59 - VN/Nego.

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VN.

Acomodei melhor ele pelo braço, jogando o fuzil pra frente, Nego segurou do outro lado, meu braço doendo mais que o normal, o sangue pingando molhando minha camisa, tô ferido porra.

— Nós tem que tirar ele daqui, vocês tem que tá batendo de frente até nós sai da favela — falei ofegante pro Di óculos que tava meio desesperado com o supercilio cortado

— Deixa que eu levo porra, tu tá sangrando pra caralho, VN — ele falou desesperado, neguei

— Presta atenção no que eu to falando porra, a favela é nossa, já ta tomado, o papo é esse, só segue — falei sério

— Eu vou tá voltando, vou levar eles lá pra mata, vai, passa a visão pra geral — Nego falou puxando o Rick junto comigo

RK já tava desacordado, as costas lavada de sangue, corpo completamente mole, fomos arrastando ele pela mata, do jeito que dava, 3 faziam nossa segurança pra caso bater de frente com alguém.

Nego botou ele deitado no mato, tirou a blusa e começou a estancar o sangramento enquanto falava com Maiquin no celular,devido ao escuro não dava pra ver muita coisa, mas de fato, ele foi baleado nas costas, quantos nós num sabe, ele tava meio grogue, falando vários bagulhos sem nexo, reclamando pra caralho.

— Fala comigo irmão, fala comigo — Nego pediu apertando o ferimento dele — Nós vai te levar pra casa, tu tá vivo!

Apertei meu braço vendo o sangue espirrar, essa porra tá doendo ele caralho também, tomar no cu, um menor me deu uma garrafa d'água, não sei nem da onde esse maluco tirou essa água, mas bebi, garganta seca, mão tremendo pra caralho.

De longe se escutava os tiros, os menor não arregaram, tropa do RK não arrega, descemos a mata, carregando o RK, já caímos na pista, onde o Maiquin tava com a van esperando nós.

— Pisa fundo, leva o RK pra qualquer postinho que tu ver, faz  qualquer ko pra ver ele vivo — Nego falou pro Maiquin — Tem cu pra isso? — perguntou sério, ele concordou

Deitei a cabeça do RK no meu ombro e fui conferindo se ele tava respirando, até o momento sim, Maiquin quase invadiu o posto de saúde com a van.

Fomos arrastando ele pra dentro com a ajuda de mais uns menor, geral equipado, foda se, quem tava na sala de espera saiu correndo, as atendentes tudo pálida.

— ATENDE ELE, ELE TA MORRENDO, NÓS NUM VAI FAZER NADA COM VOCÊS NÃO, MAS ATENDE ELE! — gritei meio grogue, dando um tapa no balcão, vendo a senhorinha pular de susto, tô cheio de dor também, essa porra não para de sangrar

A mulher começou a tremer e um cara negro, vestido todo de branco, serião saiu da sala, ajudou o mano a botar o RK desacordado numa cadeira de rodas, e foi levando ele pra dentro, Maiquin foi atrás.

Eu fui aos poucos perdendo a força, minha dor aumentando, tudo rodando, bagulho ficando em câmera lenta, desmaiei.

Nego.

Voltei pra favela só com um pensamento, ganhar essa guerra, não por mim, mas pelos meus manos que morreram, pelos que estão no sufoco, pelo RK.

Os irmão que ficaram, mesmo feridos, tavam batendo de frente, agora já  não era alemão, eles nós botamo pra correr.

— ARREGA CUZÃO, ARREGA, METE O PÉ PORRA — Di óculos gritou pro pm, deitei na lage, olhando pra cima

Os helicópteros tudo dando razante em cima da gente e nós segurando, troquei meu colete e continuei deitado dentro da caixa d'água.

É foda entendeu, pensamento vai logo na família, estamos aqui no sufoco, a beira da morte, no risco pra honrar nossa facção, mas tá ligado, tenho mulher e uma filha pequena dentro de casa, minha mãe aí também, se eu morrer, nem sei o que vai ser delas, quero dar esse sofrimento pra elas nunca não, mas é foda, sair dessa vida.

Os menor tudo falando no rádio - NÓS VAI ATE O FINAL NESSA PORRA! — gritei no radinho

Tô cheio de ódio nessa porra, cansadão, esses cara ao invés de descer porra, quer ficar aqui pra atentar também, tomar no cu pra lá, num fode.

E aqui o crime não é o creme
Se tu não deves, não treme
Eu tô cansado de caô
E vacilão aqui não anda
Então não vem aqui manda

Quando deu 00h20 os tiros cessaram, meu ombro caiu pesado, caralho, a vitoria é nossa PORRA.

— Caralho, porra, finalmente — falei ajudando um menor ferido levantar, to lavado de sangue

Os menor foram pra mata soltar balão com o nome do RK, favela é nossa, território do homem, botamo geral pra correr, não teve pra ninguém.

Mas ainda há o luto, perdemos 3 nosso, nosso patrão feridão, num temos nenhuma notícia, é foda tá ligado, nós comemora mas  comemora preocupado.

— RK TROPA DO RK — Cantamos em cima da lage, só rajadão pra cima.

FAVELA NEWS: Criminosos feridos invadem posto de saúde e obrigam médicos e enfermeiros atendimento, relatos que após a invasão em uma das comunidades da proximidade, uma van com 6 traficantes invadiu um posto de saúde próximo e obrigaram em meio à ameaças e tiros pro alto. As últimas informações que temos é que um dos traficantes estavam gravemente feridos e após serem atendidos fugiram.

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Delírios - Livro 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora