10 - Giulya.

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Paguei o uber e desci do carro, é sempre a mesma perturbação, eu cheia de bolsa e esses uber de graça para entrar na comunidade, ninguém merece.

Peguei um moto táxi até a loja, vou abrir uma filial aqui, é aluguel mas dá pra se apertar para pagar, a localização é boa, essa comunidade é o mundo, tô expandindo meu negócio aos poucos, eu quero é fazer dinheiro, quanto mais, melhor, tô montando a loja bem devagar, sem pressa.

Levantei a porta, o moto táxi ainda me ajudou, comecei a arrumar minhas coisas, muita coisa fora do lugar ainda, vi uma mensagem da Alana falando que tava indo pra minha mãe, Carina e Gabriel me chamando pra ensaio de escola de samba, esse povo pinta o 7 mais o 14, tô querendo beber mesmo, parece que eu bebi foi pouco ontem, acordei zero ressaca.

— Oi, ahn, você já tá pegando currículos? — uma menina falou da porta me assustando

— Oi, tô sim! — falei levantando do chão — Você mora aqui mesmo? Já tem experiência? — perguntei indo até ela

— Não tenho muita não mas tô precisando entende? Meu marido saiu do movimento pouco tempo, as coisas ta difícil, tenho 2 filhos — concordei indo até ela, olhei o papel, e encarei ela

— Então, Jaqueline, essa semana eu ainda volto aqui, vou entrar em contato com você por whatsapp, a vaga já é sua! — ela riu agradecida

Depois de agradecer ela saiu da loja, fiquei parada pensando um pouco, eu gosto muito de ajudar quem realmente precisa, e eu sou tão honrada, com tudo que eu tenho, só tenho vontade de ajudar mais e mais.

Fechei a loja pela tarde e pedi meu uber, vou fazer esse bate e volta, quero tá enjoada nesse ensaio, carnaval é tudo, escola de samba então, eu amo!

- Alô - atendi a chamada do número desconhecido
- Giulya, filha?
- Oi mãe? Tudo bem? - arrumei a bolsa no ombro e continuei subindo o morro
- Giulya, Alana ta por ai? - perguntou
- Por aqui não, ela me mandou mensagem cedo falando q ia pra casa, não chegou?
- Não! Não atende celular, a mensagem não chega, aonde essa garota se meteu?
- Mãe, vou ver se ela tá aqui pelo Vitor, fica tranquila - falei calma
- Tá, me liga de volta!
- Beijos - desliguei

Refiz meu caminho, vou passar na padaria onde o Vitor sempre tá com uns meninos, espero que Alana não tenha arrumado nenhuma besteira, já tá bem grandinha pra ficar de aventuras.

— Fala aí Vitor — parei do lado dele que tava sentado em cima de uma moto

— Coe Giulya, tranquilo? — ele perguntou virando a cabeça pra mim

— Tu sabe da Alana? — o semblante dele mudou

— Po, num falo com ela desde de manhã, por que? — perguntou me olhando sério

— Minha mãe tá atrás dela, ela disse que ia pra casa, mas não chegou em casa — falei sentindo meu  corpo gelar

— Qual foi Giulya, que papo é esse? — ela falou levantando da moto e pegando o celular no bolso — Caralho não acredito que Alana foi atrás da..— parou de falar e me encarou

— Atrás de quem Vitor? — perguntei preocupada

— Depois te passo essa visão po, fala pra tua coroa ficar tranquila, já sei onde essa doida tá já — falou rápido subindo na moto

Ele saiu igual um maluco e eu fiquei com cara de tacho, cheguei em casa, mandei um áudio pra minha mãe e tomei um banho, vou distrair minha cabeça,  tô muito nova pra passar estresse, se Vitor sabe onde ela tá, boa coisa não é, e ela tava tão tranquila cara, porra, é foda.

Terminei de me arrumar, Gabriel chegou com o Thauan, andar de carro com essas monas é comédia, fui rindo até chegar no ensaio, favela tava lotada, tivemos que estacionar super distante.

— Caralho, cheguei na hora boa — escutei a voz do Thi atrás de mim

— Deus no céu e esse homem na terra — Thauan falou rindo com o Gabriel

— E aí minha deusa — Thiago me abraçou pelo ombro, muito cheiroso, não aguento

— Tá assim todo simpático por que? — perguntei rindo

— Pra tu eu to sempre simpático — beijou minha bochecha, muito falso

Ainda não tinha começado o ensaio, fomos nós enfiando no meio das pessoas, Thiaguinho ainda tava colado em mim, as monas tudo olhando, daqui a pouco tão achando que eu sou fiel desse bofe, xocotó.

— Até que fim, caralho — Carina falou vindo na nossa direção com a Melody no colo

— Tá estressada mona? Eu hein! — Gabriel falou levantando a Melody no alto

— Muita piranha em um lugar só, tô doidinha pra rasgar uma hoje! — Carina falou alto atraindo alguns olhares

Inclusive o do Riquelme, que me encarou sério, seu olhar indo ao braço do TH entrelaçado no meu pescoço e ao meu rosto, acho que tô pálida, sem gracinha, revirei os olhos e desviei o olhar tentando prestar atenção no que a Carina falava com o Thauan e o Gabriel.

— Vem na dinda, fica escutando os surtos dessa mãe louca não — falei pegando a Melody no colo

— Vai ser surtada igual a mãe, tadinha — Gabriel falou me fazendo rir

— Essa aí vai ser o dobro da mamãe né filha, né meu bebê — Carina falou afinando a voz

TH me soltou e foi pro lado do Tio do Riquelme, continuei brincando com a Melody, tentando entender o que ela falava.

— É mesmo meu amor? Sua mãe brigou com você? Foi? — ri pra ela escutando as reclamações que ela falava abessa

— Vem no dindo, vem princesona  — escutei a voz grossa do Riquelme falar do meu lado, o perfume invadindo minhas narinas, meu corpo todo tremeu, encarei ele parado do meu lado, não sei que momento ele se aproximou mas ele tava ali, em pé, pertinho de mim.

— Quer pegar ela? — perguntei para ele, meu corpo todo tremia e minha garganta tava seca, ele me encarou bem sério, me olhando nos olhos, dentro dos meus olhos

A Melody esticou os bracinhos para ele e ele pegou ela do meu colo sem falar nada, deu um sorriso branquinho para ela que brincava segurando o cordão dele, ele me encarou e se afastou levando a neném junto.

— Jesus, o que foi isso senhor? — me abanei andando até o Gabriel — Me dá uma garrafa dessa aí — pedi

Ele me deu uma skol beats e eu bebi igual água tentando formular o que tinha acabado de acontecer, meu corpo ainda formigava.


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Delírios - Livro 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora