Capítulo 7

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Vanessa ministrava as aulas em sua sala. A turma era muito pequena, e além disso nenhuma outra sala oferecia o mesmo conforto, ou privacidade. Ela defendia a teoria de que os estudantes aprendiam mais numa atmosfera aprazível, menos acadêmica. Suas instalações luxuosas, cheias de flores até o rigor do inverno, como uma estufa, eram uma espécie de microcosmo platônico de sua idéia para sala de aula.

- Trabalho? -, ela disse certa vez, quando usei o termo para me referir às nossas atividades em classe. - Acredita mesmo que estamos aqui para trabalhar?

- Como devo chamar nossa atividade, então?

- Eu chamaria de um jogo da espécie mais gloriosa.

Quando seguia para lá, no dia da minha primeira aula, vi Robin Abernathy no gramado, à espreita, como um pássaro preto, o casaco escuro esvoaçando, alado, no vento. Demonstrava preocupação, fumando um cigarro, mas a possibilidade de ser vista por ela me encheu de uma inexplicável ansiedade. Escondi-me num pórtico e esperei até que ela passasse.

Quando subi a escadaria de acesso ao Lyceum, levei um susto ao vê-la sentada no parapeito da janela. Depois de olhá-la rapidamente, desviei a vista e estava a ponto de seguir pelo corredor quando ela disse:

- Espere! -, sua voz era segura, com um sotaque de Boston, quase britânico.

Dei meia-volta.

- Você é a nova neanias? -, perguntou zombeteira.

A garota nova. Confirmei.

Ela transferiu o cigarro para a mão esquerda e estendeu a direita para mim. Ossuda, a pele fina como a de uma adolescente.

Não se preocupou em declarar seu nome. Após um silêncio breve, constrangedor, falei o meu nome.

Dando a última tragada no cigarro, ela o atirou pela janela aberta.

- Sei quem é você. -, falou.

Encontramos Lauren e Dakota esperando na sala; Lauren lia um livro, e Dakota, debruçada sobre a mesa, falava a ela entusiasmada, em voz alta.

- ...falta de gosto, é isso aí, minha cara. Você me desapontou. Achei que tinha um pouco mais de savoir-faire, sem querer ofendê-la...

- Bom dia -, Robin disse, entrando atrás de mim e fechando a porta.

Lauren ergueu a cabeça, cumprimentou-a de leve e parou os olhos em mim, tão intensos...

- Oi -, Dakota disse, seguindo-se um - Oi, tudo bem? - para mim. - Imagine -, dirigiu-se novamente a Robin, - Lauren comprou uma caneta Montblanc.

- É mesmo? -, disse Robin.

Dakota apontou para a coleção de canetas pretas brilhantes que enchia o porta-canetas na escrivaninha da Vanessa.

- Se ela não tomar cuidado, Vanessa vai pensar que ela a roubou.

- Ela estava comigo quando a comprei. -, Lauren disse enfim tirando os olhos de mim.

- Quanto custa esse negócio, afinal? -, Dakota perguntou.

Ninguém respondeu.

- Pode falar. Quanto? Trezentos paus cada uma? -, Ela descansou seu peso considerável sobre a mesa, afinal, qual é a dela de ficar se debruçando sobre as mesas? - Bem que me lembro, você vivia dizendo que elas eram horrorosas. Jurava que nunca escreveria uma linha na vida, a não ser com pena e tinteiro. E agora?

Silêncio.

- Posso ver a caneta de novo? - Dakota disse.

Lauren tirou a caneta do bolso da calça e a colocou sobre a mesa.

A História Secreta - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora