Capítulo 42

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Dakota chegou atrasada, de péssimo humor.

    ⁃ Christian -, ela disse bruscamente, - se pretende que sua irmã arranje um marido algum dia, acho melhor ensiná-la a passar roupa direito.

Eu estava exausta, a história do assassinato ainda estava fresca na minha memória, todavia, mesmo mal preparada, eu fiz o que pude para manter a atenção na aula. Tinha francês às duas, mas depois da aula de grego voltei direto para o quarto, tomei duas pílulas para dormir e fui para a cama. Os soníferos foram um recuso desnecessário; não precisava deles não ele momento, mas a mera perspectiva da insônia ou de uma tarde cheia de pesadelos e ruídos distantes do encanamento era desagradável demais.

Dormi profundamente, até mais do que deveria, e o dia passou com facilidade. Escurecia quando algo, ao longe, me acordou. Batiam na porta.

Era Lauren. Meu aspecto devia ser terrível, pois ela ergueu uma sobrancelha e riu ao me ver.

    ⁃ Você está bem? -, ela disse. - Está querendo hibernar de dia?

Pisquei para focaliza-lá. As janelas estavam fechadas, o corredor escuro, e para mim, meio drogada e sonolenta, ela não parecia mais a diva inacessível, e sim uma aparição inefável, terna, com seus pulsos finos, guarda-chuva em mãos, olhares curiosos e cabelos desgrenhados, a Lauren que residia, adorável, na penumbra melancólica dos meus sonhos.

    ⁃ Oi Lern, entre -, falei bocejando.

Ela entrou, fechando a porta atrás de si. Sentei-me na beira da cama desarrumada, descalça e com os botões da camisa abertos, e pensei no quanto seria maravilhoso se aquilo fosse mesmo um sonho, se eu pudesse andar onde ela estava e colocar as duas mãos em suas faces, e beijá-la nas pálpebras, na boca, no ponto em sua testa onde o cabelo preto se tornava castanho escuro. Mas eu estava mole demais para isso.

Trocamos olhares por um longo tempo.

    ⁃ Está doente? -, ela perguntou.

Seu guarda-chuva de ponta reluzente brilhava no escuro. Engoli em seco. De repente tornou-se difícil pensar no que dizer.

Ela se afastou para perto da porta.

    ⁃ Acho melhor ir embora -, ela disse. - Lamento ter incomodado. Passei para perguntar se queria dar uma volta de carro.

    ⁃ Como?

    ⁃ Uma volta. Tudo bem. Fica para outra vez.

    ⁃ Onde?

    ⁃ Em algum lugar. Em nenhum lugar. Marquei com a Robin em Commons daqui a dez minutos.

    ⁃ Não, espere um pouco -, falei. Eu me sentia maravilhosa. Um torpor narcótico ainda me fazia sentir os membros pesados, e imaginei como me divertiria a seu lado - tonta, hipnotizada - caminhando até Commons, na neve, ao escurecer.

Levantei-me - demorei muito para conseguir, o chão se afastava gradualmente sob meus olhos, como se eu estive crescendo mais e mais por força de um processo orgânico - e ao andar até o guarda-roupa tropecei em meus próprios pés e ia caindo de cara no chão quando senti braços firmes me segurando.

    ⁃ Será que terei que pegar você em meus braços sempre antes que caia? -, Lauren disse me levantando.

Eu ainda estava mesmo que pouco sob efeito dos soníferos, mas percebi quando ela se aproximou relativamente perto demais de mim.

Sorri feito boba quando a vi abotoando a camisa que eu vestia. Ela olhou para mim e sorriu também. Terminou de abotoar minha camisa e foi pegar meu casaco e luvas.

Ela praticamente me vestiu para sair - o que achei fofo de sua parte - ela passou meu cachecol pelo meu pescoço, beijei sua bochecha, sua mandíbula, meus dedos zombeteiros a sem escrúpulos indo direto para os seus seios macios.

Ela riu com as bochechas vermelhas.

    ⁃ Você está bêbada? -, ela perguntou me olhando com divertimento sem tirar minhas mãos de seus seios.

    ⁃ Sim -, falei. Não era verdade, mas faltava-me disposição para explicar.

    ⁃ Certo -, ela murmurou antes beijar-me delicadamente nos lábios. Seu beijo era, acredite se quiser, como chocolate quente e cobertor num inverno frio para mim. Me acordavam, com seu familiar formigamento.

Quando eu ia aprofundar o beijo para um patamar ainda mais quente ela se afastou relutante.

    ⁃ Temos que ir. -, ela disse suspirando com as bochechas vermelhas. Eu achava uma graça isso nela. - A Robin está nos esperando.

Sorri feito boba e levantei os braços para me espreguiçar.

    ⁃ Tudo bem -, falei abaixando os braços e suspirando. - Estou pronta.

Ela franziu a testa.

    ⁃ Lá fora está meio frio -, ela disse. Não acha melhor calçar os sapatos?

Olhei para baixo e percebi que estava descalça.

Depois de colocar os sapatos, nós fomos até Commons caminhando debaixo da chuva fina, na neve semiderretida, e, quando chegamos, Christian, Charlie e Robin nos aguardavam. A composição do grupo era significativa, embora pouco clara, com a presença de todos, menos da Robin.

- O que está acontecendo? -, perguntei olhando de relance para eles.

- Nada -, Lauren disse, desenhando no chão com a ponta afiada e reluzente do guarda-chuva. - Vamos apenas dar uma volta. Pensei que seria agradável -, ela parou, diplomaticamente, - se saíssemos um pouco da faculdade, talvez para jantar...

Sem Dakota, deixou subentendido. Onde estaria ela?

A História Secreta - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora