Mariane
Sexta feira, 19:37 da noite.
Eu estava a caminho de volta, eu tremia dirigindo, torcia pra que eu não amarelasse e que na hora eu não voltasse pra trás. Foram cinco anos de tratamento psicológico, eu trabalhei muito o meu mental pra que chegasse esse dia.
Eu peguei um trauma das pessoas, e eu sei que foi a culpa minha mesmo. Se eu não tivesse dado tanta bola, não teria acontecido, mas eu levo como um aprendizado, eu amadureci como nunca, e eu precisei quebrar a cara pra entender como realmente a vida é.
*****
Eu cheguei lá na frente da favela era lá duas e pouco da manhã. Encarei aquele lugar e senti um arrepio, aquele vento gelado batia em meu rosto, fechei os olhos lembrando das lembraças e acabei lembrando do dia em que tudo ocorreu, senti aquela angústia de sempre.
— Nunca mais me envolvo com homem casado. Nunca mais Mariane Aparecida! - Falei firme.
Sai dali e fui até um hotel, fui passar a noite lá, eu mal dormi ansiosa pra que chegasse de manhã já.
Quando deu oito horas eu me levantei, eu estava inquieta, eu não aguentava mais ficar deitada. Eu me levantei e fui direto pro banheiro tomar aquele merecido banho, sai do banho e fui direto pegar uma lingerie na minha mala e depois um shorts preto, com uma blusa branca que tinha um nózinho, fazendo com que a barriga ficasse a mostra, mostrando o meu piercing.
Passei meu creme, meu desodorante e meu perfume. Fui no banheiro, escovei meus dentes, penteei meu cabelo e sai calçando minha rasteirinha.
******
Cheguei na frente da favela novamente, fui na barragem direto, encarei o vapor e eu relembrei dele, abri meu vidro do carro e ele veio até a mim.
— Qual foi madame, errou o caminho pra tua goma? - O vapor perguntou se debruçando na janela do carro.
— To no lugar certo! Eu vim pra ir na casa da Letícia, mulher do Caveira! - Falei e ele me encarou.
Ele encarou sério por alguns segundos como se me conhecesse e logo mordeu o lábios.
— Ih mina, tu é a parceirona dela né? Pô achei que tu tinha batido as bota mermão! - Ele disse.
— To viva não to? Então. - Falei revirando os olhos. - Ela tá morando no mesmo barraco? - Perguntei.
— Não, ela tá morando na rua dez, é três rua depois da que era a goma dela nas antiga, é um sobradão verde limão. - Ele disse.
Verde limão? Que porra de verde limão.
— Ok obrigado. - Falei acelerando o carro.
Fui subindo aquelas ruas lembrando dos meus momentos ali, e respirei fundo. Quando cheguei na frente da casa, logo avistei Letícia sentada com uma linda menininha sentada no meio de suas pernas.
— Ai meu Deus, olha as coisas que perdi... - Falei suspirando e pegando a minha bolsa.
Desci do carro e Letícia me encarou séria. Ela não esboçou nenhum semblante, ela continuou me encarou de cara fechada e eu fui caminhando até ela em passos devagar, ela foi se levantando e puxando a pequena menina, mas eu a puxei.
— A gente precisa conversar! - Falei e ela me encarou séria ainda.
— Depois de cinco anos Mariane? Você sabe o quanto eu precisei de você? - Letícia falou.
Eu sabia que eu tinha feito burrada, eu pelo menos deverias ter avisado ela, mas também, na época eu estava com a cabeça fodida demais.
— Me perdoa, eu sei que eu deveria ter avisado, e ter mantido contato mesmo longe, mas eu tava com a mente fodida demais. - Falei.
Ela me encarou e foi puxando a menininha e eu pra dentro da casa.
Era uma casa boa de se morar, tudo arrumadinho e cheiroso, isso era uma coisa que Letícia sempre exigiu. Casa limpa!
Eu entrei e já fui me sentando, a menininha que era a cara de Caveira ficou me encarou e veio até a mim.
— Oi, como você se chama? - Perguntei encarando os olhos dela que brilhavam nas minhas unhas que estavam pintadas de rosa.
— Nicole! - Aquela vozinha soou pela sala.
— Não vou oferecer água, se quiser vai pegar. - Letícia disse se jogando no sofá.
Suspirei fundo revirando os olhos e do nada ouvi a porta abrir com tudo.
— Porra Letícia, que tu tava me chamando? Tenho que... - Caveira entrou falando mo alto e quando me viu parou de falar.
Encarei Letícia e ela ficou sem graça na hora.
— Eu volto outra hora pra gente conversar... - Falei me levantando.
— Você fica Mariane! - Letícia disse se levantando e encarando Caveira. - Você leva sua filha tomar sorvete por que ela deve tá ficando com lombriga! - Letícia disse fechando a cara pra ele.
Ele me olhou e não disse mais nada, pegou a Nicole e foi.
— Olha se quiser eu realmente volto outra hora... - Falei.
— Cala boca porra, vai ficar e me contar tudo e até porque foi embora sem avisar vadia! - Letícia disse se sentando no sofá e tirando de trás do sofá um saco de bala de chocolate.
E lá vou eu contar tin tin por tin tin...
• aperta na estrelinha •
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Do asfalto pra favela
Novela JuvenilMariane vai pra favela para ajudar sua irmã Vitória e acaba sendo alvo do maior traficante do estado.