The true

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Há um monte de garotas seminuas espalhadas pela sala de estar de Michael.

- Uou. - Finn fica corado ao dar de cara com elas, se virando rapidamente em seguida.

Algumas riem, outras permanecem em silêncio.

- Garotas, vamos trocar de roupa lá encima. - digo, sorrindo. - Tem o bastante pra nós todas.

Todas concordam.

Subimos em silêncio, cientes de que éramos acompanhadas pelo olhar microscópico do restante deles. 

Ao abrir a porta do quarto, muitas suspiram de forma sonhadora.

- Você mora aqui? - Roxie assovia, batendo palmas.

- Faz pouco tempo. 

Deschen pigarreia.

- É ele não é?

Chamo-as para dentro do closet.

- Ele quem? - pergunto, tentando não me sentir ainda presa naquela realidade.

- O cara que comprou você.

Só concordo, coçando o pescoço.

- Me contem as histórias de vocês, por favor. - peço, querendo conhecê-las.

Nós vamos revezando o banho e as roupas, buscando ficarmos o mais limpas possíveis depois de tudo. 

Sentamos e cruzamos as pernas, nos encostando em qualquer lugar que estava livre, começando a conversar sobre tudo.

- Eu sempre quis ser artista, mas quem vive disso no meu país? - Deschen fala, apertando os olhos. - Quando Sierra me deu a oportunidade de vir pra cá, eu pensei que tudo fosse mudar. A minha família quase morria de fome na Coréia, o meu irmão mais velho morreu cavando em uma mina. Quem não acreditaria em uma ocidental que parece ser rica e é linda? Lá só tem miséria, pobreza, repressão política e tristeza. Eu queria mais pra mim...

- Vim pra cá pra terminar o doutorado. Terminei escravizada. - Roxie fica com a voz trêmula, ameaçando chorar. - Nós já sofremos com o racismo. O meu pai me ensinou a nunca fazer coisas que um branco normalmente faria, a nunca olhar um policial de forma torta, a nunca andar com as mãos nos bolsos. Já existem milhões de obstáculos lá fora, e eu acabei aqui, logo quando tudo ia tão bem.

E tantas outras histórias. 

Na minha vez, um bolo ficou presou na garganta.

- Se não quiser nos contar, não tem problema. - Gal diz, afagando minha mão.

- Minha irmã perdeu todo o nosso dinheiro em cassinos. - começo, respirando fundo. - Eu era chef de um restaurante perfeito, tinha uma vida perfeita. Sonhei todos os dias da minha vida com um cara e quando eu finalmente encontrei ele, era quem tinha me comprado. Ele quis ficar comigo e depois decidiu que eu era propriedade dele, e me trouxe pra cá. Alguém invadiu a casa e tentou me matar, por isso essa marca aqui. - aponto a linha fina e ainda avermelhada que corria meu pescoço, no prostíbulo eles o esconderam com um colar, mas agora estava a mostra para todos verem. - Então eu consegui escapar, mas no final não adiantou de nada.

- Nós precisam contar isso pro mundo garotas, somos fortes. - Hannah diz, limpando uma lágrima. - Todos precisam se inspirar através das nossas vozes.

Incertas daquilo, decidimos mudar de assuntos para aliviar o clima. 

Um jantar nos foi servido no quarto e nós todas comemos e rimos enquanto um filme besta passava na TV, era muito bom estar ali rodeada de pessoas tão boas.

- Liesel. - a cabeça de Michael passou pela porta. - Podemos conversar em particular?

Meu sorriso murchou.

Me levantei sob o olhar de todas elas, seguindo-o até um cômodo que eu não fiz questão de explorar, o qual descubro ser um escritório enorme e muito bem decorado.

- Como você está?

Dou de ombros, evitando de olhá-lo.

- Ele fez alguma coisa com você? - sua mão pega a minha, puxando-me para perto. - Sabe quanto tempo ficou lá?

Encaro-o, sentindo o coração se agitar de irritação.

- Ele me bateu bastante, mas vocês chegaram antes do pior. E não, eu não sei por quanto tempo estive lá naquele buraco infernal.

Um suspiro de alívio é soltado de sua boca, a expressão facial tornando-se relaxada e pacífica.

- Dois dias. 

Fico calada. 

Eu jurava que teriam sido algumas horas apenas. 

- Você sumiu por dois dias e eu quase enlouqueci. Sabe como eu fiquei quando você me viu naquela festa?

Bufei de deboche, relembrando da maldita festa.

- Você parecia estar se divertindo muito entre uma chupada e outra. - faço uma mímica de masturbação, enraivecida. - Deve ter sido horrível ficar longe de alguém que você mal conhece mesmo, mas eu me diverti bastante lá sabia?

- Como assim? - o olhar tenso volta.

- Beijei muito aquela boca gostosa do seu primo, pena que você nos interrompeu.

Sorrio, vendo-o ficar roxo de ódio.

- Você o quê?!

Lambi os lábios, estalando-os exageradamente.

- Foi tão bom, ele tem uma pegada de homem de verdade. - rolei os olhos de prazer, sorrindo com malícia. - Deus, como eu o queria me abraçando bem agora, com aqueles braços fortes e másculos.

- Essa não é a Liesel que eu conheço...

Ri alto e com escárnio.

- Você nunca me viu na vida Michael! Acorda. - abro os braços de forma indignada. - Faz mais de um mês que a gente se conhece e só, e você nem deve saber a droga da minha cor favorita.

- Azul.

- O que? 

Aquilo foi inesperado.

- Eu disse azul. - ele se vira. - É a sua cor favorita. Você ama o inverno e adora animais, gosta de comer tortinhas de frutas recheadas e detesta insetos.

Engulo em seco, era impossível que ele tenha me espionado para descobrir tudo isso.

- Você tem uma marca de nascença no seu seio direito e acha que andar de bicicleta é o melhor hobby que alguém pode ter. Tem medo de escuro e quer ter um filho, um menino. - ele continua, se aproximando de mim. - Toda vez que a noite chega e o céu está estrelado você faz questão de olhá-lo e sempre se sente pequena por conta disso, odeia caras melosos, e a sua irmã, e prefere dormir cedo.

- Você mandou alguém me espionar? Seu pervertido. - coço o rosto, transtornada. - Não tem como saber disso tudo de outra forma, nós mal trocamos mais de duas palavras!

- Eu te conheço por que sonho com você todos os dias desde que me lembro, e te amei desde o primeiro momento em que te vi.

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