Capítulo 21

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O que devo contar? Sobre o que aconteceu no sábado de dezembro, em que Dakota saiu correndo pela casa às cinco da madrugada, gritando "Primeira nevada!", e surpresa, pegando Robin no pulo saindo do quarto de Charlie e questionando confusa o que ela fazia lá dentro a essas horas? Sobre como ela ficou estranha com as duas depois disso? Ou sobre o dia em que Charlie tentou me ensinar sapateado? Ou sobre a vez em que Dakota virou o bote - com Robin e Charlie dentro - porque imaginou ter visto uma cobra-d'água? Ou sobre a festa de aniversário da Lauren, ou sobre as duas oportunidades em que a mãe de Robin - cabelos ruivos, sapatos de crocodilo e esmeraldas - apareceu para visitá-la, a caminho de Nova York, carregando o Yorkshire terrier e o seu segundo marido (A mãe dela era pirada; Quentin, o segundo marido, parecia um personagem de novela de televisão, um pouco mais velho que Robin. Ela se chamava Olivia. Quando a conheci, ela acabara de sair do Centro Betty Ford, curada do alcoolismo e da dependência de uma droga não especificada, pronta para trilhar o caminho do pecado novamente. Christian me contou que a mãe da Robin, certa vez, batera em sua porta no meio da noite perguntando se gostaria de ir para a cama com Quentin e ela. Achei aquilo horário e ainda hoje recebo os cartões de boas-festas dela.)

Certo dia, no entanto, se mantém particularmente vívido, um sábado luminoso de outubro, um dos últimos dias quentes daquele ano. Na noite anterior - que fora bem fria - ficamos todos conversando e bebendo até quase o amanhecer, e acordei tarde, afogueada, sentindo náuseas, às cobertas chutadas para o pé da cama, o sol entrando pela janela. Permaneci imóvel por um longo tempo. O sol entrava vermelho e dolorido pela pálpebra fechada. A casa em torno de mim estava silenciosa, trêmula, opressiva.

Desci com dificuldade, os pés estalando dos degraus. A casa estava imóvel, deserta. Finalmente encontrei Christian e Dakota na extremidade sombreada da varanda. Dakota vestia shorts e camiseta regata; Christian, o rosto manchado de um rosa-albino, os olhos cerrados, quase trêmulos de dor, usava um robe de algodão caindo aos pedaços, furtado de um hotel.

Eles tomavam prairie oysters. Christian empurrou o dele em minha direção sem sequer olhar.

- Tome -, ele disse. - Vou enjoar se continuar vendo isso na minha frente mais um segundo.

A gema tremeu, levemente, mergulhada em ketchup e molho Worcestershire.

- Não quero -, falei, devolvendo o ovo.

Ele cruzou as pernas e tapou o nariz com as pontas do polegar e do indicador.

- Nem sei por que preparei esta coisa -, comentou. - Nunca dá certo. Acho melhor tomar um alka-seltzer.

Lauren fechou a porta de tela atrás de si e percorreu indiferente a extensão da varanda em seu roupão de banho listrado de vermelho.

- Na verdade -, ela disse chegando perto de nós - Você precisa um sorvete.

- Você tem mania de sorvete. Ele não resolve tudo.

- Funciona, se quer saber. É um fato científico. Alimentos gelados aliviam a náusea e...

- Sempre diz isso, Lauren, mas não creio que seja verdade.

- Quer prestar atenção por um segundo? O sorvete retarda a digestão. A coca-cola acalma o estômago e a cafeína cura a dor de cabeça. O açúcar repõe as energias. Além disso, ajuda a metabolizar o álcool mais depressa. É a combinação perfeita.

- Então prepare um para mim, por favor -, Dakota disse.

- Prepare você mesma -, retrucou Lauren, repentinamente irritada.

- Sério -, Christian disse. - Só preciso de um alka-seltzer.

Robin desceu logo depois, seguida por Charlie, sonolenta, corada é úmida do banho, o cabelo de ambas estava molhada dando uma impressão cheia de conotações para aqueles que sabiam do caso das duas e deixando uma dúvida no ar para aqueles que não sabiam, no caso, a Dakota e talvez o próprio Christian.

A História Secreta - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora