Capítulo 10

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: - Puxa vida, adorei sua roupa, minha cara -, Dakota disse quando descemos do táxi. - Seda, não é?

: - Sim. Foi da minha mãe quando jovem. - Menti.

Entramos num restaurante minúsculo, aconchegante, com toalhas brancas e bay windows voltadas para um jardim à antiga - sebes, rosas em treliças, capuchinhas ladeando o caminho de pedra irregular. A clientela era composta de senhores prósperos de meia-idade: advogados corados do interior, com sapatos de sola de látex e ternos Hickey-Freeman, bem ao estilo de Vermont; senhoras de batom esbranquiçado e saias de lã e seda, bem-apessoadas, de perfil discreto e robusto. Um casal nos olhou de relance ao entrarmos, e tive uma noção clara da impressão que causávamos - duas belas estudantes universitárias, filhas de pais ricos, sem grandes preocupações na vida. Embora as senhoras, no geral, tivessem idade para ser minha mãe, uma ou duas eram na verdade muito atraentes. Bela jogada, se alguém consegue chegar lá, pensei, imaginando uma bela e razoavelmente jovem matrona entediada em sua mansão, o marido sempre fora da cidade, a negócios. Jantares sofisticados, dinheiro no bolso, quem sabe algo bem maior, como um carro...

O garçom aproximou-se. - : Tem reserva?

: - Corcoran -, Dakota disse, com as mãos no bolso, girando o calcanhar do pé esquerdo de um lado para o outro. - Onde foi parar o Caspar hoje?

: - Saiu de férias. Retorna dentro de duas semanas.

: - Sorte dele. -, ela disse simpática.

: - Direi que mando lembranças.

: - Por favor, faça isso.

: - Gaspar é um ótimo sujeito -, Dakota disse, seguindo o garçom até a mesa. - Maître de primeira. Um senhor alto, de bigode, austríaco ou algo assim. E não é... -, ela baixou a voz, quase num sussurro , - não é bicha, posso jurar. Os entendidos adoram trabalhar em restaurantes, já notou isso? Sabe, todas as bichas que já conheci...

Percebi que a nuca do garçom se retesou ligeiramente.

: - ...no mundo vivem obcecadas por comida. Sempre me intrigou - por que isso? Problema psicológico? Tenho a impressão...

Levei o dedo aos lábios e apontei para as costas do garçom, bem quando ele se virou para nos fulminar com o olhar indescritivelmente maligno.

: - Consideram esta mesa adequada, senhoritas? -, disse.

: - Claro -, Dakota respondeu, radiante e alheia.

O garçom nos apresentou o cardápio com delicadeza afetada, sarcástica, e saiu pisando duro. Sentei-me a abri a carta de vinhos, o rosto em brasa. Meu Deus, que decepção, constei, Dakota é homofóbica.

Ela ajeitou-se na cadeira, bebeu um pouco de água e olhou em volta, contente.

: - Belo local -, comentou.

: - Também gostei.

Dakota escolhera uma bebida engraçada de aparência calorosa.

: - Tomei isso pela primeira vez quando visitei a Jamaica no verão, há uns dois anos -, ela disse, saudosa. - Um barman chamado Sam o preparou para mim. 'Tome três doses, minha cara', ele falou para mim, 'e não achará mais o caminho de casa' e graças a Deus ele acertou. Já esteve na Jamaica?

: - Ultimamente não.

: - Provavelmente já enjoou de palmeiras, coqueiros e tudo mais, morando perto do deserto. Eu achei sensacional. Comprei um biquíni cor-de-rosa, estampado com flores. Tentei levar a Lauren para lá comigo, mas ela disse que lá não havia cultura, embora não seja verdade, existe um pequeno museu ou algo assim.

A História Secreta - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora