Capítulo 76

32 1 3
                                    

Charlie recebeu alta no hospital no dia seguinte. Apesar da insistência da Robin em levá-la para sua casa por algum tempo, Charlie insistiu em voltar a seu próprio apartamento. Suas faces estavam encovadas; perdera peso e precisava pentear o cabelo. Saiu de lá deprimida, zangada. Não contamos o que ocorrera.

Senti pena da Robin. Percebi que se preocupava com Charlie, incomodava-se em vê-la tão hostil e ensimesmada.

Não me considerava ansiosa para voltar à aula de grego, mas quando chegou segunda-feira levantei da cama e fui assim mesmo. Lauren e Christian já estavam lá quando cheguei. Lauren, notei, tinha os olhos inchados e estava muito pálida. Olhando pela janela, ignorou a presença da Robin e a minha.

Christian estava nervoso - sem graça, talvez, pelo modo como Lauren se comportava. Mostrou-se ansioso para saber da Charlie, e fez muitas perguntas, mas não recebeu resposta alguma para a maioria delas. Dez e dez. Nada da Vanessa. Dez e quinze.

- Vanessa nunca chegou atrasada -, Christian disse, consultando o relógio.

Lauren pigarreou, de repente. Sua voz soava estranha e rouca, como se não fosse usada.

- Ela não virá -, falou.

Olhamos para ela.

- Como? -, Robin perguntou.

- Creio que ela não virá hoje.

Neste momento ouvimos passos e batidas na porta. Não era Vanessa, e sim uma deão de estudos. Ela abriu a porta e entrou.

- Muito bem, muito bem -, disse. Era uma mulher velha dissimulada, magra, com pouco mais de cinquenta anos, que granjeara a reputação de ser muito convencida. - Então o santuário do saber é assim. O refúgio dos deuses. Eu nunca havia sido admitida aqui.

Olhamos para ela.

- Nada mal -, comentou pensativa. - Eu me recordo que, há quinze anos, antes da construção do prédio de Ciências, precisaram mandar alguns orientadores para cá. Uma psicologa costumava deixar a porta aberta, para tornar o ambiente mais amigável. Vocês acreditam que Vanessa ligou para Channing Williams, meu infeliz predecessor, e ameaçou pedir demissão a não ser que tirassem a tal psicóloga daqui?

Aquela história corria em Hampden havia muito tempo, e a deão de estudos deixara parte de fora. A psicóloga não apenas deixava sua porta aberta como tentou forçar Vanessa a fazer o mesmo.

- Para dizer a verdade -, a deão de estudos disse -, esperava algo mais clássico. Lamparinas de óleo. Lançamentos de disco. Jovens nus lutando no chão.

- O que quer aqui? -, Christian perguntou, pouco delicado.

Ela fez uma pausa, tomou fôlego e abriu um sorriso maldoso.

- Precisamos ter uma conversinha -, ela disse. - Acabo de saber que Vanessa precisou se afastar da universidade repentinamente. Pediu licença por tempo indeterminado e não sabe quando poderá retornar. Desnecessário dizer -, ela pronunciou a frase com delicadeza sarcástica -, que isso os coloca numa situação deveras interessante em termos acadêmicos, principalmente porque estamos a apenas três semanas do final do semestre. Soube que ela não costumava realizar exames finais por escrito.

Olhamos para ela.

- Vocês faziam trabalhos? Cantavam canções? Como ela costumava avaliar seu desempenho e dar nota final?

- Exames orais para as optativas -, Christian disse. - Trabalho escrito para o curso de civilização. - Ele era o único, entre nós, que encontrara forças para falar. - Para o curso de redação, uma tradução, do inglês para o grego, de um texto escolhido por ela.

A História Secreta - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora