Delírios - Livro 2.

46 - Carina.

Fui desatento, meu amor
Quem ama tem que reparar
Ver em você o que mudou
E se é preciso eu mudar
Ouvir seu silêncio de mulher
Ver os sinais que você dá
Discretamente bate o pé
Mexe os cabelos sem parar
Pintou as unhas de café
Vive olhando pro nada
Perdão, amor, se levei tempo demais
Deixei uma porção de coisas pra trás
Errei em só olhar pra mim
Meu bem, nunca te vi assim
Nem só de amor se vive uma relação
Cada detalhe que perdi foi um grão
E quantos grãos deixei cair
Será que já chegou ao fim.

Entrei em casa abrindo a porta com tudo, QUE ÓDIO DO RAFAEL, ele entrou atrás, me olhando com cara de sonso, como se nada estivesse acontecendo.

— Qual foi Carina? Tá toda estressada por que? Fiz alguma coisa eu? — ele perguntou sentando no sofá

— Cara, eu que te pergunto! Tu não quer mais, é isso? Porra, se tu não quer me fala! — falei nervosa, que ódio, que ódio — Agora tu dar mole pra piranha na minha frente? Ficar de conversinha? Me POUPE, eu não sou otaria não — andei pela sala — Eu ja aturei muito chifre, não vou aturar mais não! — ele levantou a sobrancelha, completamente surpreso

— Tu tá achando que eu tô traindo? Tá maluca porra? — levantou sério — Sou fiel pra caralho e tu de desconfiança, qual foi? Todo dia isso agora? — perguntou se aproximando de mim

— Eu NÃO tô achando nada, Rafael, as suas atitudes deixam transparecer isso! — bati os dedos no peito dele — Missão pra cima e pra baixo eu aturo sim, agora mulher? DUVIDO! — ele segurou meu pulso e me puxou pra mais perto

— Quando eu te dei motivo pra essas desconfiança aí? Han? Tu tá me tirando, porra, se liga — tentei chegar pra trás mais ele me segurou com mais força — Prova que eu to te traindo porra, nunca te dei motivo pra isso, NUNCA, sou moleque não! — neguei com a cabeça

— Tem dias que nem na minha cara você olha! Se não tem mulher no meio, tem o que? Eu sou vacinada na vida que vocês levam! Tu tá achando  me com cara dessas otarias aí? Que não enxergam o que tá na cara? — ele bufou, o rosto fechando com força, o maxilar trincado, provoco mesmoooo!

— Ah caralho, tá me confundindo mermo — sua mão voou pro meu pescoço — Olha na minha cara, tá vendo esse desgraçado aqui? — me olhou nos olhos sério, aproximando o rosto do meu — É apaixonado por você sua filha da puta, olha o que tu tá falando pra mim, me botando como vacilão, coisa que tu sabe que eu não sou! — chorei, as lágrimas desceram com força

— E-eu não acredit..— ele me interrompeu  colando a testa na minha

— Tu quer mais o que pra eu provar meu amor por você, eu sou alucinado, maluco pela mulher que tu é — me soltou e se afastou — Não é possível porra, como tu não acredita em mim? Logo eu? Caralho, eu te dou a porra do mundo todo, não é possível — sequei o rosto e sentei no sofá, encolhidinha

— D-desculpa — murmurei baixo vendo ele socar a parede da sala, derrubando nosso quadro com tudo — N-não dá, eu fico insegura sim, v-você passa o dia todo..— ele me interrompeu se virando para mim

— CALA A BOCA! — gritou sério — Tu tá desconfiando de mim, logo de mim, eu vou vazar, namoral! Antes que eu faça uma besteira! — falou indo em direção à porta

— Foge, foge mesmo! — levantei puta, babaca!

Ele veio na minha direção igual um bicho, por um momento eu achei que ele ia me agredir mas não, ele parou na minha frente, os olhos vermelhos mas não derrubou nenhuma lágrima.

— Tô fugindo pra não me estressar mais com a mulher que eu amo, prefiro meter o pé pra rua do que ficar aqui discutindo contigo — falou segurando meu queixo e me dando um beijo

— N-não vai, fica aqui, vamos conversar — ele se afastou rápido e negou com a cabeça, pegou a chave da moto e saiu batendo a porta com força.

Desculpe essa insegurança, eu não queria ser assim, não queria ter mil e um motivos na minha cabeça pra você me deixar, sabe, sou tão dramática as vezes, né? Mas tudo é verdade, esse medo me corroe por dentro, tantas pessoas já me deixaram, já me fizeram a pessoa mais feliz do mundo, e depois simplesmente bateram a porta sem dizer nem adeus, eu tenho medo que você se vá, medo por perder uma pessoa que significa tanto na minha vida, que eu tanto gosto, que eu tanto amo, medo de um dia virarmos estranhos.

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