Os minutos transcorriam com penosa lentidão. No apartamento, tudo quieto: tilintar de copos, embaralhar de cartas, apenas. Lauren enrolara as mangas acima do cotovelo, o sol refletia no aro metálico do pincenê da Robin. Concentrei-me no embaralhar de cartas o quanto pude, mas de tempos em tempos pregava os olhos nos movimentos da Lauren e no relógio na parede acima da lareira. Lauren estava pensativa, fumando um cigarro atrás do outro, impaciente.
Perdi as contas de quantas vezes embaralhei o baralho. A sala escureceu.
Lauren apagou o cigarro.
- Chega -, ela disse.
- Cansei também -, Robin falou. - Por que demoram tanto?
O relógio tiquetaqueava audivelmente, de modo irregular, fora de ritmo. Permanecemos ali sentados, ao crepúsculo, deixando de lado as cartas ou qualquer outra distração. Christian pegou uma maçã no cesto de frutas e sentou-se à janela, comendo lentamente enquanto olhava para a rua. A luz da tarde brilhava em volta de sua silhueta, queimando seu cabelo de vermelho e dourado.
- Talvez tenha dado tudo errado -, Robin disse.
- Não seja ridícula. O que pode ter dado errado? -, Lauren falou.
- Um milhão de coisas. A Charlie pode ter perdido o controle, por exemplo.
Lauren a encarou, cética.
- Acalme-se -, ela disse. - Não sei de onde tira essas ideias. De Dostoiévski, por acaso?
Robin ia responder quando Christian deu um pulo.
- Está chegando -, ele disse.
Lauren levantou-se.
- Onde? Está sozinha?
- Sim -, Christian disse, correndo para a porta.
Ele desceu para encontrá-la na entrada, e logo os dois estavam de volta.
Charlie chegou de olhos arregalados e cabelos desgrenhados. Tirou o casaco, jogou-o em cima da cadeira e acomodou-se pesadamente no sofá.
- Por favor, alguém, preciso de uma bebida.
- Foi tudo bem?
- Sim.
- O que aconteceu?
- Cadê a bebida?
Lauren, impaciente, serviu-lhe uísque num copo sujo.
- Foi tudo bem? Chamaram a polícia?
Charlie bebeu um gole demorado, franziu a testa e fez que sim.
- E Ashley, para onde foi? Para casa dela?
- Acho que sim.
- Conte tudo, desde o início.
Charlie terminou de beber e largou o copo. O rosto se avermelhara, febril, suado.
- Você tinha razão quanto ao quarto -, ela disse.
- O que quer dizer com isso?
- Foi pavoroso. Terrível. A cama desarrumada, poeira cobrindo tudo, metade de um chocolate em cima da mesa, as formigas fazendo a festa. Ashley ficou com medo e queria ir embora, mas liguei para o Brian antes que ela saísse. Ele chegou em poucos minutos. Olhou em torno, parecia assustado, mas não falou quase nada. Ashley ficou muito agitada.
- Ela mencionou a história das drogas?
- Não. Ela tentou puxar o assunto um par de vezes, mas ele não lhe deu muita atenção. -, ela olhou para cima. - Sabe, Lauren -, ela disse abruptamente, - creio que cometemos um grande erro não indo lá antes. Deveríamos ter revistado o quarto antes que um deles o visse.
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A História Secreta - Camren
Fiksi Penggemar...Os fantasmas existem mesmo. As pessoas, em todos os lugares, sempre souberam disso. E acreditamos neles, assim como Homero. Só que hoje em dia usamos nomes diferentes. Lembranças. O inconsciente. E Camila sabia bem disso, pois os fantasmas do pa...