• capitulo 3 •

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Mariane

Eu tentei falar com meus pais, mas foi impossível. Era uma gritaria, minha mãe dando tapas na Vitória enquanto ela berrava. Foi horrível.

— Cadê o pai dessa criança? - Meu pai falava alto.

Vitória ficou calada, dava pra ver o quão tensa ela estava.

— Abre logo a boca Vitória! - Minha mãe berrou já impaciente.

— Ele chama Benê! - Vitória disse de uma vez mordendo os lábios toda nervosa.

— Aonde você conheceu ele? - Minha mãe perguntou cruzando os braços.

— Na favela... - Vitória disse.

E pronto foi ai que os julgamentos foram jogados em cima dela. Começou maior gritaria, tive que tirar minha mãe de cima Vitória.

E por fim...

— Some daqui, ele que fez ele que vai criar então! - Minha mãe disse saindo do quarto com meu pai.

******

Minha mãe fez Vitória sair de casa. Vitória arrumou as coisas dela em poucos minutos.

— Eu vou falar com a mãe, você só tem 15 anos, não pode sair assim de casa! - Falei.

— Não, eu prefiro ir! - Vitória disse colocando a mochila nas costas.

— Eu te levo até aonde você vai! - Falei olhando o horário.

Ela assentiu e fomos saindo do quarto. Meus pais estavam na sala, ficaram encarando e depois saímos de casa.

Fomos até o ponto de ônibus e Vitória pegou o celular falando com alguém, disse que estava indo pra lá e que precisava de um lugar, e logo desligou.

— Vai pra aonde? - Perguntei.

— Favela. Único lugar que ninguém vai me me mandar embora por causa que to grávida! - Vitória disse.

*****

Deixei Vitória na frente daquela favela enorme, e dei uma pequena quantia de dinheiro.

— Me liga qualquer coisa, tá ouvindo? Eu ainda sou sua irmã Vitória! - Falei e ela assentiu.

Vitória veio me abraçando e começou a chorar.

— Eu to pagando com a minha língua. - Vitória disse e eu beijei a bochecha dela.

— Sou sua irmã, eu to com você  viu?! - Falei e ela assentiu subindo.

Fiquei encarando ela sumir da minha vista e suspirei indo chamar um uber. Em quinze minutos eu estava em cada já, cheguei e só estava a minha mãe no sofá sentada assistindo.

— Ela foi mesmo? - Minha mãe perguntou com a cara empinada.

— Foi né, você mandou ela ir embora! - Falei meio rude indo pra cozinha.

Peguei meu prato e coloquei a comida sentindo minha mãe estar atrás de mim.

— E você acha que eu estou errada? Aonde já se viu ficar grávida aos 15 anos, ainda mais de favelado! - Minha mãe disse indignada.

Do asfalto pra favelaOnde histórias criam vida. Descubra agora