Capítulo Quarenta e Um

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Júlia estava em um vestido prateado de tecido fino, como se tivesse acabado de sair de uma revista. Me endireitei, tentando ganhar centímetros suficiente para encara-la frente a frente, o que foi impossível já que ela estava em cima de saltos finos e eu apenas com meus tênis de corrida. Tinha um sorriso nos lábios e a mão com as unhas tão vermelhas quanto o batom, apoiada na batente da porta.

—Oi. –Ela falou —Amber, não é?

Olhei seu rosto pacífico e franzi a testa, finalmente encontrando palavras.

—O que você está fazendo aqui?

Júlia mostrou o mesmo sorriso zombeteiro que havia me dado na casa de Jason. Decidi que eu não gostava dela.

—Não vai me convidar a entrar? Temos alguns assuntos pendentes.

—Não tenho nada pra falar com você.

Seu sorriso aumentou e ela deu um passo para frente, entrando na minha casa mesmo depois de entender que eu a queria o mais longe possível.

—Não quero que diga nada, quero apenas que escute.

Arqueei uma sobrancelha, encarando com repulsa aquele rosto perfeito.

—Porque eu iria querer ouvir alguma coisa de você?

—Porque se não me escutar, vou ter que ir até a polícia e fazer o que a sua mãe não teve coragem.

Ela suspirou e deu de ombros, encarando minha sala com algum interesse. Pisquei perplexa enquanto entendia que aquilo tinha sido uma ameaça.

—Você acha que pode vir até a minha casa e me ameaçar?

—É, acho sim. Inclusive, estava indo fazer uma visita ao meu noivo e te vi saindo de lá... Suponho que não tenha só conversado com ele.

—Não sei se já foi informada, mas vocês não estão mais noivos e o que eu e Jason fazemos não é da sua conta.

—Bom, agora é. —Ela levantou as sobrancelhas, como se estivesse coberta de razão —Me ofereça um café, Amber, tenho muito o que te contar.

Então, com ousadia, ela fez o caminho até o meu sofá e se sentou, cruzando suas pernas longas na minha frente.

Fiquei pensando na possibilidade de arrasta-la pelos cabelos para fora da minha casa, mas me lembrei de que Jason queria que resolvêssemos tudo civilizadamente.

Não precisávamos de um escândalo agora.

—O que você quer tanto me dizer? —Perguntei, depois de bater a porta com arrogância.

—Vamos começar com uma pergunta simples. —Ela me olhou, sem nunca deixar aquele sorriso idiota nos lábios —O que Jason contou sobre nós?

—O bastante para eu saber que você não presta.

Finalmente seu sorriso se foi, sendo substituído por um olhar gélido e distante.

Júlia pigarreou antes de contrair a mandíbula e desviar os olhos para a mesa de centro.

—Então, de todas as coisas, foi isso o que ele disse?

—O que mais ele poderia ter pra falar sobre uma mulher egoísta e traiçoeira? —Não escondi o nojo no tom da minha voz.

Isso fez Júlia me encarar com pouco mais do que irritação.

—Que tivemos um filho, por exemplo?

A primeira reação que tive com aquele comentário foi rir. Depois me sentei no sofá e balancei a cabeça.

—Isso não é verdade.

—Bom, eu perdi o bebê com quatro meses de gestação porque ele me deixou. Fiquei tão abalada em ser abandonada grávida que acabei caindo alguns lances de escada quando estava correndo para chegar ao aeroporto antes que ele pudesse... fugir.

—Se ele chegou a fugir de você, deve ter sido ainda pior do que eu imagino.

—Eu estava grávida, garota!

—De um bebê que, pelo o que eu sei, podia muito bem não ter sido dele.

Sua postura me deixou na dúvida se Júlia continuaria a argumentar ou simplesmente me atacaria. 

Ela finalmente suspirou e voltou a olhar para o chão antes de me encarar novamente.

—Ele não viu o que pensa ter visto e eu nem tive tempo para explicar. 

Bufei.

—Traição é traição, Júlia. Não é adulta o suficiente para entender isso?

Ela balançou a cabeça e se inclinou, apoiando o queixo sobre as dobras de seus dedos.

—Eu o amava. Ainda amo... —Júlia olhou para mim —Pessoas erram e infelizmente se arrependem tarde de mais.

—Então parece que você entende. 

—E você? Você entende isso, Amber?

Encarei seu rosto tentando captar alguma coisa além de provocação. 

—O que eu entendo, Júlia, é que eu não confio em você e a quero longe de qualquer coisa que envolva a minha vida e a vida do Jason.

—Lembre-se que você não o conhece tão bem quanto eu.

Sorri.

—Você só veio até aqui para tentar abalar o que nós temos e eu não sou burra pra cair nesse seu jogo doentio.

—Se eu quiser acabar com o que vocês tem, eu simplesmente vou até a delegacia, Amber, é bem simples.

Olhei para ela. Seus olhos eram frios e sinistros como se por trás de toda aquela pose de mulher segura existisse alguém simplesmente ausente de alma. Por um minuto senti pena antes de voltar à repulsa.

—Se já disse tudo o que queria, pode ir embora. —Falei, antes de me levantar.

Júlia permaneceu sentada por alguns segundos e depois se colocou de pé, vindo até a mim e parando na minha frente.

—Não esqueça de que você é apenas uma garotinha no colegial, pequena Amber. Mas eu sou uma mulher feita e acredito que não seria difícil eu te tirar do caminho.

Franzi os lábios e balancei a cabeça.

—E você não se esqueça de que veio na minha casa e me ameaçou duas vezes. Se eu fosse você não subestimaria alguém que mal conhece, pode acabar se surpreendendo e se arrependendo como consequência.

Julia bufou e passou por mim em passos largos até sair e bater a porta. Soltei todo o ar dos meus pulmões encarando a porta e me questionando se devia ligar para Jason e avisar sobre aquela visita. Decidi que faria isso depois do banho.

Ele devia saber antes de qualquer coisa. Algo em mim dizia que Júlia estava querendo aprontar algo e não estava cheirando a coisa boa. Ela parecia nutrir algum sentimento maluco por Jason e parecia intencionada a me atingir de alguma forma e eu não era burra de ignorar aquilo, principalmente se isso corresse o risco de respingar em alguém que amo.

***

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Enlouquecendo Jason SmithOnde histórias criam vida. Descubra agora