Capítulo 16

29 3 0
                                    

Eu estava muito bêbada; caso contrário, não teria simplesmente feito que sim e seguido Lauren sem perguntar absolutamente nada. Para chegar à porta, precisávamos abrir caminho pela pista de dança: suor e calor, luzes cegantes piscando, corpos em terríveis colisões, certo momento, ela pegou na minha mão, apertou e me puxou mais firme para perto de si. Quando por fim saímos, eu me senti como se mergulhasse numa piscina de água fria e calma. A música depravada e os gritos arrefeceram, contidos pelas janelas fechadas.

- Minha nossa -, Lauren disse, soltando nossas mãos. Só então percebi que elas ainda estavam juntas e que meus dedos formigavam. - Esta festa está um inferno. Tem gente vomitando por todos os cantos.

O acesso de pedrisco refletia o luar prateado. Robin esperava oculta pelas sombras das árvores.  Quando nos viu, saltou de repente no caminho iluminado.

- Bu! -, gritou.

Nós duas pulamos de susto. Robin sorriu de leve, a luz faiscando no pincenê fraudulento. A fumaça do cigarro saía pelas narinas.

- Oi -, falou para mim, antes de olhar para Lauren. - Pensei que tivesse fugido.

- Deveria ter entrado junto comigo.

- Ainda bem que não entrei -, Robin disse. - Vi coisas muito interessantes aqui fora.

- Por exemplo?

- Guardas de segurança transportando uma moça de maca e um cachorro preto atacando alguns hippies. -, Robin riu, jogando as chaves do carro para o alto e fazendo com que tilintassem quando as apanhou. - Estamos todas prontas?

Ela tinha um conversível. Dirigiu o Mustang antigo o tempo inteiro com a capota abaixada no caminho para sua casa de campo. Nós três fomos no banco da frente. Por incrível que pareça, eu nunca tinha andado num conversível, e por mais incrível que pareça, consegui dormir, apesar tanto do movimento quanto dos meus nervos, que deveriam ter me mantido acordada. Mesmo assim dormi, peguei no sono com a bochecha encostada no forro de couro da porta, a semana de insônia e seis vodkas com tônica fatais como injeção.

Pouco me recordo do trajeto. Robin dirigia bem devagar - era uma motorista cautelosa, ao contrário de Lauren, que guiava rápida e quase sempre irresponsavelmente, apesar de não ter uma visão tão perfeita. O vento noturno em meus cabelos, a conversa indistinta das duas, as músicas no rádio, tudo se misturava e borrava em meus sonhos. Depois de alguns minutos de viajem, segundo minha impressão, tomei consciência repentina do silêncio e da mão de Lauren em meu ombro.

- Acorde -, ela disse. - Chegamos.

Confusa, meio sonhando, sem saber direito onde estava, sacudi a cabeça e me ajeitei no assento. Babara no queixo; limpei a saliva com as costas da mão.

- Está acordada?

- Sim -, respondi, embora não estivesse. No escuro, não via nada. Os dedos finalmente encontraram a maçaneta da porta, e só então, ao sair do carro, a lua escapou de trás das nuvens e vi a casa. Era tremenda. Vi a silhueta negra como nanquim, contra o céu, com suas torres pontudas, um pesadelo. - Minha nossa - , falei.

Lauren encontrava-se a meu lado, porém mal me dei conta de sua presença antes que falasse, e a proximidade de sua voz me assustou.

- Não se pode ter uma boa idéia da casa à noite -, ela disse.

- Pertence a Robin? -, perguntei.

Robin riu, chegando perto de nós duas.

- Não. É da minha tia. Grande demais para ela, mas recusa-se a vendê-la. Passa o verão aqui com meus primos. Durante o resto do ano, há apenas um caseiro.

A História Secreta - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora