Mariane
Desci até a casa da minha irmã e a porta estava aberta, encarei e vi ela, a amiga e a Letícia junto.
O que essa Letícia tá fazendo aqui? Elas se conheciam já?
— Eu sou muito burra cara. - Vitória dizia chorando.
Fui até ela e a abracei.
— Relaxa Vitória, vamos falar com a mãe e ai você sai daqui! - Falei suspirando.
— O Benê é assim mesmo, não fica assim não, nem vale a pena sofrer por aquele traste não. - Letícia disse.
— É eu sei... Será que a mãe me aceita de volta? - Vitória perguntou enxugando as lágrimas.
— Sim, eu acho que sim, eu vou tentar falar com ela! - Falei beijando a testa dela.
*****
Desci a favela com Letícia, eu estava indo pra casa falar com a minha mãe.
— Realmente você não tem cara que mora aqui não. - Letícia disse me encarando sorrindo.
— É eu sei, meu jeito é diferente. - Falei encarando minha roupa.
— Normal, eu gostei de você! - Letícia disse.
— A gente se conhece a umas duas horas. - Encarei ela sem entender.
— Olha, eu sou uma pessoa difícil de gostar de alguém, mas meu santo bateu com o teu. - Letícia disse me abraçando.
Eu em, que estranha...
Fomos de a pé mesmo até em casa, tava um sol do cão, e quando chegamos só estava a minha mãe, ela estava bordando.
— Oi Ma. - Minha mãe disse me encarando e depois olhando Letícia. - Oi, tudo bem? - Minha mãe soltou um leve sorriso.
— Oi, tudo sim e a senhora? - Leticia perguntou.
— Indo... - Minha mãe disse deixando o bordado de lado.
— Eu precisava falar com você. - Falei.
— Eu preciso ir ao banheiro... - Letícia disse e eu a mostrei aonde era.
Eu me sentei perto de minha mãe e ela me encarou séria.
— Vitória perdeu o filho... - Falei suspirando.
Minha mãe fez uma cara de assustada, mas logo mudou o semblante pra sério.
— Mãe, já deu isso você não acha? A Vitória tá precisando de vocês, ela tá precisando de carinho, conforto, da família! - Falei e minha mãe me encarou suspirando.
— Eu errei, eu sei, foi por impulso. Eu jamais faria algo pra ferrar com vocês, mas eu me assustei. Vitória tem apenas 15 anos! - Minha mãe disse passando as mãos no rosto.
— Então tudo bem ela voltar? - Perguntei e minha mãe assentiu com a cabeça.
U f a!
*****
1 mês depois...
Vitória estava em casa já, ela tinha começado a trabalhar, tinha voltado a ir pra escola e estava caminhando pelo caminho certo.
Eu estava trabalhando mais ainda, eu estava guardando dinheiro pra fazer minha faculdade. Mas com o tanto que eu pagava pro Fumaça, era uó.
*****
Eu estava voltando embora pra casa, já devia ser por volta das duas da manhã. Parei no ponto de ônibus com o pessoal, e adivinha quem ficou sozinha? Se você pensou em eu, acertou.
A rua estava escurava, nem os postes iluminava, eu estava rezando de tanto medo.
Encarei a uns metros e vi um carro vindo, gelei, comecei a tremer e ver algum lugar pra correr. Logo o carro parou na minha frente e a minha vontade foi chorar. O vidro abaixou e eu ouvi um “ psiu ”.
Encarei pra dentro do carro e vi acenderem a luz, aliviei vendo Letícia ali dentro do carro.
— Vem, tá escuro demais pra você ficar ai sozinha! - Letícia disse abrindo a porta.
Fui caminhando e entrei no carro.
— Você não imagina o quanto eu estava assustada, já imaginei na pior! - Falei rindo de nervoso.
— Eu te vi, eu tinha passado antes, mas você tava com umas outras pessoas ai não tinha certeza, tive que passar de novo. - Letícia disse seguindo reto.
— Nossa, meu coração tá acelerado... - Falei. - E o que você tá fazendo por aqui, e essas horas? - Perguntei a encarando.
— Sai com um boy ai. Péssimo de cama viu, na terceira sentada já gozou amiga! - Letícia disse indignada.
Santa Virgem sou eu, assim
Ela me levou até em casa e eu já estava papeando sobre os assuntos da favela.
— Você precisa ir em um pagode ou baile comigo... Você vai gostar! - Letícia disse parando o carro.
— Será? - Perguntei tirando o cinto.
— Sim, se quiser tem pagode amanhã já... - Leticia disse.
— Tem que ver, eu trabalho amanhã doze horas... - Falei.
— Que horas você sai? - Leticia perguntou.
— Seis da tarde... - Falei.
— Boraaa, o pagode começa as nove, eu venho te buscar Ma, vamos, você precisa sair um tiquinho. - Letícia disse.
Nem conheço ela direito, mas eu não sei porque, gostei do jeito dela.
— Ok dona Letícia. - Falei indo abraçar ela. - Obrigado pela carona, depois a gente se fala. - Falei saindo do carro.
Ela deu partida e eu entrei em casa.
Que bom, ai pelo menos já aproveito e dou o dinheiro pro Fumaça.
• aperta na estrelinha •
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Do asfalto pra favela
Ficção AdolescenteMariane vai pra favela para ajudar sua irmã Vitória e acaba sendo alvo do maior traficante do estado.