Capítulo Trinta e Sete

4.3K 334 69
                                    


Já fazia um pouco mais de três horas que a minha mãe havia saído de casa. Ela me escutou pacientemente e depois simplesmente saiu porta afora em meio a noite e não atendia a nenhuma das minhas ligações ou retornava às minhas mensagens. Noah e Ebe tinham vindo até a minha casa para ver se tudo estava bem e depois foram embora, quando insisti que queria ficar sozinha.

Quando eu me toquei do único lugar que fosse possível a minha mãe ir com tanta fúria, eu me levantei e corri para a garagem pegando minha bicicleta para ir até a casa de Jason, mas antes que eu pudesse chegar até a rua, minha mãe estava descendo de um táxi. Ela tinha o olhar baixo e o nariz avermelhado.

-Mãe? -Deixei minha bicicleta de lado e corri até a porta -Onde você estava? Eu te liguei...

-Meu celular não estava comigo. -Foi a única coisa que ela falou antes de entrar em casa, deixando a porta aberta para que eu entrasse.

Hesitei por alguns segundos e entrei atrás dela.

-Onde você estava? O que houve?

Minha mãe parou na frente da escada e se virou para mim. Caminhou lentamente até parar na minha frente e então alisou a minha bochecha. Seus olhos estavam cheios e serenos.

-Tudo vai ficar bem agora, meu amor.

Então, com um sorriso fraco, ela deixou um beijo na minha testa e pegou sua bolsa, subindo os degraus lentamente.

Fiquei olhando seu corpo magro enquanto fazia seu caminho até o quarto e senti um aperto no peito. Tudo vai ficar bem agora, meu amor. O que ela quis dizer com aquilo?

A única coisa que conseguia pensar, era em ligar para Jason. Fui até o sofá pegando meu celular e discando o número dele. Foram quinze chamadas que caíram direto na caixa postal... Várias mensagens que ele não respondeu. Não conseguia pensar em outra coisa que não fosse ele em apuros por algo que eu tinha a completa culpa.

Queria ir até lá, queria conferir com meus próprios olhos se ele estava bem, se minha mãe havia chamado a polícia ou feito algo pior. Não consegui me conter e abri a porta, disposta a ir até o inferno para saber se ele estava bem.

-Você não vai sair de casa, Amber. -A voz da minha mãe veio alta e cortante -Está de castigo.

Fechei os olhos por um breve momento e me virei para ela.

Minha mãe estava no topo da escada vestida em sua camisola de flamingos. Seus braços estavam cruzados na frente do corpo e, apesar do tom áspero, seu rosto era pacífico.

-Você não me disse onde foi, mamãe. Eu estou preocupada com... Preciso saber se ele está bem.

Suas sobrancelhas se ergueram e ela sorriu antes de descer as escadas.

-Você não pode saber, filha. Fique tranquila, já falei que cuidei disso.

-Sim, você falou. Mas o que isso significa? -Passei as mãos pelos cabelos, confusa - Você o denunciou? Você o machucou? Eu só quero saber se ele está bem!

Ela pegou um copo do armário e encheu com água, depois bebeu e o posicionou novamente na pia.

-Eu sou a sua mãe, Amber...-Seus olhos se levantaram e me analisaram -É o meu dever te proteger e foi isso oque eu fiz.

Franzi a testa, sentindo meu corpo em estado de pânico.

-O que quer dizer com isso?

-Exatamente o que eu disse. -Ela passou as costas da mão sobre os lábios e suspirou -Vá se deitar, amanhã você precisa acordar cedo.

Então minha mãe se virou e voltou a subir os degraus.

-Preciso ir até...

-Tranque a porta e vá se deitar! -Sua voz era áspera e vazia, me fez arrepiar.

Respirei fundo depois que ela sumiu nos degraus acima e fiz o que mandou.

Eu saberia sobre Jason no dia seguinte... Eu precisava.

***

Eu nem havia conseguido pregar os olhos a noite. Estava esperando pelo menos receber uma mensagem de texto de Jason, mas nem isso eu tive.

Me levantei da cama às cinco da manhã e já fiquei pronta para a escola. Andava de um lado para o outro e me assustei quando o alarme do relógio disparou mostrando que já era seis da manhã. Peguei minha mochila e desci correndo os degraus.

Parei de andar quando vi que minha mãe estava sentada de frente a bancada com um copo de suco de manga nas maos. Olhava pela janela da cozinha como se esperasse algum tipo de praga atacar a cidade. Respirei fundo e continuei meu caminho.

-Estou indo. -Falei passando por ela.

-Eu vou te levar.

Parei de andar e me virei. Seus olhos ainda encaravam a janela e seus dedos batucavam baixo no mármore da bancada.

-Eu vou ir com o Noah.

-Você vai ir comigo. -Ela finalmente olhou para meu rosto e desviou os olhos rapidamente, como se doesse ter que olhar para mim -Sente-se e tome o seu café, ainda temos bastante tempo.

-Não estou com fome, eu...

-Não vai me fazer mandar de novo, vai? -Ela me interrompeu.

Pisquei algumas vezes, surpresa. Eu nunca a tinha visto daquela forma em toda a minha vida... Questionável, intimidadora e complexa.

Deixei a mochila no sofá e me servi com suco.

-Saímos em trinta minutos. -Ela falou antes de se levantar em um solavanco e subir as escadas.

Deixei o copo sobre a pia e fechei os olhos, contendo a vontade de chorar. Eu não sabia absolutamente nada sobre o que estava acontecendo ao meu redor. Não sabia se Jason estava bem, não sabia se a minha mãe ficaria bem... Tudo isso era a minha culpa e eu tinha estragado tudo.

Digitei mais algumas mensagens para Jason e como todas as outras, ainda não tive resposta. Meia hora depois, minha mãe voltou com a chave do carro nas mãos e seu uniforme de enfermeira. Ela pegou sua bolsa e abriu a porta da garagem, em silêncio.

Depois de uns minutos ela estacionou em frente a escola. Abri a porta querendo correr para a sala e conversar com Jason, mas sua voz me fez parar.

-Você ainda está de castigo, Amber. Quando a aula terminar, vá direto para casa.

Engoli em seco e assenti, antes de descer do carro.

Noah e Ebe me esperavam na porta e tudo o que consegui fazer, foi abraça-los em silêncio. Quando nos afastamos, eles me olharam na esperança de que eu dissesse algo, mas eu não consegui. Apenas corri para a sala que ainda estava vazia.

Quando os alunos preencheram a sala de aula, apertei o lápis nos dedos. Eu estava nervosa, não sabia o que Jason diria, ou se ele diria algo. Eu só sabia que a minha mãe tinha ido até sua casa noite passada e, por causa disso, ele não queria me atender ou responder as minhas mensagens.

Quando finalmente o professor entrou na sala, todo o meu pensamento evaporou. Eu não conseguia mais pensar em nada, ou fazer nada... Jason não tinha ido, ele não estava ali.

Enlouquecendo Jason SmithOnde histórias criam vida. Descubra agora