Letícia
Caveira foi em uma operação em ajuda de algum irmão dele que é da Maré. Ele acabou sendo atingido. Trouxeram ele pra favela e ele foi direto pro postão, ele devia ter ido pra um hospital, mas como não pode sair da favela pra ir pro asfalto, ai lascou tudo.
Mariane foi comigo correndo pro postão, ficamos horas e horas esperando uma simples notícia. Quando o médico veio, eu suspirei aliviada.
— Fala sobre o... - Fui falar e o médico me interrompeu.
— Ele deveria ir a um particular, eu não tenho aparelhos suficientes a ele! - O médico disse.
— Ele não sai daqui! - Falei.
— Tem outra coisa também, mas isso precisamos ir a minha sala! - O médico falou e eu concordei.
Mariane ficou na espera e eu segui o médico até a sala dele, eu me sentei e ele suspirou encarando alguns papéis.
— Acreditamos que seja só apenas um período, mas a bala atingiu a espinha... - O médico disse.
Me acabou. Eu não abri a boca, o médico dizia as coisas me explicando e eu simplesmente não ouvia mais nada. Quando eu sai daquela sala, eu guiei direto pra Mariane, eu não conseguia falar nada com ela, fomos pra casa, e ai sim sentamos.
— Fala logo cara, to nervosa já! - Mariane disse.
— Caveira vai ficar na cadeira de rodas... - Falei me levantando e saindo pra ir pro banheiro.
*****
Mariane
Minha vida é uma verdadeira novela.
Me sentei no sofá e logo a bateram na porta.
Inferno.
Fui abrir e...
— O que você quer? - Perguntei suspirando sem paciência.
— Você! - Fumaça disse, eu fui fechar a porta mas ele empurrou e entrou com tudo. - Qual foi cadê a mina do Esqueleto? - Fumaça perguntou.
— Ela não tá bem pra conversar sobre o Caveira! - Falei.
— Qual é da fita? - Ele perguntou.
Isolante, a crepe...
— Caveira vai ficar de cadeira de rodas. - Falei. - Agora da licença que não quero visitas! - Falei puxando Fumaça pra fora.
Ele nem fez esforço pra ficar foi embora rápido.
Eu me deitei no sofá e pedi pra Deus que tudo se resolvesse.
******
Acordei com a maior gritaria, levantei brava e quando abri a porta dei de cara com Letícia e Fumaça gritando.
— Que porra, eu estou dormindo caralho, da pra gritar na rua e não aqui? - Berrei e os dois me olharam.
— Esse seu namoradinho que não quer mandar Caveira pro hospital particular. Ele precisa de cirurgia corno! - Letícia gritou.
— Caveira não sai daqui caralho, eu dou meus pulos com aparelho, mas ele não sai, tá resolvido, não vem berrar na minha não! - Fumaça disse sério.
Entrei de novo pro quarto e olhei o relógio vendo que faltava um minuto pro despertador tocar. Bufei e desliguei o despertador. Coloquei qualquer merda de calça jeans e uma blusa branca, coloquei o tênis e fui pro banheiro escutando Caveira e Letícia discutindo.
Escovei os dentes e molhei meu rosto. Amarrei meu cabelo num coque e fui passando perfume, desodorante e minha bolsa. Sai do quarto dando de cara com aquela discussão eterna e sai puxando Fumaça pra fora de casa.
— Chega de discussão caramba, a Letícia quer o melhor pro Caveira, lá no hospital ele vai ter um tratamento melhor caramba, para de pensar em você seu egoísta! - Falei brava.
— Pensar em mim? Que bizarro, logo eu que mais penso em tu do que em mim mesmo! - Fumaça disse chegando perto.
— Enfia esses pensamentos no meio do teu... - Fui falar e ele me interrompeu.
Ele me agarrou beijando meu pescoço e eu tentando empurrar.
— Sai de perto de mim seu nojento, fedido, podre. - Falei empurrando ele com tudo.
— Tu vai me perdoa quando caralho? Quando eu tiver num caixão? Tu vai esperar minha morte mermo? -Fumaça disse.
Eu senti aquele frio e aquela sensação horrível, eu fechei meus olhos e em um segundo eu vi os momentos com Fumaça, abri meus olhos e Fumaça me deu um beijo no rosto e sorriu sem mostrar os dentes.
— Eu espero tu, só reza pra que Deus não me leve! - Fumaça disse e saiu.
Eu fiquei ali sentindo aqueles arrepios horríveis e desci indo pro trabalho.
• aperta na estrelinha •
Mariane devia perdoar e ficar com Fumaça, ou não?
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Do asfalto pra favela
Novela JuvenilMariane vai pra favela para ajudar sua irmã Vitória e acaba sendo alvo do maior traficante do estado.