64º

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Dulce

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Dulce

Hoje era o dia. Já estava tudo decidido. Eu iria entrar naquela clínica e sair de lá sem nada dentro do meu útero.

Parei meu carro no estacionamento e apertei forte o volante, tentando controlar a minha respiração que insistia em se acelerar a cada pensamento meu.

Tomei coragem, saí do carro e caminhei até a entrada da clínica. Lá, vários cristãos seguravam placas e gritavam palavras de protesto contra as mulheres que entravam no local. Aquilo só iria piorar ainda mais o meu dia.

Coloquei meus óculos escuros e de cabeça baixa, tentei passar por entre eles sem ser notada.

— Assassina! — alguém gritou ao meu lado, mas eu ignorei.

— Prefere passar a eternidade no inferno do que experimentar a dádiva de ser mãe? — outro disse.

E ouvindo frases retrógradas e cheias de ódio, segui meu caminho até me afastar completamente daquelas pessoas.

Na recepção, eu recebi uma ficha para preencher e logo depois, pediram que eu aguardasse.

Sentei ao lado de uma garota, que aparentava ainda ser menor de idade e que carregava em seu rosto uma sombra que eu nunca achei que veria numa adolescente.

Outras mulheres estavam ali, todas eram diferentes. Mulheres jovens, de meia idade e até idosas. Mas entre todas elas, eu com certeza me destoava, por conta das vestes de grife que usava. 

— Está esperando alguém? — perguntei para a garota ao meu lado.

— Esperando a minha vez de entrar. — respondeu num tom tristonho.

— Ah... — aquilo partiu o meu coração.

— Sei o que está pensando. Tão jovem e grávida? É, eu tenho 16 anos e engravidei. — deu de ombros.

— Não estou te julgando por isso. Todas aqui viemos fazer a mesma coisa. — eu disse. Ela me encarou, olhando-me de cima a baixo.

— Eu não vou ter por conta da minha idade, mas e você? Com certeza tem condições de criar uma criança.

— Ei, menina! — uma mulher à minha frente se meteu. — Você ainda é jovem e tenho certeza que ouviu muitas coisas das pessoas, mas saiba que não tem que ter um motivo maior pra isso. Se ela não quer ser mãe, está no direito de não ser. Não importa quais motivações tenha. — saiu em minha defesa.

— Claro. Me desculpe, eu ando estressada. Tive que resolver tudo isso sozinha. — seu modo de falar mudou, ficando mais calmo. — Você viu aquelas pessoas lá fora? Elas nos dizem que Deus é amor, mas afirmam que vamos pro inferno porque não queremos ser mães. Que amor é esse?

— Eu acho que eles têm o direito de acreditar no que quiserem. — falei. — Só é ruim que queiram empurrar suas crenças nas vidas de outras pessoas.

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