Capítulo Trinta

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Jason havia me dito que, supostamente, Cíntia já devia estar em casa, mas não estava. Na segunda feira seu lugar na frente estava vazio. Jason também não apareceu, deixando uma aula vaga.

Eu estava me sentindo tão tola, como se precisasse procurar outra explicação para o que vi na noite passada, mas não encontrei uma coerente.

Ele estava com uma mulher com aparentemente a sua idade e não me queria por perto. O irônico é que ele devia estar se achando o rei da cocada preta, tendo duas mulheres para esquentar a sua cama. Mas eu não daria este gostinho àquele babaca. Não alimentaria seu âmago, não aumentaria seu ego.

Phoebe e Noah nem perceberam meu estado de espírito decaído. Não me perguntaram mais do que um par de palavras, sobre porque Jason havia faltado. Achei ótimo não terem questionado, era capaz de eu usar a minha arrogância como sempre fazia quando não queria mostrar como estava me sentindo.

Decidi ir até o hospital onde Cíntia havia sido transferida, o lugar que a minha mãe trabalhava como enfermeira. Comprei um balão de ar vermelho com um sorriso alegre e procurei pelo quarto de Cíntia. O espaço estava enfeitado com flores, cartões e alguns doces, como se ela já tivesse recebido visita o suficiente. Havia também uma agulha em sua veia que estava ligada a um líquido amarelado. Ela estava com os olhos fechados, mas os abriu assim que eu bati duas vezes na porta.

A primeira coisa que vi neles foi a mais pura surpresa, depois ela apertou um botão na lateral da cama que a deixava mais ereta.

-Amber? -Seu tom era também de surpresa.

Respirei fundo e adentrei o quarto, levando o balão até a ela.

-Eu iria comprar flores, mas acho que só servem para pessoas mortas, então... -Apontei para o balão.

Ela me observou por um segundo antes de sorrir e segurar a cordinha prateada que a pouco eu estava segurando.

-Obrigada. Ele é bem bonito.

Hesitei um pouco antes de continuar, era uma situação bastante engraçada. Eu nem sabia exatamente porque estava ali.

Sabia que tinha me preocupado pra caramba. Nós costumávamos ser amigas e passamos um bom tempo juntas antes de ela ter feito aquilo, então acho que todos os meus sentimentos e hormônios de adolescentes estavam à flor da pele naquela época.

-Como está se sentindo?

Ela prendeu o balão na cabeceira da cama e se ajeitou, dando de ombros.

-Eu estou tomando remédio para controlar a dor na perna, de quando cai por cima dela. Mas felizmente foi só um hematoma, eu não quebrei nada.

-Essa é uma ótima notícia, am... Então você não deve ficar aqui mais por muito tempo.

-Estou em observação, devo voltar pra casa logo.

Assenti e sorri, me sentindo melhor em ter mostrado preocupação. A Cíntia podia ser tudo, mas ainda era um ser humano e não merecia ter tido sua vida em risco como aconteceu.

-Amber, já que você está aqui eu preciso falar uma coisa.

Olhei para ela quando segurou minha mão. Nunca, nem em outra vida, teria aceitado aquele ato como agora.

Mas eu não me sentia mal com isso.

-Sobre o Gabriel, naquele dia...

-Não, por favor. -Pedi.

Não queria me lembrar da cena onde meu ex namorado estava se esfregando nela. Gabriel foi o único cara que eu gostei de verdade, antes de Jason. Apesar de não nutrir mais sentimentos por ele, me lembrava a idiota que eu tinha sido e o quanto tinha sofrido por ele. Ainda era dolorido.

-Eu preciso, Amber, talvez nem tenha outra chance de falar. -Insistiu.

Respirei fundo e assenti, olhando para nossas mãos juntas.

-Eu nunca teria feito algo que magoasse você, Amber. Éramos como irmãs e por isso eu fiquei com medo de te contar quando o Gabe começou a dar em cima de mim. -Fechei os olhos, balançando a cabeça -Aquele beijo não durou mais do que três segundos antes de você nos ver. Foi ele quem me beijou, eu não retribui, só fiquei surpresa de mais e não consegui raciocinar antes de afasta-lo.

-Cíntia...

-Me deixa falar.

Fiquei em silêncio, querendo muito que ela não tivesse tocado no assunto.

-Eu tinha inveja de você. -A olhei, surpresa enquanto a via sorrir -Eu sei, é patético. Quero dizer, nós éramos amigas e eu sempre fui mais bonita.

Não contive o riso quando ela revirou os olhos e riu também.

-Mas é sério, Amber. A única razão por eu ter sido essa vadia sem coração depois do que aconteceu, foi culpa. Eu tinha vontade de me desculpar, de te explicar o que aquilo tinha significado oque, como você pode ver, não foi nada. Mas também tinha orgulho, então acho que é uma boa hora de pedir perdão.

Eu a conhecia, sabia que ela estava sendo sincera. Havia me esquecido como era tranquilo quando estávamos juntas, apesar dela ter deu jeito único de querer atenção.

Mas essa era ela e eu não achava que alguém tinha o direito de muda-la.

Sorri, balançando a cabeça.

-Claro, eu te desculpo. -Falei, sincera -Eu só não sei se consigo abraçar, tipo, ainda sobrou um pouco de ranço.

Sorri em meio a sua gargalhada e, pela primeira vez em anos, senti meu coração leve.

-Acho que agora eu posso soltar a sua mão.

-É, tá ficando estranho. -Sorriu.

Permaneci no hospital por mais alguns minutos antes de lhe desejar melhoras e voltar pra casa.

Quando eu peguei a chave da bolsa para abrir a porta de casa, meu celular vibrou. Olhei na tela um número que mesmo não estando salvo na agenda, eu conhecia. Desliguei antes de empurrar a porta e entrar.

Eu só precisava de um banho e alguns minutos de sono. Minha cabeça estava quente como o inferno.

***

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Enlouquecendo Jason SmithOnde histórias criam vida. Descubra agora