Letícia
Era o enterro, Caveira no silêncio. Benê de cabeça baixa e Mariane abraçada a mim. Eu não queria ir sozinha naquele lugar, levei Mariane junto.
Morreu muita gente da favela, e muita gente que era envolvido. Estávamos lá enterrando um dos envolvidos que era gerente da boca três.
Foi enterrado e aplaudimos vendo que depois disso, só iria piorar. Fumaça no postão, tendo que usar aparelho pra respirar. E quando tirava o aparelho, dava parada. Ele já havia morrido e voltado umas quatro vezes, mas ninguém deixou desligarem os aparelhos.
Já fazia uma semana do acontecido. Mariane não tava a mesma pessoa, ela ficava parada com o olhar longe. Caveira então, prometeu invadir a favela que invadiu a gente.
*****
Mariane
Eu deitei minha cabeça no sofá, imaginando minha vida se caso Vitória nunca tivesse vindo pra cá. Eu nunca teria conhecido ninguém, talvez eu ainda estaria naquela vidinha de enfermagem, que por fim, não era o que eu realmente queria fazer.
Graças a Deus tive que ir pra São Paulo pra ver a vida de outra forma. Eu aprendi tantas coisas aqui. Errei muito, e aliás, eu paguei com o meu próprio erro. Eu jamais desejei isso pra minha própria vida. Imaginar eu, sendo mulher de bandido.
Fábio. (Fumaça)
O nome dele rodeava minha cabeça, eu fui ver ele umas duas vezes, e todas as vezes eu não consegui ficar lá mais que cinco minutos. Eu não aguentava ver ele daquele jeito. Ele precisando de máquina pra respirar. Precisando de tudo pra viver.
Isso é uma injustiça!
Não deu nem tempo de eu falar que amava. Droga, por que a vida é assim? Por que eu amo tanto ele? Essas perguntas eu nunca vou saber me responder.
— Mariane! - Vitória me chamou e eu balancei minha cabeça saindo dos meus pensamentos.
— O que foi? Aconteceu alguma coisa? - Perguntei nervosa.
— Alguém precisa ir assinar uns papéis no postão. No caso, você! - Vitória disse.
Eu estava exausta. Eu fui do jeito que eu estava, fui na maior pressa, quando cheguei lá, fui direto pro balcão.
— Oi, eu preciso assinar uns papéis do Fábio! - Falei batendo minha unha no balcão de tão nervosa.
— Ah sim, só um momentinho! - A menina disse escrevendo no computador.
— Viu, pra que são esses papéis pra assinar? - Perguntei mordendo os lábios.
— Bom, o doutor fala contigo lá dentro, só leve esses papéis juntos, na terceira porta a direita! - A menina disse.
Eu sai dali voada, fui direto pra sala do doutor, nem bati de tão trêmula.
— Oi Doutor. - Falei estendendo a mão e sentando.
Eu deixei os papéis na mesa e ele pegou lendo.
— Ah sim, do Fábio... - O doutor disse me encarando sério. - Precisa de alguém pra assinar. Vamos entrar com Fábio pra cirurgia amanhã de madrugada, precisamos de autorização de alguém da família. No caso, você é a esposa! - O Doutor disse.
— É! - Falei trêmula.
— Será uma cirurgia delicada. Aqui no postão não é um lugar preparado para esse tipo de coisa. Mas vamos tentar tudo o que podemos. - O doutor dizia firme.
Ele estendeu as folhas, eu peguei e comecei a ler, eu assinei em baixo, e sai dali sem falar mais nada.
Eu estava destruída, aquele lugar me dava enjôos, eu ficava mal de ver ele naquela situação.
• aperta na estrelinha •
VOCÊ ESTÁ LENDO
Do asfalto pra favela
Novela JuvenilMariane vai pra favela para ajudar sua irmã Vitória e acaba sendo alvo do maior traficante do estado.