Capítulo 77

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                         Lauren POV

Você já se sentiu triste e com raiva a ponto de simplesmente não saber o que fazer com você mesma porque é desnecessário?

Era assim que eu me sentia desde que a Vanessa decidira simplesmente sumir num piscar de olhos quando descobriu a verdade sobre a morte da Dakota. Pensei, a pessoa mais genial que eu conhecera, sumindo da minha vida tão rápido quanto entrou.

"Um dia você se sentará ao sol e as coisas não parecerão tão ruins."

Reli o último trecho da carta que Vanessa me mandara assim que nos conhecemos. Ri, que grande mentira.

Eu havia aberto meu coração para ela, jamais fizera isso com a minha própria mãe. Ela sabia da demasiada melancolia que me dominava a alma, sabia como eram difíceis os dias para mim.

Vocês por acaso já conheceram alguém que é a versão humana do sol e toda vez que você está com ela, você se sente tão quente que é capaz de esquecer dos demais problemas mundanos? Com Vanessa era assim. Tínhamos um clássico relacionamento de mestre e aluna. Ela era meu Aristoteles em meio à selvagens.

Com ela a minha vida tinha sentido. Estudar grego a vida inteira em sua companhia sempre me pareceu um sonho que agora se desmanchava com a umidade da realidade.

Eu sempre pensei que minha vida era uma compilação assustadora de acontecimentos infelizes, mas agora percebo que é uma verdadeira tragédia.

Camila, a quem me apeguei quase que instantaneamente, sentia-se confusa quanto aos meus sentimentos, se afastando aos poucos. Como eu pude deixar isso acontecer?

Robin, pobre Robin, se perdia nos acontecimentos recentes em meio ao desespero que tentar fazer algo que fosse ajudar.

Christian. Onde eu estava com a cabeça quando pensei que seria uma ótima ideia ajudá-lo com a Charlie? Esta que imagino, quer me ver morta.

Quero acreditar implicitamente que as coisas vão ficar melhores de agora em diante, eu quero mesmo acreditar nisso, mas não vejo escapatória para o fim que planejo desde os quatorze anos, que tanto me assombraram, ocultos como uma sombra não vista, que me acompanharam desde então.

Céus, eu queria simplesmente parar de pensar.

                         Camila POV

Não foi fácil convencer Charlie a atender a porta. Batemos durante meia hora quase. Christian nos dera a chave, mas só a usaríamos em último caso. Quando pensávamos nisso, a porta se abriu, e Charlie nos espiou pela fresta.

Parecia desorientada, terrível.

- O que querem? -, ela disse.

- Nada -, Robin falou, tranquila, apesar da pausa espantada de alguns segundos de duração. - Podemos entrar?

Charlie olhou para trás de nós.

- Vieram com mais alguém?

- Não -, Robin disse.

Ela abriu a porta e nos deixou entrar. As janelas estavam fechadas, e o local cheirava a lixo. Meus olhos, quando se ajustaram à penumbra, viram pratos sujos, maçãs comidas e latas de sopa espalhadas, cobrindo quase todas as superfícies disponíveis. Ao lado da geladeira, organizavas em fila perversa, havia um monte de garrafas vazias de scotch.

Uma sombra passou pelo balcão da cozinha, escondendo-se entre as panelas sujas e as embalagens vazias de leite. Meu Deus, pensei, é um rato? Mas logo o bicho pulou para o chão, e vi que se tratava de um gato. Seus olhos brilharam para nós na escuridão.

A História Secreta - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora