poderia explodir a qualquer momento e eu estava presa em um cubículo com ela.

Tudo vinha na minha cabeça de uma só vez: E se eu nunca mais pudesse ver a minha mãe? E se eu nunca mais conseguisse ouvir a risada estérica de Phoebe ou sentir os braços quentinhos do Noah? E se eu nunca soubesse como é acordar ao lado de alguém que amo todas as manhãs, dizer seu nome em pequenos gemidos todos os dias durante o banho?

No momento, depois de todas essas horas atada em uma cadeira fria de metal, eu só precisava de uma brecha para conseguir escapar daquele inferno em que estava presa.

Depois do que pareceram horas, Júlia finalmente se afastou. Até então ela havia se sentado em uma cadeira, analisando-me por inteira sem ao menos piscar. Confesso que sentia um pouco de medo do que ela poderia ser capaz de fazer, já que agora não tinha como voltar atrás. Observei suas pernas longas levando-a para longe em poucos segundos. Ela agarrou o óculos de sol e depois uma mochila de couro marrom. Se virou para mim e encheu o pulmão com ar.

—Vou trazer algo para comer, não quero te matar antes da hora. —Seus olhos se arregalaram em divertimento antes de bufar —Gosta de sanduiche?

Quando percebeu que eu não responderia, ela revirou os olhos.

—Não devo demorar, e você não tente fazer algo imprudente, garota. Não tem como escapar daqui sem a chave e infelizmente pra você —Ela levantou algo prateado e sorriu —Estou com ela.

Depois de me encarar por mais alguns segundos, Júlia se virou e saiu. Só consegui reagir depois de ouvir o barulho de seu carro dando partida ao lado de fora.

O lugar em que eu estava tinha pouca luz, talvez estivesse amanhecendo, pois algumas rajadas de sol entravam pelos pequenos circulos na janela de vidro. Apesar de completamente vazio, além da cadeira onde eu estava sentada, a cadeira de Júlia a minha frente e as correntes enferrujadas no canto da parede, eu sabia que não estávamos tão longe da cidade. Podia ouvir ao longe o trânsito que aos poucos ia ganhando vida.

Olhei para minhas mãos, cada uma delas estava amarrada com pelo menos três tipos de diferentes. Júlia estava tomando cuidado para que eu não me soltasse. Meus pulsos estavam vermelhos e levemente inchados por causa do atrito com a pele, mas já tinham parado de arder a algumas horas.

Respirei fundo antes de puxar as mãos para trás na intenção de que elas escorregarem para fora da corda. Mas foi em vão. Tentei isso por mais alguns segundos antes de perceber que seria inútil.

Depois de respirar fundo algumas vezes, visualizei o lugar tentando ter mais clareza do que já tive desde que cheguei. Queria algo que pudesse alcançar e, com isso, escapar dali. Mas não havia absolutamente nada, Julia tinha sido cuidadosa quanto a escolha do lugar. Vendo que não tinha como escapar, eu enchi meus pulmões o máximo que consegui e gritei o mais alto que pude. Gritei por socorro, por qualquer um que estivesse passando por perto. Gritei por Jason, pelos meus amigos e até mesmo pela minha mãe, mas a única resposta foi o eco desesperado da minha própria voz.

Talvez eu devesse me acostumar com a idéia de que, bem provavelmente, eu nunca mais veria nenhum deles. Com lágrimas escorrendo pelo rosto e a respiração desregulada, fechei os olhos e visualizei o rosto das pessoas que eu mais amava. Era a única coisa que me confortava naquele fim de mundo.

***

**Jason**

Por sorte eu tinha um amigo na delegacia da cidade. Ele não era bem um policial, se saia mais como um guarda de trânsito, mesmo assim foi de grande valor para a minha busca. Graças a seus contatos, a polícia se envolveu no caso de recente desaparecimento de Amber Bennett. Passei para eles o máximo de informação sobre Júlia e lhes entreguei uma foto dela, assim poderiam saber a quem procurar. Logo a polícia estava pela cidade na procura de qualquer que fosse a chance de prendê-la e recuperar o amor da minha vida.

—Ainda não acredito que isso está acontecendo. —Phoebe falou depois de voltar para a sala. A poucos minutos havia levado Anna para que pudesse descansar um pouco no quarto.

—Realmente é algo difícil de assimilar, mas aconteceu. —Suspirei e esfreguei o rosto —Como está ela?

Phoebe suspirou e se sentou no sofá, os braços apoiados contra os joelhos.

—Acabada, cansada, triste e irritada... mas dormiu em poucos segundos, coitada.

—Ela não merecia passar por isso. —Noah falou, tinha acabado de chegar com três xícaras de café. Me entregou uma e depois entregou a outra para Phoebe —A Amber realmente não merecia passar por isso. Espero que ela esteja bem.

—Ela é forte como um touro, vai ficar bem. —A garota de cabelos pretos falou como se precisasse acreditar em suas próprias palavras.

Nesse momento o meu celular começou a tocar. Não pensei duas vezes antes de levá-lo aos ouvidos e, nervoso, atender sem ao menos verificar a tela.

—Que rápido. —Júlia disse ao meu ouvido.

Apertei os dentes em pura irritação, tomando cuidado para não irritá-la com o ódio crescente que estava sentindo naquele instante. Ao invés disso eu respirei fundo e coloquei no viva-voz para que Phoebe, Noah e um dos policiais que ainda estava na casa, ouvissem.

—Não acha que essa brincadeira está indo longe de mais, Júlia?

—Acho que só está começando, querido. Vamos lá, tenha ânimo. —Houve um riso sínico antes de ela voltar a falar —Nos encontraremos em breve.

—Me deixe falar com ela. Quero me certificar de que está bem.

Um silêncio se instalou na sala e, quando pensei que ela não diria mais nada, sua voz veio cortante.

—Você só se preocupa com aquela tripa seca, Jason? Tudo o que estou fazendo é por nós e você só se preocupa com essa garota sonsa?

Olhei para o policial na intenção de que ele me dissesse o que fazer, porém soube no mesmo instante em que ele assentiu, incentivando-me.

—Se fizer algo com ela vai sair prejudicada. Como podemos ficar juntos com você atrás das grades, hein?

—Se eu fosse você não zombaria da minha inteligência, Jason. Na próxima vez que eu ligar, quero um pouco mais de sinceridade. Tchauzinho amor.

Antes que eu pudesse responder, a linha ficou muda e naquele mesmo instante a porta da sala se abriu e por ela dois policiais entraram, seguidos pelo detetive. Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça surrada e sorriu, antes de se aproximar mais.

—Nós a encontramos.

Enlouquecendo Jason SmithOnde histórias criam vida. Descubra agora