Capítulo Um

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Outro ano estava começando na minha escola. Dessa vez, era o meu último. Eu já podia sentir os dias mais alegres e as árvores mais coloridas. Os pássaros cantarolavam enquanto eu pedalava para a escola. Inspirei o ar, não tão seco e nem tão úmido, da cidade e sorri para um casal de idosos sentados em um banco perto da praça.

Geralmente eu não começava o ano tão bem. Mas saber que eu só precisava de trezentos e sessenta e cinco dias pra poder me formar, consolava todo o meu mal humor.

Deixei minha bicicleta amarela no estacionamento, passei o cadeado envolta dela e peguei o celular da bolsa.

Mandei um SMS rápido para Phoebe, minha melhor amiga, e subi os cansativos degraus até a entrada da escola. Avistei Noah e corri para abraça-lo.

Noah era alto, talvez um e noventa. Tinha cabelos lisos e médios, castanhos Dourados e olhos encantadoramente azuis. O clássico jogador famoso da escola. Ele morava de frente a minha casa desde que éramos pequenos, o que acabou fazendo com que virássemos grandes amigos. Ele não estava na cidade durante as férias de verão e vê-lo me deixou muito feliz.

—Não tinha notado o quanto senti falta desse seu moletom horrível. —Ele brincou, quando passou o braço pelos meus ombros, me puxando para abraça-lo.

Noah é do tipo galinha, arrazador de corações e todos esses títulos de alguém tão bonito e sedutor... Mas ele era um cara legal e respeitava as mulheres, acima de tudo. Se não fosse pelas nossas famílias serem amigas, com certeza nunca iríamos ter sido amigos também. Éramos de mundos completamente diferentes.

—E esse seu cheiro de suor com músculos, argh! —Retorci o nariz e observei ele sorrir.

—Suor com músculos? Essa é nova.

—Ei, pode soltar minha amiga? —Phoebe disse atrás de nós.

Me virei para ela e sorri ao ver suas roupas. Ela sempre foi bem exótica e naquele momento estava vestindo meias de zebras e um vestido azul claro. Seus cabelos cor de mel estavam presos em dois coques laterais e seus olhos verdes estavam contornados com lápis preto.

—Ebe! —A abracei e sorri quando ela deu uns pulinhos no meu abraço.

—No fim desse ano, quero todos nós indo para a maior festa de todas. —Noah disse, quando nos afastamos.

—Geralmente eu não iria em uma festa com você, querido. —Phoebe respondeu —Mas eu posso abrir uma excessão para o último ano.

—Sim, vamos fazer a maior de todas  —Concordei e suspirei, imaginando como aquele ano iria ser bom.

—E depois faculdade  —Noah suspirou.

—Não sei porque está tão aflito —Phoebe disse — você, mais do que ninguém nessa escola, já tem o futuro garantido. Suas notas e a posição no time... Você é um puta sortudo.

—Eu não quero fazer faculdade, Phoebe e você sabe disso. Já falei milhões de vezes.

—É, você quer seguir a carreira de merda nenhuma... Que desperdício!

—Vá se danar.

—Qual é, gente. Primeiro dia de aula e vocês já estão brigando? —Falei, puxando os dois e entrelaçando meus braços aos deles —Vamos, estou doida pra ver a professora Fernandez.

Professora Fernandez.

Ela era prima distante da minha mãe. Era a nossa professora desde o primeiro ano e sem dúvidas era a melhor professora de todos os tempos. Ela tinha dito que pegaria a nossa turma esse ano, o que quer dizer que minhas notas também estavam garantidas. Eu era a aluna de ouro dela. Até mais que Noah.

Chegamos a nossa sala, alguns alunos já estavam lá. Ocupamos nosso lugar de sempre, o fundo. Noah começou a conversar com alguns caras do seu time de futebol e eu me sentei na mesa, conversando com Phoebe.

—Meus pais finalmente estão se separando, eu finalmente estou no último ano e consegui o emprego na lojinha do Prettys. É um sonho? —Minha amiga sorriu.

—Ei, com quem você vai morar agora que seus pais estão se separando? —Perguntei.

—Bom, querida Amber, meu pai é um fanático pelo trabalho, não teria tempo nem de um jantar em casa, o que seria perfeito já que eu teria a casa toda pra mim. Mas eu não suportaria todas aquelas mulheres entrando e saindo e me chamando de pequena Ebe. —Ela revirou os olhos, me fazendo soltar uma gargalhada—E a minha mãe é uma alcoólatra romântica e um pouco depressiva. Não sairia de casa nem se ela estivesse pegando fogo, porém não fica me enchendo o saco e tentando me controlar. Além do mais, ela pode ser uma mala, mas ainda é a minha mãe. Vou ficar e cuidar dela... Já que o otário do meu pai não deu conta de fazer isso.

A Ebe podia parecer durona, mas ela já tinha passado por muitas coisas difíceis. Sua família já esteve a beira de perder a casa, coisa que a minha família ajudou com o pouco que tínhamos, mas seu pai já devolveu o dinheiro quando se reergueu na empresa que criou a dez anos. Phoebe também já foi abusada a alguns anos atrás pelo irmão de sua mãe e fez um longo tratamento psicológico. Ela já era doida antes, mas agora ela era completamente maluquinha. E eu a amava e faria de tudo por ela. Sempre.

—É uma boa escolha. —Falei.

—É a única que me resta. —Sorriu.

Nesse instante, o restante dos alunos adentrou a sala, seguidos por um homem alto e atraente.

Ele tinha uma aparência bruta, mas era jovem. Não parecia um aluno, nem um professor, apesar de estar carregando uma grande pasta preta. Seus cabelos eram bem cortados e escuros, olhos expressivos e aparentemente verdes e uma carranca de quem acordou do outro lado da lua.

Suspirei e me sentei na cadeira, atrás de Phoebe. Ela me olhou, franziu as sobrancelhas e olhou para Noah que também parecia perdido, assim como todos na turma.

—Bom dia, alunos. —O homem falou, na frente da sala.

Ele pegou um pincel no quadro e o rabiscou.

Jason Smith.

—A professora Fernandez se mudou para o sul da América, o que significa que está sendo substituída por mim. —Ele continuou.

—Ah, não. —Praguejei, baixo.

A professora Fernandez era sem dúvidas a minha única salvação esse ano. Sem ela, minhas notas nunca iríamos decolar.

—Eu acabei de me mudar da Austrália, me formei a três anos e agora serei o professor de história de vocês durante o ano inteiro. Alguma pergunta?

Todos ficaram em silêncio, mas eu, levantei a mão.

Jason me olhou curioso e apesar da pequena carranca ainda aparente, levantou os lábios em um pequeno sorriso.

—Como se chama? —Perguntou.

—Amber Bennet. —Respondi.

—Estou ouvindo, Amber Bennet.

Estreitei os olhos pelo quão lento meu nome se arrastou de seus lábios e falei:

—A professora Fernandez tinha um projeto com alguns alunos e disse que seguiria com ele esse ano. Algo para nos ajudar com as notas. Você vai continuar com esse projeto?

O professor me olhou por mais alguns segundos antes de rodear a mesa e se sentar na ponta, elegantemente.

—Acredito que a professora antiga de vocês gostava de agradá-los. Eu, por outro lado, gosto de ver como vocês se saem sem uma estrutura pra facilitar suas vidas. —Ele passou os olhos pela turma e os pousaram em mim novamente —Assim como eu fui ensinado um dia, vocês também serão. Não facilito a vida de ninguém, aqui é cada um por si. Se tiverem alguma dúvida, estarei aqui para ajudar. Mas se quererem ganhar nota de graça, não contem comigo.

Respirei fundo e bufei.

Eu estava ferrada.

***

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Enlouquecendo Jason SmithOnde histórias criam vida. Descubra agora