Capítulo 52

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quando a sarah paulson disse: eu tive uma juventude complicada e minhas professoras estavam muito dedicadas a cuidar de mim de uma maneira específica

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quando a sarah paulson disse: eu tive uma juventude complicada e minhas professoras estavam muito dedicadas a cuidar de mim de uma maneira específica. e, ao fazer isso, acho que desenvolvi um relacionamento muito fácil com pessoas mais velhas que eu. manas, eu senti isso que ela quis dizer de uma maneira muito profunda.pqp

                              ***
Vanessa, como de costume, preparou ela própria o almoço, e comemos na mesa redonda em sua sala. Depois de semanas seguidas de nervosismo, revelações, conversas desagradáveis e péssima comida no refeitório, a perspectiva de uma refeição em sua companhia era imensamente animadora; ela era uma companhia encantadora, e seus pratos, embora enganosamente simples, continham uma espécie de integridade augusta, um luxo que jamais deixava de satisfazer o convidado.

Comemos cordeiro assado, batatas, ervilhas com alho-poró e erva-doce; bebemos uma garrafa de Château Latour, encorpado e alucinadamente delicioso. Comi com um apetite que não sentia havia eras, quando notei que mais um prato surgira, num passe de mágica, perto do meu cotovelo. Cogumelos. Pálidos e esguios, do tipo que eu vira antes, borbulhando em um molho de vinho tinto que cheirava a coentro e arruda.

- Onde conseguiu isso? -, perguntei.

- Ah. Você é muito observadora. -, ela disse satisfeita. - Não são maravilhosos? Muito raros. Lauren os trouxe para mim.

Tomei um gole rápido de vinho para ocultar minha decepção.

- Ela me disse... posso? -, perguntou, apontando para a travessa.

Passei-lhe a travessa, e ela pôs alguns em seu prato.

- Obrigada -, ela disse. - O que eu estava dizendo? Ah, claro. Lauren me contou que este cogumelo, especificamente, era um dos pratos favoritos do imperador Cláudio. Interessante, quando penso na maneira como Cláudio morreu.

Eu me lembrava. Agripina incluiu um cogumelo venenoso em seu prato certa noite.

- São muito saborosos -, Vanessa disse ao experimentar o primeiro. - Você saiu com Lauren, em suas expedições de coleta?

- Ainda não.

- Devo confessar que nunca dei muita importância a cogumelos, mas, como todos os seus presentes, eles são divinos.

Entendi tudo de repente. Lauren preparava o caminho com muita inteligência.

- Foi a primeira vez que ela os trouxe? -, perguntei.

- Claro. Eu obviamente não confiaria em qualquer um, em casos como este, mas Lauren parece conhecer profundamente o assunto, o que me surpreende.

- Creio que ela conhece mesmo. -, falei, pensando nos cachorros envenenados.

- Ela é uma garota notável em tudo o que faz. Sabe plantar flores, consertar relógios como um relojoeiro, fazer somas gigantescas de cabeça. Mesmo quando se trata de algo simples, como um curativo no dedo, ela consegue um resultado superior ao dos outros. - Vanessa serviu mais um copo de vinho. - Soube que os pais sofreram um grande desapontamento quando Lauren resolveu concentrar-se exclusivamente nos clássicos. Discordo deles, claro, mas de certo modo é mesmo uma pena. Ela daria uma ótima médica, ou secretaria de estado, ou cientista.

Ri.

- Ou uma ótima espiã.

Vanessa riu também.

- Vocês todos dariam ótimos espiões -, ela disse. - Esgueirando-se nos cassinos, ouvindo conversas de chefes e líderes importantes. Não quer mesmo experimentar os cogumelos? Estão sensacionais.

Bebi o resto do vinho.

- Mas é claro -, falei, estendendo o braço para apanhar a travessa.

Depois do almoço, quando os pratos já haviam sido lavados e conversávamos sobre temas gerais, Vanessa perguntou, de supetão, se eu notara alguma peculiaridade em Dakota recentemente.

- Não notei nada de especial -, menti, tomando um gole de chá, cuidadosamente.

Ela ergueu uma sobrancelha.

- Não? Mas seu comportamento tem sido muito estranho. Lauren e eu conversamos ontem mesmo sobre os modos bruscos e agressivos da Dakota.

- Creio que ela anda de mau humor.

Ela balançou a cabeça, desacreditada.

- Não sei. Dakota é uma garota simples. Jamais pensei que me surpreenderia com atos ou palavras dela e, no entanto, tivemos uma conversa muito bizarra há pouco tempo.

- Bizarra? -, perguntei cautelosa.

- Talvez tenha apenas lido algo que a perturbou. Não sei. Preocupo-me com ela.

- Por quê?

- Francamente, temo que ela esteja a ponto de se converter a alguma religião. Seria um desastre.

Aquilo me intrigou.

- Realmente?

- Já vi acontecer antes. E não consigo pensar em outra razão para seu súbito interesse pela ética. Não que Dakota seja uma devassa, mas eu a considero uma das garotas menos preocupadas com a moral que já conheci. Surpreendi-me quando ela começou a indagar - com toda a seriedade - sobre conceitos nebulosos, do tipo Pecado e Perdão. Ela anda pensando em ir à igreja, posso antecipar. Talvez aquele rapaz tenha algo a ver com isso, não concorda?

Ela se referia a Brian. Vanessa tinha o hábito de atribuir todos os defeitos da Dakota a ele, indiretamente - a preguiça, o mau humor, a falta de gosto.

- Talvez -, falei.

- Ele é católico?

- Creio que seja presbiteriano -, falei. Vanessa sentia um desprezo educado, porém implacável, pela tradição judaico-cristã em todas as suas manifestações. Ela negava isso quando indagada, citando evasivamente sua afeição por Dante e Giotto, mas qualquer demonstração aberta de religiosidade detonava o alarme pagão; eu acreditava que ela, como Plínio, com quem se parecia em vários aspectos, considerava o cristianismo um culto degenerado, levado a extremos extravagantes.

- Presbiteriano, é? -, ela disse, desanimada.

- Creio que sim.

- Bem, independente do que se pensa do catolicismo romano, trata-se de um poderoso inimigo. Aceitaria uma conversão a ela com resignação. Mas sofreria uma decepção profunda se a perdesse para os presbiterianos.

A História Secreta - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora