Capítulo 30

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De certa forma eu acreditava que tudo seria como antes quando os gêmeos retornassem, que voltaríamos ao Liddell e Scotts, ao sofrimento dos exercícios de composição em prosa grega em grupo, enfim, à rotina do semestre anterior. Quanto a isso, eu me enganei.

Charlie e Christian escreveram dizendo que voltariam a Hampden no trem noturno, por volta da meia-noite de domingo, e na manhã de segunda-feira, quando os estudantes começassem a encher Monmouth House com seus equipamentos de som e caixas de papelão e esquis, contava que me visitassem, mas eles não vieram. Passei a terça-feira sem saber do paradeiro deles, nem de Lauren ou dos outros, exceto de Vanessa, que deixara um recadinho cordial em minha caixa de correio, com boas-vindas pelo reinício do curso e o pedido para traduzir um ode de Píndaro para a primeira aula.

Na quarta-feira compareci à sala de Vanessa para pegar sua assinatura em meus cartões de matrícula. Ela demonstrou entusiasmo ao rever-me.

- Camila, você parece bem -, disse, - mas não tão bem quanto deveria. Lauren tem me mantido informada sobre sua recuperação do inverno.

- É mesmo?

- Ainda bem que ela antecipou a volta da viagem -, Vanessa disse, examinando meus cartões. - Vê-la também me surpreendeu, contudo. Ela foi direto do aeroporto para minha casa, em meio a uma tempestade de neve, no meio da noite.

Muito interessante, pensei, tentando não ficar mais intrigada e com um ciúmes sem cabimento.

- Ela ficou em sua casa? -, perguntei.

- Sim, apenas por alguns dias. Lauren também andou doente. Na Itália.

- Qual foi o problema?

- Lauren não é tão forte quanto aparenta. Sofre da vista - o que é uma grande pena, tendo em vista que ela tem belos olhos verdes -, tem dores de cabeça terríveis, às vezes sente dificuldades... creio que não se encontrava em condições de viajar, mas no fundo foi bom que não tivesse ficado por lá, ou não teria te encontrado. Fale a respeito. Como foi parar num lugar terrível daqueles? Seus pais não lhe mandam dinheiro, ou envergonha-se de pedir?

- Eu não gosto de pedir as coisas pra eles.

- Então ganha de mim em matéria de estoicismo -, ela disse, rindo. - Contudo, seus pais não morrem de amores por você, certo?

- Nem um pouco.

- Sabe o motivo, por acaso? Seria muito rude da minha parte perguntar isso? Suponho que deveriam sentir-se orgulhosos e, no entanto, você parece mais órfã do que os órfãos de verdade. E diga uma coisa -, ela falou, olhando para o relógio em seu punho, - por que os gêmeos ainda não me procuraram?

- Não sei, também não os vi.

- Onde podem estar? Ainda não fui procurada nem por Lauren. Apenas por você e Dakota. Robin telefonou, e conversamos brevemente. Estava com pressa, afirmou que passaria por aqui depois, mas não o fez... Duvido que Dakota tenha aprendido italiano. Não, nem uma palavra. O que pensa?

- Eu não falo italiano.

- Nem eu. Agora não mais. Costumava ser fluente. Morei em Florença por algum tempo, mas isso já foi há mais de dez anos. Estará com eles esta tarde?

- Talvez.

- Claro, trata-se de um assunto de menor importância, mas os cartões de matrícula devem seguir para o escritório do deão esta tarde, e ele se mostrará irritado se eu não os enviar. Não que me importe, mas poderá tornar as coisas difíceis para qualquer um de vocês, se quiser.

Preocupei-me, de certo modo. Os gêmeos estavam em Hampden havia dois dias, sem me ligar uma vez e Lauren não deu nenhum sinal de vida em nenhuma das duas noites no meu quarto. Quando saí da sala da Vanessa parei no apartamento dos gêmeos, mas não os encontrei.

A História Secreta - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora