Dona de Mim

47º

Dulce

Ele nem se despediu ao sair e talvez fosse melhor assim, já que o clima parecia muito pesado. E mesmo que a gente não tivesse terminado, doeu ter que aceitar que agora ele não estaria aqui. Era como se a minha casa ficasse completamente vazia.

Fiz uma xícara de café, fui até o meu escritório e comecei a adiantar os trabalhos da semana. Se eu não me distraísse, provavelmente cairia no choro.

As horas foram passando e eu mal notei a chegada da madrugada. Já estava completamente jogada na cadeira do escritório, revisando todos aqueles projetos pela terceira vez naquela mesma noite.

A porta do escritório foi aberta vagarosamente e minha mãe entrou, vestindo seu pijama e com o rosto confuso pelo estado de sono.

— Você não vai dormir? — perguntou.

— Só vou dar mais uma olhada aqui.

— Dulce, querida... — ela veio até mim e segurou minhas mãos. — Eu sei que você deve estar arrasada por ele ir embora e por mais que eu não consiga entender o porquê de ele ser tão especial, vou me obrigar a sentir empatia. Agora, pelo amor que tem a ele, vá descansar.

— Essa foi a coisa mais maternal que você já me disse. — sorri de lado.

— Não seja boba! — riu. Ela caminhou até a porta, fazendo menção de sair.

— Mary? — a chamei.

— Sim?

— Eu posso dormir com você? Acho que vai ser meio solitário no meu quarto. — desviei o olhar.

— Não precisa nem pedir. Vou estar te esperando, mas não demore.

Saí do escritório logo depois dela, mas antes de ir até o quarto, passei no banheiro e lavei o meu rosto.

Minha mãe já estava coberta por seus lençóis quando eu entrei no quarto. Devagar, entrei debaixo das cobertas e fiquei observando o teto, torcendo pra que uma rajada de sono caísse em mim, mas a única coisa que veio foi uma vontade incontrolável de chorar. Era a mesma sensação de solidão que eu tinha quando ainda era a "senhorita Saviñon", megera temida.

Silenciosas, minhas lágrimas correram meu rosto até serem sugadas pelo algodão do meu travesseiro e mesmo que eu não emitisse nenhum barulho, minha mãe notou a minha tormenta como que por instinto.

— Dulce? — ela sentou e acendeu a luz do abajur. — Querida? Por que está chorando? — colocou a mão sobre a minha testa.

— E se ele for embora aos poucos? E se esse for só o primeiro passo? — minha mãe me olhou com incerteza, como se não soubesse o que dizer. — Eu sei que você não gosta dele, mas pelo amor de Deus, me diz alguma coisa que me faça tirar esse peso da minha cabeça! Me faz parar de acreditar que não sou suficiente!