Mariane
Eu estava naquele postão acabada. Eu estava sentada naquele banco de olhos fechados, sentindo aquela angústia.
Senti alguém me abraçar de lado, e levantei a cabeça vendo Letícia sorrir sem mostrar os dentes.
— E ai? - Letícia disse segurando umas sacolas.
— Faz uns dez minutos que ele entrou na sala de cirurgia. Eles vão fazer o que pode, Fumaça tinha que ir em um hospital Letícia, mas ele saindo e indo pro asfalto, ele é pego lá! - Falei afundando minha cara no ombro dela e chorando.
Letícia não disse nada, eu fiquei ali abraçada a ela até ver o Caveira ir entrando no postão. Ele tava com olheiras escuras, aquele olho de quem usou droga.
— Cadê ele? - Caveira perguntou agitando.
Eu levantei a cabeça suspirando e Letícia beliscou ele.
— Se drogando de novo caralho? Tá doido de pó? - Letícia disse se levantando e falando baixinho.
— Ai ai Letícia, qual foi pô?! - Caveira disse vindo sentar do meu lado.
— Te meto a porrada Caveira, eu em, tenho cara de ser mulher de drogado? - Letícia perguntou brava.
— Que diferença faz? Sou traficante. - Caveira disse afundando o boné na cabeça e dando leves tapinhas na minha costa. - E o sem pulmão? - Caveira perguntou.
— Cirurgia... Caveira, eu não aguento isso. - Falei mordendo a boca pra não chorar.
— Calma Mariane, qual é, vai pra goma, Letícia vai contigo, descansa lá que eu to de bituca aqui, qualquer papo eu to aqui ligadão. - Caveira disse se levantando e acendendo um cigarro ali dentro mesmo.
— To vendo mesmo que tá ligadão. Desliga essa merda, a gente tá num hospital inferno de homem! - Letícia disse beliscando Caveira de novo.
Caveira apagou o cigarro na bermuda que logo fez um furo, e guardou no bolso.
— Eu quero ficar aqui pra... - Eu fui falar e Caveira interrompeu.
— Vai la pra casa Marilda, eu em, Fumaça tá dormindo, vai dormir também e qualquer idéia mando pra Letícia! - Caveira disse me puxando com tudo e me empurrando devagar pra ir pra perto de Letícia.
Letícia pegou na minha mão e fomos embora, sem nenhuma palavra trocada. Fomos pra casa dela, ela me deu o pijama dela e me deu um remedinho pra dormir. Eu deitei e apaguei.
Acordei zonza, aquela sensação de que o sono valeu a pena de tão gostoso que foi. Olhei pra mim, e eu estava toda torta, com marcas e toda babada.
Esse sono foi bom!
Me levantei tentando enxergar o relógio e fui saindo pra sala dando de cara com Letícia dançando funk, eu fui andando e quando ela me viu, ela tirou os foninhos.
— Ai nem vi você ai, você viu a música tudo OK? Viciei legal! - Letícia disse rebolando.
Sorri sem mostrar os dentes.
— Notícias? - Perguntei coçando o olho.
— Ainda não, você dormiu bem em! - Letícia disse olhando pra marcas do meu braço.
Eu sorri e olhei no relógio da parede que marcava quase meio dia. Eu fui pro banheiro e joguei uma água na cara, e arrumei o cabelo.
Sai do banheiro e fui direto pra cozinha que estava um cheiro enorme de algo fritando.
— Eu vou lá em casa, e ir pro hospital, até agora o Caveira não falou nada! - Falei bufando.
Dito e foi, ouvimos a porta abrir, corri pra sala dando de cara com Caveira, ele me olhou cabisbaixo, quando ele me encarou vi os olhos vermelhos e lágrimas.
— Fala logo Caveira, fala, cadê o Fumaça? - Gritei sentindo meu coração pular.
Letícia veio correndo e parou encarando.
— Ele bateu as botas Mari. - Caveira disse tampando a cara.
Eu gelei, Letícia me puxou pra sentar no sofá e eu senti meu estômago embrulhar.
Caveira veio até na minha frente e limpou a lágrimas me puxando pra lavar.
— To zoando porra, deu tudo certo, já até acordou, acordou querendo foder aquele filho da puta, eu lá e ele querendo " buceta da Marilda ". - Caveira disse revirando os olhos.
Eu fui pra cima de Caveira e Letícia veio junto.
— Nunca mais você faz isso! - Falei batendo no peito dele.
— Esqueleto você tá ferrado, eu aqui que quase bato as botas seu podre! - Letícia disse beliscando.
— Ai ai, eu tava de zoeira, qual foi, dar uma emoção, queria ver se o coração tava bom! - Caveira disse.
Eu sentei no chão e fechei os abraçando minhas pernas e chorando, sentindo aquele alívio.
Deu tudo certo, obrigado Deus!
• aperta na estrelinha se gostou •
Oiiii meus loves, me perdoem pela demora, terminei a escola mas a vida de estudos não acabou ainda. Não desistem de mim, prometo não deixar vocês sem. Amo vocês, se cuidemmmm! ❤️
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Do asfalto pra favela
Ficção AdolescenteMariane vai pra favela para ajudar sua irmã Vitória e acaba sendo alvo do maior traficante do estado.