• capitulo 47 •

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Mariane

Eu fiquei preocupada depois que Leticia veio me falar de Nicole. Eu mesma fui buscar Nicole na escola.

— Tia Mari!!! - Nicole gritou vindo correndo me abraçar.

— Oi pequena, quem veio te buscar fui eu. Vamos tomar um sorvete grande! - Falei pegando na mão dela.

Fomos descendo até a sorveteria, chegamos lá, fizemos nossos pedidos e paguei, me sentei na mesa e fiquei vendo ela se lambuzar toda com o sorvete.

— Como foi na escolinha hoje Ni? - Perguntei colocando uma colherada enorme de açaí na boca.

Açai é igual bacon, é vida!

— Brinquei muito tia, eu fiz o meu nome inteiro, o seu e o da mamãe. - Nicole disse sorrindo com a boca toda suja.

— Sério? Que legal Ni. Parabéns, daqui uns dias vai tá escrevendo um texto! - Falei sorrindo.

Tomei todo meu açaí e logo Nicole terminou todo sorvete dela. A gente levantou e fomos saindo da sorveteria.

— Tia me leva na minha vovó. - Nicole disse.

— Ué porque? - Perguntei.

— Só quero ficar com a minha avó! - Nicole disse.

Eu puxei ela pra escadinha que tinha ali perto e sentei ela e me sentei do lado.

— Sabe Ni, eu sempre fui muito amiga da minha mãe, sempre contei os meus segredos pra ela e ela sempre me ajudou com tudo, e eu garanto que sua mãe te ajudaria também. - Falei e Nicole ficou cabisbaixa. - Me diz, o que aconteceu pra você não querer ficar perto de Paulinho e não quer voltar pra casa? - Perguntei.

— Nada tia, eu só quero ficar com minha avó! - Nicole disse se levantando. - Vamos tia! - Ela disse.

Eu suspirei e fui levando ela até a casa da mãe do Caveira. Chegamos o portão da casa e eu abaixei na altura dela.

— Ni, você sabe que eu e sua mãe somos sua amiga, você pode contar tudo pra gente, a gente pode ajudar, ninguém vai te fazer mal! - Falei e ela veio me abraçar.

Eu fiquei vendo ela entrar na casa e logo guiei pra casa, Letícia tava fazendo a janta, fui na cozinha e ela olhou por toda cozinha procurando Nicole.

— Ela quis ir na avó, ela não quis ficar! - Falei suspirando fundo.

— Eu to com medo de algo ter acontecido com ela e ela não fala! - Letícia disse fechando os olhos.

— Uma hora ela vai falar, vamos ficar de olho! - Falei abraçando Letícia.

*****

Dia seguinte...

Eu voltei do trabalho e quando cheguei em casa me deparei com vozes de discussão. Fui indo até as vozes gritavam e quando entrei no quarto me deparei com Paulinho e Letícia.

— Porra, e eu que tenho que saber Letícia? Tu encana em bagulho que eu nem sei caralho, eu trampo toda hora tu acha que eu tenho tempo de ficar de briga com Nicole? Eu considera a menina como filha pô! - Paulinho gritou esmurrando a cômoda.

Esmurra mesmo, que a próxima coisa a ser esmurrada vai ser sua cara.

— Caramba Paulinho, abaixa a porra da voz que você não tá falando com seus parças não. Se eu ficar sabendo de algo, você tá fodido! - Letícia gritou.

Letícia veio saindo e Paulinho pegou no braço.

— Solta ela porra, tá achando o que? - Gritei entrando no meio.

Não vem com essa de que em briga de marido e mulher não se mete, por que eu me meto sim, prefiro me meter do que ver mulher sendo morta ou agredida novamente!

Paulinho soltou e saiu dali numa velocidade. Letícia começou a esmurrar o travesseiro.

— Que ódio!!! - Letícia gritou.

— Relaxa! - Falei suspirando.

*****

Eu fiz Letícia dormir e fiquei na frente de casa sentindo aquele ar gelado. Aquela movimentação calma que só a favela tinha naquele horário, fora de dia de baile.

Eu vi um alguém vir descendo, tentei forçar o olho pra ver melhor e logo vi Fumaça. Ele veio vindo na minha direção e eu abaixei minha cabeça olhando minha unha.

— Qual é da gata parada aê na noite? - Fumaça disse chegando mais perto.

— Me erra! - Falei virando o rosto.

— Pô, tu ficou sabendo, Caveira tá na goma da coroa dele, manda o papo pra Letícia! - Fumaça falou encostando no muro.

Eu assenti a cabeça e fechei os olhos sentindo aquele vento gostoso. Quando abri meus olhos vi Fumaça me encarando sério.

— Eu amo tu! - Fumaça disse me agarrando com tudo ali.

Ele me agarrou e eu não tive nem reação, quando vi já estávamos nos beijando, ele me beijava com uma certa velocidade, aquele beijo depois de tanto tempo, daquela saudade.

— Cadê a Letícia porra! - Ouvimos uma voz gritando.

Eu empurrei Fumaça e encarei...

Paulinho?

— Fala baixo cacete! - Falei cruzando os braços.

— Cadê ela? Letícia! - Paulinho gritou.

Bêbado!

— Qual foi Paulinho, abaixa o tom pô! - Fumaça falou.

— Eu quero a Nicole. - Paulinho gritou.

Meu coração acelerou, eu fechei meus olhos sentindo aquele rasgo no meu coração, quando eu abri, foi coisa que parecia filme, eu vi um vulto rápido e quando vi era Caveira.

QUE?

Caveira pulou em cima de Paulinho e começou a esmurrar a cara dele, Fumaça foi puxar Caveira e Caveira arrancou a pistola e deu um tiro no braço de Paulinho.

— Tu vai queima vivo na porra do inferno teu corno, tu vai pagar pelo o que tu fez pela Nicole! - Caveira gritava levantando e dando chutes no Paulinho.

Eu me paralisei, ouvi a porta abrir e logo Letícia estava do meu lado e alguns moradores olhando pela janela.

— Para Caveira! - Letícia gritou indo até ele, mas Fumaça segurou ela.

— Esse estrupador relou na Nicole Letícia! - Caveira disse metendo chutes nele.

Eu senti me despedaçar. Eu tampei meus ouvidos e logo senti Fumaça me abraçar.

— Leva pra tortura esse safado! - Fumaça gritou pra um vapor.

Minha menina, me perdoe, nos perdoe!

• aperta na estrelinha •

A realidade de algumas pessoas, gente falem, jamais guarde para vocês, falem pra pessoa mais próxima, pra algum adulto, conte gente, denuncie pessoal!!! Se cuidem.

Do asfalto pra favelaOnde histórias criam vida. Descubra agora