Capítulo 70

17 2 4
                                    

"Minha vida até agora parece caótica, pouco convincente e desorganizada. Peço desculpas pela demora do capítulo sair, estive de mãos atadas até então."

***

Mais tarde, depois que fui para casa, tomei uma ducha e descansei, saí para visitar Robin.

- Entre, entre -, ela disse, acenando freneticamente. Espalhara os livros de grego sobre a mesa; um cigarro queimava no cinzeiro lotado. - O que aconteceu ontem à noite? Charlie foi presa? Lauren não quis me contar nada. Soube de parte da história por Christian, mas ele desconhecia os detalhes... Sente-se. Quer tomar um drinque? O que prefere?

Era sempre divertido contar uma história a Robin. Ela se debruçava, saboreando cada palavra, reagindo de modo adequado nos intervalos, com simpatia, surpresa ou aflição. Quando terminei, bombardeou-me com perguntas. Normalmente, satisfeita com sua profunda atenção, eu teria esticado a história, mas a pós a primeira pausa razoável, falei:

- Bem, eu queria perguntar uma coisa a você.

Robin acendeu outro cigarro. Fechou o isqueiro e franziu a sobrancelha.

- O que é?

Embora eu tivesse pensado em diversas maneiras de formular a questão, concluí que seria mais garantido, para obter uma resposta clara, ir direto ao ponto.

- Você acha que Charlie e Christian dormem juntos?

Ela foi surpreendida no meio da tragada. A fumaça saiu pelo nariz, com a pergunta.

- Dormem?

Robin tossia.

- Por que está fazendo uma pergunta dessas? -, ela perguntou finalmente.

Contei o que havia presenciado naquela manhã. Ela ouviu, os olhos vermelhos lacrimejando por causa da fumaça.

- Não foi nada -, ela disse. - Provavelmente ela ainda estava meio bêbeda.

- Não respondeu minha pergunta.

Ela deixou o cigarro queimando no cinzeiro.

- Tudo bem -, ela disse, piscando. - Se quer saber minha opinião, acho que sim...Às vezes penso que dormem.

Robin manteve os olhos fechados no silêncio que se seguiu, depois os esfregou com o polegar e o indicador.

- Não creio que aconteça com muita frequência -, ela disse. - Mas a gente nunca sabe. Dakota sempre dizia que os surpreendera certa vez.

Eu a encarei.

- Ela contou para a Lauren, não para mim. Lamento, mas desconheço os detalhes. Creio que ela tinha a chave do apartamento. E sabe como ela costumava entrar sem bater. Puxa vida -, ela disse. - Você já devia ter desconfiado.

- Não -, falei, embora já desconfiasse desde que os conheci. Mas atribuíra isso a minha mente suja, a pensamentos degenerados, a uma projeção de meus próprios desejos - pois os dois eram irmãos e se pareciam muito, e pensar nos dois juntos provocava, além de sentimentos previsíveis como inveja, aflição e repugnância, outro mais intenso, excitação.

Robin me observava atentamente. Senti que ela sabia exatamente o que eu estava pensando.

- Eles sentem muito ciúme um do outro -, ela disse. - Ela, muito mais do que ele. Sempre vi isso como uma atitude infantil, curiosa, pura provocação, da boca pra fora. Até Vanessa costumava brincar com isso. Sabe, sou filha única, assim como Lauren. Desconhecemos estas coisas. Quantas vezes comentamos o quanto seria interessante ter um irmão! - Ela riu. - Mais interessante do que imaginávamos, pelo jeito. Não que eu considere isso uma coisa terrível - do ponto de vista moral, digo -, mas também não é a atitude mais natural e tranquila do mundo, como se poderia esperar. A coisa sempre é muito mais profunda e revoltante. No outono passado, mais ou menos na época em que o fazendeiro...

A História Secreta - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora