Capítulo 62

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Após o almoço, depois da aula de francês, sentei-me no andar de cima da biblioteca com os livros abertos sobre a mesa na minha frente. O dia claro estava estranho, brilhante, como num sonho.

Nesta época, pensei, há um ano. O que eu fazia? Ia para San Francisco, no carro emprestado por uma amiga, percorrer a seção de poesia das livrarias, preocupada com minha matrícula em Hampden. E agora aqui estava eu, sentada num quarto frio, usando roupas estranhas e com medo de ir para a cadeia.

Nihil sub sole novum. Um apontador de lápis gemeu alto em algum lugar. Baixei a cabeça sobre meus livros - sussurros, passos cuidadosos, o cheiro de papel velho nas narinas. Semanas antes, Lauren ficará furiosa quando os gêmeos manifestaram escrúpulos moralistas em relação à ideia de matar a Dakota.

- Não sejam ridículos -, Lauren sapecou.

- Mas como -, Charlie disse, já a ponto de chorar, - como você pode justificar um assassinato a sangue-frio?

Lauren acendeu um cigarro.

- Prefiro pensar nisso -, ela disse -, como uma retribuição de matéria.

Acordei assustada ao ver Lauren e Robin em pé na minha frente.

- O que foi? -, perguntei, esfregando os olhos ao encará-las.

- Nada -, Lauren disse. - Quer ir até o carro conosco?

Sonolenta, desci a escada e as segui até onde haviam estacionado o carro, na frente da biblioteca.

- Qual é o problema? -, perguntei depois que entramos.

- Sabe onde Charlie se meteu?

- Ela não está no apartamento dela?

- Não. Vanessa também não a viu.

- O que querem com ela?

Lauren suspirou. Fazia frio dentro do carro, o ar que ela soltava era branco.

- Aconteceu alguma coisa, Camz -, ela disse. - Robin e eu vimos Brian na guarita, com Ashley Gilbert. Conversavam com alguém da segurança.

- Quando?

- Faz uma hora mais ou menos.

- Acha que eles tomaram alguma providência?

- Não devemos tomar decisões precipitadas -, Lauren disse. Olhava para fora da janela. - Gostaríamos que Charlie passasse no quarto de Ashley para descobrir o que aconteceu. Eu mesma iria, se a conhecesse melhor.

- E ela me odeia -, Robin disse.

- Eu a conheço um pouco.

- Não o bastante. Charlie e ela se dão bem, mas não consigo encontrá-la também.

Tirei um Rolaids do bolso e comecei a mascar.

- O que está comendo? -, Robin perguntou.

- Rolaids.

- Aceito um, caso não se importe -, Lauren disse. - Acho melhor passarmos no apartamento dos gêmeos outra vez.

Desta vez Charlie abriu a porta, apenas uma fresta, para espiar desconfiada. Lauren começou a dizer algo, mas ela lançou um olhar de alarme.

- Oi -, ela disse com a voz tremida. - Entrem.

Nós a seguimos sem dizer uma só palavra pelo corredor escuro até a sala. Lá, junto com Christian, estava Ashley Gilbert.

Christian levantou-se, nervoso; Ashley continuou onde estava, olhando para nós com ar sonolento, inescrutável. Vermelha de tanto tomar sol, os cabelos rebeldes precisavam de um pente. Christian ergueu as sobrancelhas para nós e sua boca formou a palavra drogada.

A História Secreta - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora