Just a body

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Os dois dançaram em câmera lenta, a arma pra cima e engatilhada, enquanto os demais assistiam aterrorizados.

Liesel P.O.V

Eu vi a oportunidade e a aproveitei.

Tommy distraiu Ezio ao ponto de afrouxar seu aperto, o que me deu abertura para tal.

- Larga sua vadia! - ele gritou.

Segurei a arma com força entre os dedos, tentando empurrá-lo com o ombro para que se afastasse de mim, mas não deu tão certo assim. Ezio tinha o dobro de força e tamanho, e aquilo era claramente uma ideia ridícula, mas o que eu teria a perder? 

Já estava quebrada o suficiente, sem esperanças o suficiente. 

¨... Morta o suficiente.¨

Não havia nada que eu pudesse fazer para mudar o rumo das coisas, mas se eu tivesse certeza de algo, é sem dúvidas de como gostaria de enforcar Theodora com minhas próprias mãos, sentindo o coração feito louco contra a pele de seu pescoço.

- Ai meu Deus, Liesel. - uma voz abafada grita também.

Entre essas divagações tolas acontecia o início do fim. Ele socou meu estômago e eu cedi, enjoada e com uma dor extremamente forte. Atirou uma vez só, e doeu ainda mais. Tudo depois daquilo foi anestesiado.

A queda, como minha cabeça fez igual bola ao bater no chão e voltar, as vezes que pisquei mas não conseguia compreender o motivo. 

Eu só estava lá, deitada, sentindo o corpo formigar e uma vontade absurda de dormir chegando.

- Não fecha os olhos. - o rosto de Michael se torna nítido, ele olha pra baixo e toca um ponto sensível, mas não o suficiente para me fazer expressar algo, e volta sua atenção para mim novamente. - Vai ficar tudo bem, eu juro.

Sua cabeça se vira e ele grita por um médico ou algo do tipo, eu não conseguia prestar atenção.

- Lisie, fica comigo por favor. - ele me chama de novo, os dedos passeando pelo meu rosto com tanto cuidado que parecia que eu era feita de pó, prestes à me desfazer entre seus dedos. 

Um soluço desajeitado e desesperado saiu de sua garganta junto com uma lágrima tímida, o que me deu desconforto, eu não queria vê-lo assim. 

- Aguenta só mais um pouco.

Sinto algo estranho em minha garganta e a vontade de cuspir, e o faço, sentindo algo de gosto metálico escorrer.

- Não, não, não, Lisie não faz isso comigo. 

Arthur se ajoelha ao lado dele, pressionando com força o lugar que agora começa a latejar de forma gradual.

Rolo os olhos pelo ambiente e vejo que Ezio está levando uma surra no canto da sala. Finn, John e um homem que não reconheço chutam seu corpo sem dó, e é perceptível que ele está desacordado há tempos.

- Tem que ser forte agora garota, vamos lá. - Arthur fala, rasgando meu vestido.

Olho para baixo e vejo tanto sangue escorrer, mesmo não conseguindo dizer de onde. Aquilo me assusta.

- doendo. - resmungo, sentindo uma pontada aguda. - Para, por favor.

Tento me remexer, mas não consigo. 

- Segura ela direito Michael, ou não vou conseguir. - manda Arthur, chamando por Tommy.

Volto minha atenção para ele, que me aperta como uma cobra em seus braços, tentando me livrar ao ponto de que mais dor vai se tornando real. 

- Me desculpa, me desculpa... - é tudo que ele sussurra baixinho.

Tommy chega com uma caixa e se esconde de minha vista, atrás de Michael, mas sinto tudo se incendiar a partir dali. 

Um grito escapando de forma enérgica se torna uma forma de alívio, e senti quando Arthur se sentou em minhas pernas para que não me movesse. Eu sinto algo entrar em meu corpo, passando por meus músculos, e dói tanto. Um enjoo forte demais se apossa de mim, fazendo com que vomite encima de Michael. 

Colocando os olhos nele, eu vejo que é rubro o líquido que saiu de mim. E depois nada. Eu simplesmente não aguentei mais, não queria mais.

Engoli o sangue e quase me engasguei. 

Parei de lutar aos poucos, cansada demais para tudo aquilo, e toquei a mão de Michael com suavidade. Minhas unhas roçaram aquela pele quente, metade seca e áspera e metade lisa, como se pedissem para que ele prestasse atenção em mim, e em nada mais além daquilo.

- Você é tão linda, sabia disso? - diz ele, apertando minha mão. - Tão linda.

Ri, mesmo sabendo que foi feio, os dentes provavelmente cobertos de sangue, mas ainda sim ri. Ele era tão bobo, desde o começo, sempre tão bobo...

- Dói? 

Uma gota gorda de água gelada caiu em meu rosto, escorrendo vagarosamente até o queixo. Eu sei que são as lágrimas dele, me lavando aos poucos.

Suspiro, e acho que não quero deixá-lo ainda mais triste do que está agora.

- Só um pouquinho. - respiro fundo.

Minha boca se abriu novamente, tinha algo que eu precisava dizer, eu sei que sim, algo que eu finalmente me dei conta, que eu finalmente me lembrei. Mesmo assim, acho que vou ficar no meio do caminho, entre o querer e o poder. 

¨... A gente ainda vai se ver, eu sei disso.¨


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