Mariane
Sábado, 21:33 da noite.
Coloquei aquela saia pequena preta, uma blusa rendada transparente e um salto qualquer.
Coloquei meu brinco, e meu relógio.
— Mulher mais gatona do baile pô, assim não da! - Fumaça disse aparecendo.
Sorri e caminhei até o espelho vendo que eu estava pronta.
*****
Cheguei no baile e fui direto pro camarote com Fumaça. Letícia tava lá no maior bico.
— Oi bicududa! - Falei abraçando Letícia.
— To brava querendo esfaquear um! - Letícia disse cruzando os braços.
— Por que? O que aconteceu? - Perguntei preocupada.
— O corno do Caveira roubou minha coxinha ontem. Eu nem to falando com ele! - Letícia disse olhando pra Caveira e saiu andando lá pra baixo.
Eu fiquei encarando ele e ele veio até a mim com um cigarro na mão, e na outra mão um copo de whisky.
— Ela tá brava ainda? - Caveira perguntou.
— Eu não acredito que você roubou a coxinha dela! - Falei negando.
— É uma coxinha cara, qual foi, eu compro um caminhão pra ela. - Caveira disse.
— Se comprar pra ela, lembra que eu sou a amiga dela! - Falei rindo e ele riu negando com a cabeça.
Ficamos calados ouvindo aquele funk estalar.
— Pô, to a cota querendo bater um papo contigo mas falta oportunidade! - Caveira falou tomando um gole da bebida.
— Pode falar. - Falei me encostando na grade.
— Queria pedir desculpa Marilda. Falei coisa que não devia pra tu, queria que ficasse tranquilo entre nois, até por que tu é mulher de parceiro meu e amigona da Lê. Tamo junto desde sempre sacô? Desde aquele primeiro pagodão teu aqui pô! - Caveira disse sambando naquele ritmo de funk.
Eu ri e concordei.
— Caveira, eu só peço que você não vacile com a Letícia e nem com a minha irmã. Seja aquele Caveira que eu conheci. - Falei dando a mão pra ele e ele me abraçou com tudo.
Eu em.
— Ih, qual foi! - Fumaça disse.
Me afastei de Caveira e encarei Fumaça que olhava nós dois.
— Ele veio pedir desculpa! - Falei abraçando Fumaça.
— Vê se tu abre o olho Esqueleto, vacilamo uma vez, na segunda tem volta não pô! - Fumaça disse e Caveira assentiu.
Eu me afastei dos dois e fui descendo até aonde Letícia estava. Comecei a dançar com ela e senti alguém se esbarrar comigo, eu me virei olhando e vendo aquela menina que tinha sido amante do Fumaça.
— Tá com o olho fechado? Eu em! - Berrei e ela fechou a cara mais saiu de perto. - Cara feia pra mim é fome! - Falei e Letícia riu.
— Então eu tinha que tá toda hora de cara fechada. - Letícia disse rindo.
Neguei com a cabeça rindo e fui pegar uma latinha de cerveja. Me encostei na barraca e fiquei fitando o camarote. Avistei aquela menina subir e sair da minha visão.
Fui atrás, fiquei parada na porta do camarote olhando de longe, eu não tava enxergando nada. Senti alguém relar na minha bunda, quando virei pra bater vi Fumaça me olhando.
— Tá parada aê por que? Entra. - Fumaça disse pegando na minha mão.
— Eu achei que... Ah deixa pra lá! - Falei encarando ele.
Entramos no camarote e Fumaça se sentou e me puxou pro colo dele.
— Ê Caveira, o Carlinhos lá do morro da providência não vem porra? - Fumaça perguntou.
— Olha ele lá. - Caveira disse olhando pra entrada do camarote.
Eu me virei olhando e vi um homem todo feio com um mulherão do lado. Quando a mulher entrou no camarote, todos ficaram olhando, realmente parou. Eu me virei encarando Caveira e ele secava ela. Olhei pra Fumaça e ele encarava o cigarro da mão dele.
— Nem adianta que eu não troco o que eu tenho em goma! - Fumaça disse encarando o cigarro.
Aqueles dois vieram.
— Grande Fumaça. Como tu tá? - Aquele tal de Carlinhos disse abrindo os braços pra abraçar Fumaça.
Eu me levantei do colo dele e Fumaça estendeu a mão.
Fumaça não abraça qualquer um não. Ele odeia, ele se sente ameaçado. Por que diz ele, que as vezes aquele que te abraça, quer te ver na pior e tu nem sabe. Tu abraça ele mas você não vê os olhos dele. E Fumaça fala olhando nos olhos, por que diz ele que detecta gente falsa.
— Qual foi Carlinho, achei que tinha se perdido, a favela é grande mas não tanto né! - Fumaça disse rindo.
— Ih Fumaça, essa daqui que me atrasou. - Carlinhos falou abraçando aquela mulher que estava impecável.
— To ligado como é. - Fumaça disse e eu belisquei ele.
Ele se sentou e eu sentei no colo dele de novo. Carlinhos cumprimentou Caveira e se sentaram na nossa frente.
Eles começaram a conversar sobre as invasões, armamentos e os bailes.
— Cês precisam colar no baile da providência! - Carlinho disse.
Letícia veio e sentou do lado de Caveira. Eu encarei a mulher que estava com Carlinhos e ela estava com um vestido super coladinho, mas ela ficava de perna aberta o que dava pra ver a calcinha.
— Quem sabe. E qual era o papo que tu queria falar? - Fumaça perguntou.
— Minha mina, quer vir morar pra cá, ela e a mãe dela, não tem como tu libera? - Carlinhos perguntou.
Encarei aquela mulher e olhei pra Letícia que na hora revirou os olhos.
Meu santo não bateu com essa ai!
• APERTA NA ESTRELINHA •
Bom domingo! 🦋
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Do asfalto pra favela
Ficção AdolescenteMariane vai pra favela para ajudar sua irmã Vitória e acaba sendo alvo do maior traficante do estado.