Mariane
Trabalhei igual uma doida, atendi várias pessoas. Quando chegou a hora de ir embora, meu pai veio me buscar, fomos embora de carro e em pouco tempo já estávamos em casa.
Corri deitar e acabei dormindo. Acordei com Vitória em cima de mim, empurrei ela e quando vi a Letícia tava parada do meu lado rindo.
— Capotou legal em, não acordava por nada... - Letícia disse.
Encarei ela e vi que ela tava arrumada.
— Que horas é? - Perguntei.
— Quase oito horas... Bora se arruma que eu e sua irmã tá pronta já. - Letícia disse sentando na cama de Vitória.
Encarei Vitória e vi ela arrumada também.
Levantei na maior leseira e fui direto pro banheiro. Tomei aquele merecido banho e escovei meus dentes.
*****
Me encarei no espelho e eu me assustei, caraca nunca tinha me arrumado tanto assim.
— Babadeira tu tá em! - Letícia disse me encarando sorrindo.
Sorri pra ela e encarei a minha roupa no espelho. Eu estava com um shorts desfiado branco, com um body vermelho e meu tênis preto. Meu cabelo estava pranchado, e a minha maquiagem estava básica, só um rímel e um gloss.
Peguei meu documento e coloquei na capinha aonde já tinha dinheiro.
Peguei o dinheiro que eu iria dar pro Fumaça e guardei no peito.
— Vamos!!! - Falei suspirando.
Sai do quarto e nenhum sinal dos meus pais. Menos mal. Toda vez que eu saio é aquela mesma coisa de sempre, aquelas regras que acabam com a noite. Poxa, eu já tenho 19 anos!
Fomos de carro com Letícia. Em minutos chegamos lá na favela. Fomos direto pra um lugarzão aberto, tava estralando o som.
Descemos do carro e fomos andando até aonde era o pagode. Vitória sumiu atrás da amiga e eu fiquei ali grudada de Letícia.
— Vai entrar dentro de mim? - Letícia perguntou me encarando e negando com a cabeça.
— Você me trouxe, então vai ficar do meu ladinho! - Falei fechando a cara pra ela que na mesma hora sorriu me abraçando.
Fomos caminhando até uma mesa aonde tava Fumaça e uns parte de homens. Encarei e vi Benê e Kátia do lado de Fumaça sentados no maior agarramento. Dei uma leve olhada ns menina que tava sentada no colo de Fumaça e vi uma aliança grossa, logo virei o rosto.
— Meu macho é aquele ali. - Letícia disse encarando um boy do lado do Fumaça.
— É o mesmo de ontem? - Perguntei e ela riu.
— Não doida. Mas abafa em... Aquele ali é o Caveira. - Letícia disse acenando pro tal Caveira.
Caveira na mesma hora chamou ela. Letícia foi e ainda me puxou.
— E ai branquela, nem deu um beijinho hoje. - Caveira disse puxando Letícia pro colo dele.
Eu puxei uma cadeira e sentei ali do lado. Caveira me encarou e eu virei o rosto encarando as mulheradas sambando.
— Tu não é daqui. Tu é do asfalto. - Caveira disse e Fumaça me encarou dos pés a cabeça.
— Sou do asfalto. - Falei e ele estendeu a mão.
— Sou o Caveira, e tu? - Ele disse apertando minha mão.
— Mariane... - Falei sorrindo sem mostrar os dentes.
— Tendeu, to a disposição, qualquer b.o tamo ai! - Caveira disse eu assenti.
Fiquei ali falando com Letícia mas eu percebia que a menina que tava sentada no colo de Fumaça me encarava feio.
Puxei Letícia pra dançar, mas na verdade eu queria mesmo era sair dali de perto, eu tava incomodada com o olhar dela em cima de mim.
— Ela não para de olhar, isso me irrita! - Falei bufando.
— Ela é mulher do Fumaça, ela tá percebendo o olhar do Fumaça pra você. - Letícia disse sambando.
Que olhar? Tá doida só pode, Fumaça só tá interessado no dinheiro que preciso pagar pela dívida da Vitória.
Encarei novamente ele e ele me olhava na maior cara dura. A mulher dele levantou na frente dele e começou a sambar me encarando.
— Eu vou comprar uma cerveja... - Falei e Letícia assentiu.
Fui caminhando até a barraca e comprei uma latinha de cerveja. Sai fora daquela muvuca toda e cai na rua da favela. Me sentei numa escadinha que tinha ali e comecei a beber enquanto eu encarava aquele céu escuro todo estrelado.
Senti um arrepio e logo um cheiro de perfume invadir meu nariz.
— Tu é malucona de ficar ai sozinha. - Ouvi a voz atrás de mim e quando me virei vi Fumaça soltando a fumaça do cigarro pro alto e sentando do meu lado.
— Não tenho medo! - Falei bebendo um gole.
— Tu quer? - Fumaça perguntou estendendo o cigarro.
— Não quero morrer cedo não! - Falei encarando ele.
— Ah e com a cerva teu fígado vai tá bom né gata?! - Fumaça disse jogando a bituca de cigarro no chão e soltando aquela fumaça que tava indo tudo pra minha cara.
Dei de ombros e continuei bebendo até me lembrar do dinheiro.
— Olha, eu preciso te pagar, trouxe o dinheiro. - Falei deixando a latinha de lado e colocando a mão com tudo dentro do meu body.
Ele ficou me encarando sério, eu peguei o dinheiro e estendi pra ele. Ele encarou o dinheiro e me encarou.
— Quero teu dinheiro não, quero tu. - Fumaça disse ainda sério me olhando.
Meu coração parecendo uma escola de samba.
Senti ele me puxar com tudo e me dar um beijão, eu nem me dei conta, e quando dei, me afastei.
— Você é casado!! - Falei colocando a mão na boca indignada e me levantando.
Ele se levantou e me puxou com tudo. Senti aquele arrepio mais uma vez e aquele cheiro dele que me fez ficar molinha.
— Fica comigo essa noite... - Fumaça sussurrou na minha orelha.
• aperta na estrelinha •
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Do asfalto pra favela
Fiksi RemajaMariane vai pra favela para ajudar sua irmã Vitória e acaba sendo alvo do maior traficante do estado.