Capítulo Cinquenta

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Eu nunca senti tanto medo na vida quanto estava sentindo naquele mesmo instante. Saber que Amber pudesse estar ferida ou pelo menos sozinha em um lugar sujo e escuro fazia cada parte do meu corpo reagir com pânico. Apesar de terem a encontrado, eu ainda estava sentindo como se tudo fosse desmoronar, como se a qualquer momento fossem me dizer que era um engano, que não tinham notícias dela, que seu paradeiro era desconhecido.

Mas graças a um casal de corredores que passava por aquele lugar fedido justo na hora em que Amber gritava por socorro, eu a poderia ter nos braços novamente.

Bastou um par de horas para que ela estivesse sentada na cadeira fria e dura da delegacia, um cobertor sobre os ombros e o rosto sujo com poeira e alguns vestígios de sangue seco. Seus olhos subiram lentamente até os meus e em um instante ela estava correndo ao meu encontro. Agradeço aos céus, a todos os deuses daquele mundo cruel, por ela estar bem e segura. Seus braços magros envolveram meus ombros, trêmulos. Passei as mãos ao redor de seu quadril, sentindo seu corpo quente ao meu e feliz em saber que não era uma miragem: ela realmente estava ali comigo.

—Pensei que nunca mais ia ver você. —Sua voz baixa soou como uma canção nos meus ouvidos.

—Não diga algo assim, meu amor. Nunca ninguém vai conseguir nos separar, se esqueceu disso?

Um soluço escapou de sua garganta no mesmo instante em que eu a afastei. Seus olhos eram amolecidos pelo cansaço e pelo medo ainda presente em cada gesto de seu corpo. Mas ela estava comigo e nada nessa maldita vida faria com que ficasse longe outra vez. Nada.

—Eu te amo tanto, Jason. Te amo tanto que até dói. —Ela fungou.

Enxuguei suas lágrimas frias e beijei a pele em que elas a pouco tocavam.

—E eu te amo mais, Amber. Caralho, te amo muito mais.

Meus lábios, como se ansiassem por isso a décadas, tocaram os seus. Um beijo terno e ao mesmo tempo necessitado que só comprovou o sentimento esmagador no meu peito.

—Filha! —A voz de Anna ecoou atrás de nós.

Amber logo se afastou, alarmada. Seus olhos agora estavam atentos e, quando sua mãe se aproximou, seu corpo reagiu ficando na minha frente.

—Mãe, me deixe explicar. —Ela suplicou.

Anna sorriu e uma lágrima escapou de seu olho antes que a mulher fechasse a pouca distância e a tomasse nos braços, choramingando uma perda que graças aos céus não aconteceu. Logo seus amigos se juntaram e o noivo de sua mãe. Todos chorando de felicidade e cautela.

Quando todos haviam se acalmado, Anna veio a mim. Suas mãos tocaram as minhas e seus lábios teimaram em se abrir para me dizer palavras doces que eu duvidava muito receber em outra ocasião.

—Outra pessoa no meu lugar não faria isso nem se o céu caísse sobre nossas cabeças, mas —Sua pausa mostrou nervosismo e empatia. Anna suspirou e olhou de relance para a filha que falava alegre com os amigos — Eu vejo como vocês se amam e não acho justo ficar no caminho desse amor. Só peço que cuide dela, Jason, e nunca permita que alguém lhe faça mal.

Assenti e suspirei, sentindo meu peito se alegrar com as palavras calmas de uma mãe magoada.

—Só tenho a agradecer, Anna.

***

Amber

Uma coisa que você faz depois de duvidar ver as pessoas que ama algum dia novamente, é dar valor às menores coisas na vida. Seja um gesto simples e bobo que qualquer pessoa poderia deixar passar despercebido, até o mais notável deles. Também passei a aproveitar mais meus momentos ao lado de quem amo. Como nunca deixar de jantar com a minha mãe depois de um plantão ou não responder às inúmeras mensagens de Ebe, sempre sobre a mesma coisa.

Enlouquecendo Jason SmithOnde histórias criam vida. Descubra agora