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Liesel P.O.V

Amanheceu cedo, e eu descobri isso pois fui acordada às pressas por alguém, sendo sacudida com força, o que me assustou.

- Acorda! - vejo um rosto aflito me encarando, subitamente caindo na realidade, tivera um pesadelo horrível durante toda a noite.

- Me solte, por favor. - sinto uma agonia ao me encontrar nos braços dele, algo involuntário. - Me solte, caramba. - acabo ficando estressada demais, empurrando-o com força.

O rosto dele está amuado, aflito, carregado pela repreensão indevida que eu lhe dera, a forma grosseira como o tratei, mas como explicar tudo aquilo? Como seguir em frente sem olhar para trás, se até mesmo em um momento que deveria ser de paz eu me encontro amedrontada. Eu os via, eu os sentia sobre mim, me corrompendo de forma monstruosa e desumana.

Michael permanece em silêncio, olhando o chão de forma perdida e distante, o seu semblante enrugado de forma preocupada.

- Desculpa. - passo a mão nos cabelos, bufando em seguida. - Foi sem querer.

Nada sai de sua boca, apenas um murmúrio de concordância. Toco sua mão com leveza, quase sem fazê-lo, indicando para que se deitasse novamente ao meu lado. Ele obedece, ainda sem dizer uma só palavra. 

Me entristeço com aquilo, eu queria tanto simplesmente esquecer tudo, continuar de onde paramos, simplesmente passar uma borracha nas coisas.

- Eu estou tentando Lisie. - engolindo em seco, seus olhos encontram os meus naquela meia claridade. - Mas sinto que só pioro as coisas.

Balanço a cabeça em discordância, como poderia pensar aquilo? Logo ele, que me acolheu, acompanhou, cuidou dos ferimentos físicos com paciência e fez questão de me acordar em cada pesadelo, sempre ali, sempre presente, e por qual motivo? Eu sinto que não mereço a forma como Michael me trata, como se eu fosse a flor mais delicada e preciosa de um lindo jardim, e não consigo ignorar a forma como aquela calma dele me ajudou a superar o mais básico, o contato humano, entre nós dois pelo menos, de forma sutil entre outros.

- Não diga isso, sem você eu não sei o que seria de mim agora. - com uma força que não sabia que possuía naquele momento, eu colo minha testa na dele, depositando um beijo rápido e fresco na pele franzida. - Vamos dormir mais um pouco, ou pelo menos tentar. - peço, aconchegando sua mão entre as minhas.

Quando o sono quase chegava a porta se irrompe em um estrondo, o que me irritava com um grau bastante elevado. Theodora passa pela porta batendo em uma panela e cantarolando uma música infantil em nossa língua materna, aquela agitação toda me estressou, essa barulheira infernal agitava o meu íntimo, eu somente queria a quietude.

- Vamos acordar! - grita ela, jogando-se no meio de nós dois. - Bom dia bonitão. - lançando uma piscadela ao Michael, aquela figura passa os braços por trás de nossas cabeças.

O mesmo nada diz além de se esgueirar com um sorriso desconfortável e ir em direção ao closet, juntando algumas peças de roupa para tomar banho.

- Vai descer para o café? - pergunto, me desvencilhando de Theo e sentando no colchão.

- Não sei ainda, o dia já começou cedo hoje, tenho muitas coisas pra resolver na empresa. - com uma olhadela para mim e outra no relógio, Michael se tranca do banheiro e me deixa sozinha com aquela sanguessuga.

- Vamos descer. - digo, colocando um robe e prendendo os cabelos. Me viro ao ver que ela encara o banheiro com malícia, como se esperasse que o mesmo saísse dali seminu. - Theodora, vamos. - chamo, recebendo um olhar de repreensão em troca.

- Que chatice sua Lisie... ainda com a maquiagem de ontem, a noite deve ter sido boa. - provoca ela, me arrancando um suspiro cansado.

Já devidamente sentados à mesa, eu leio o jornal e tomo um chá com torradas com presunto e queijo. Passo pela sessão de classificados, a de apostas, as notícias e enfim me detenho com pavor em uma grande chamada.

¨ Membros de gangue atacam mulheres da cidade.

Aparentemente, quatro homens ainda não identificados estão causando terror no grande coração da Inglaterra. Em Londres, eles sequestram garotas e as violam, matando-as em seguida. Há relatos de uma sobrevivente, encontrada por membros de outra gangue rival, a polícia tenta identificá-la mas ainda sem sucesso.

Boatos aparentam que a sobrevivente seria parte da organização contrária, o que a tornou um alvo de retaliação.

Todas as outras dez jovens foram encontradas em situações de..

A xícara escapa de minhas mãos, se espatifando em pequenos pedaços no chão. Não consigo conter um soluço de medo, saindo da mesa com rapidez e indo até o quarto, o jornal aberto e amassado entre meus dedos. Tranco a porta principal e bato na do banheiro, chamando por quem estava lá dentro ainda. 

Quando ele sai e me vê com o jornal em mãos, fica branco como um fantasma.

- O que é isso? - sacudo as folhas de um lado ao outro, quase batendo em Michael com elas. - Me explique que merda é essa que está escrita aqui.

Ele o pega de minha mão, lendo por cima, assim como eu fiz, o destaque da página.

- Não era pra ser assim. - Michael termina de amassar o jornal e o joga no lixo, travando o maxilar de irritação. - Porra, alguém ferrou a gente.

- Do quê você está falando Michael? - minha voz sobe dois tons enquanto cruzo os braços, fechando a cara. - Que história é essa de gangues?

- Não é nada. - eu vejo a mentira estampada em seus olhos, ele mal consegue me olhar, está querendo fugir daquele quarto o quanto antes.

- Vai mesmo mentir pra mim? Tem certeza? 

- Isso não tem nada a ver com você Lisie, por favor esquece essa droga.

- Não tem? Pois acho muita coincidência serem quatro homens, uma única sobrevivente e em Londres. - acho que estamos gritando além da conta, e com certeza poderíamos ser ouvidos por meu pai e os demais, mas a questão é que no momento eu não me importava com isso, queria respostas. - Me diga como isso é só coincidência!

- É só besteira, não tem nada acontecendo.

- Por qual razão disse que ferraram vocês então? Que não era pra ser assim? - eu continuo pressionando, quero respostas, mesmo que Michael não esteja disposto a dá-las.

- Eu preciso trabalhar. - ele ajeita a gravada e dá as costas para mim, destrancando a porta. - Fique em casa, vou chegar tarde hoje.

Pego um travesseiro e atiro do outro lado do quarto, tremendo de irritação. Ele se vira e me encara, os olhos perfurando meu corpo.

¨... - Você colocou um alvo nas minhas costas? - questiono, reprimindo o choro.

Ele se vira, a expressão nublada.

- Não deveria ser desse jeito. - diz, acendendo um cigarro. - Alguém ferrou a gente, porra. Mas Hannah, fique tranquila, e não me faça mais perguntas sobre isso.¨

- E Lisie, não faça mais perguntas sobre isso.

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