22 - Giulya.

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Sai da casa da Carina depois de ter passado a tarde toda com a minha neném, fui caminhando e chamando o uber, hoje vai rolar um churrasco na piscina, a famosa resenha da madrugada, Carina tá me atentando pra ir e eu to cogitando a ideia.

Do nada começaram a soltar muitos fogos, fico logo escaldada, no meio da rua, diminui meus passos para escutar melhor, e um único barulho de tiro ecoou na favela.

— ENTRA MORADOR, ENTRA QUE É OPERAÇÃO — um menino armado gritou para um senhor

Entro em um beco, aqui eu não conheço muito, mas sei muito bem por onde sair e por onde entrar, começaram a passar muitas motos e os barulhos de tiros se intensificaram.

Meu coração pulsou na boca e eu andei mais rápido, correndo para ser mais sincera, segurando minha bolsa como se fosse minha vida, entrei em beco e sai em beco, o povo correndo e fechando as coisas, meu desespero só aumenta.

Eu escutava muitos barulhos, sem saber de onde vinha, aonde me enfiar, me encostei na parede e botei a mão no peito tentando controlar a respiração, uma carreata de homens passaram por mim em cima de motos.

No meio deles, o Riquelme, seu olhar bateu no meu, eu ali, encostada ao lado de uma casinha de bomba, no meio do NADA, ele me olhou em desespero jogando a moto quase em cima de mim.

— TA MALUCA PORRA? QUE QUE TU TÁ FAZENDO AQUI? — gritou ainda em cima da moto, tentei formular alguma coisa mas meu corpo só tremia — Sobe Giulya, bora porra, garota! — falou nervoso botando os dois fuzis par frente

Subi na moto sentindo minhas pernas moles, eu só chorava, mal conseguia enxergar por onde estávamos passando, o Riquelme voava em cima da moto, passando em becos rasgando, qualquer hora eu sentia que iríamos levantar vôo, os meninos circulando ele, como se estivessem protegendo, correndo na mesma velocidade.

— NÃO SAI DAI, FICA AÍ ATÉ ACABAR ESSA PORRA — gritou parando a moto com força, ele botou uma chave na minha mão e eu desci da moto

Abri a porta com a mão trêmula, quando entrei dentro da mansão, fechei a porta e deslizei ali mesmo, mais um livramento.

- GIULYA, CADÊ VOCÊ? - Carina falou quando eu atendi a chamada
- E-eu t-to bem - falei rápido - O r-riquelme bateu de f-frente comigo quando eu tava tentando ir embora
- Meu Deus, caralgo, que susto! - suspirou
- Fica bem aí, qualquer coisa me liga que eu to por perto
- Tá bom amiga, te amo muito, fica bem!
- Também amo vocês - falei desligando a chamada

Levantei sondando a casa, era um casarão, uma televisão do meu tamanho quase, tudo novinho, a casa é linda real, botei minha bolsa no sofá,  fui pra cozinha, peguei um copo d'água e deitei pelo sofá, quando vi ja estava pegando no sono.

Abri os olhos rápido escutando a porta bater, o Riquelme entrou passando igual um vulto para o quarto, sentei no sofá e olhei a hora no celular 19h38.

Ele apareceu na sala, lavado de sangue, a bermuda, blusa, o Riquelme tava de sangue da cabeça aos pés, meu coração acelerou com mais força, muito mais do que o normal e eu levantei indo na direção dele, procurando algum ferimento

— V-você tá bem? Riquelme, o que foi? — perguntei preocupada encostando a mão nos ombros dele, ele me encarou, os olhos vermelhos se impolçando de lágrimas aos poucos, meu coração apertou e eu sacudi ele

— O n-nego, meu tio, porra num tô crendo nisso — ele levantou a cabeça para o alto e negou, minha garganta fechou

— O Rafael morreu? Como que?? — perguntei botando as mãos no rosto dele, fazendo ele olhar para mim, eu nunca vi o Riquelme chorar, foi a primeira vez, as lágrimas dele desciam com força e ele só negava

Passaram meu tio, Giulya — ele falou sério, a mandíbula trincada — Meu coroa se foi, Nego tá lá fodidão, ferido pra caralho — abracei ele com força, sentindo os braços dele apertarem minha cintura com mais força ainda

O tamanho da gravidade disso tudo é absurda, agora a guerra realmente ta armada, puta que pariu, que dia horrível, o Riquelme vingativo do jeito que é, não vai deixar isso passar batido.

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Delírios - Livro 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora