62º

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Dulce

Durante todo o caminho até a casa de Christopher, Bernardo me fez várias perguntas sobre o que conversaríamos e os motivos de Christopher estar em seu apartamento e não em minha casa.

— Tudo vai ficar claro logo. — falei no tom mais sereno possível.

— Desse jeito eu vou morrer de ansiedade! — declarou. Eu sorri de lado e acariciei sua cabeça.

— Vai ficar tudo bem, eu prometo.

Finalmente estávamos de frente para a porta do apartamento dele. Tomei fôlego e toquei a campainha, que foi atendida em poucos segundos.

Ele nos deu um sorriso fraco, como se ainda estivesse tentando aceitar que aquilo iria mesmo acontecer.

— Papai! — Bernardo correu para abraçá-lo.

— Oi, meu amor! — Christopher o colocou no colo. — Como foi o jantar com o seu tio?

— Muito bom, ele é muito legal! Você deveria estar lá.

— Pois é... — me encarou. — Vamos sentar um pouco.

Nós três nos aconchegamos no sofá e antes de entrar no assunto principal, começamos a conversar sobre o dia que o Bernardo havia tido no colégio. E a forma como ele nos "ensinava" sobre os dinossauros que conheceu era muito doce.

— Agora vocês dois podem por favor me dizer o que está acontecendo? — seu semblante se tornou sério.

— Eu... — comecei. — Bem... — e então meus olhos se encheram de lágrimas. Mas por que? Eu era forte, ensaiei essa conversa várias vezes, já estava aceitando. — Eu... — minha voz ficou embargada e eu vi que não conseguiria continuar.

— Dulce? — Christopher pousou sua mão sobre a minha e me observou com a testa franzida, estranhando a minha sensibilidade repentina.

— Desculpe, eu não consigo. — levantei e fui até o banheiro, sem olhar para trás.

Parei de frente ao espelho, inspirei o ar e quando soltei, minhas lágrimas se soltaram junto. Chorei em silêncio, sentindo todos aqueles sentimentos explodirem em meu peito.

— Esse bebê... — resmunguei. — Está me deixando fragilizada! Pelo menos agora eu entendo porque andei tão ranzinza esses últimos dias. — dei uma risada leve.

Quando retornei para a sala, os dois estavam se abraçando e no ar, pairava uma sensação de dever cumprido. Quando me notaram, se desvencilharam do abraço.

— Papai já me contou tudo. Não se preocupe.

— Mesmo? — perguntei surpresa.

— Desculpe fazer isso sem você. — Christopher ficou de pé e veio até mim. — Eu vi como você ficou abalada. — tocou no meu rosto com uma das mãos e eu suspirei com alívio.

— Está tudo bem agora. — sorri.

— Mamãe, eu posso dormir aqui hoje? Amanhã é sábado, não tem aula.

— Sim, claro que pode. Vai ser até melhor, tenho muitas coisas pra resolver com o Alfonso amanhã.

— Será que a gente pode falar sobre o seu irmão? — Christopher perguntou.

— Claro.

— Filho, não quer jogar um pouco enquanto eu e a sua mãe conversamos?

— Sim!

Enquanto Bernardo estava distraído, eu fui até a varanda e esperando Christopher, observei a cidade. Eu iria enfrentar muita coisa, tomar decisões drásticas, e tudo com o que eu deveria me preocupar era a minha gravidez. Infelizmente, toda a situação não me deixava pensar sobre essa criança e o que eu faria com ela.

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