Surprises

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As garotas estão todas reunidas na sala de jantar, tomando café da manhã.

- Eu queria saber se não temos como ajudar elas. - roendo um pedaço de unha quebrada, olho Michael de forma tensa. - Talvez tentar entrar em contato com a família, ou alguém que as conheça, qualquer coisa.

Ele está pensativo, observando a paisagem além da janela.

- Podemos ver o que dá pra fazer. - apagando o cigarro, Michael dá a volta na mesa. - Mas tem algo estranho nisso tudo, foi muito fácil.

- Fácil?

Franzo o cenho, confusa.

- Não tem uma notícia do que aconteceu, não há uma manchete sobre aquele velho, e muito menos qualquer sinal de Sierra. - acompanho-o com os olhos enquanto coça a barba, agora um pouco maior do que ontem, de forma concentrada. - Parece que foi muito fácil...

Toco seu ombro.

- Você conseguiu salvar mulheres inocentes, foi muita coragem sua. - então me lembro de que ele não quis dar o celular, retirando a mão imediatamente. - Mas não concordo com sua posição de abafar tudo, todos tem que saber do que acontecia lá.

- E você acha que eu não vou pra cadeia também? 

Engulo em seco, contrariada.

- Mas é o certo a se fazer. - insisto, cruzando os braços.

- Bom, infelizmente meu pescoço não vai pra jogo por causa do certo. - ele se vira, o maxilar travado e o cenho franzido. - E se você não quiser se meter nessa sujeira e ser acusada de cúmplice é melhor fazer o que eu digo e esquecer isso de uma vez por todas.

Um meneio e ele dá por encerrado aquele assunto, voltando a se sentar atrás da escrivaninha novamente. 

Volto para o primeiro andar.

- Como vocês estão? - pergunto, me sentando ao lado de Deschen.

- Vivendo como rainhas. 

Elas riem e eu acompanho, me sentindo pesada por esconder aquilo delas.

Passos pesados chegam até nós e é Michael quem está ali.

- Vocês vão ser levadas para um dos nossos hotéis, poderão ficar por lá sem custo algum até conseguirmos encontrar alguém da família de vocês ou podemos mandá-las de volta para suas casas. - um cigarro está entre seus lábios, recém aceso. - É escolha de vocês.

- Queremos ir pra casa.

Seria uma decisão unanime se não fosse por Deschen, que preferiu ir para o hotel e procurar um emprego o mais rápido possível enquanto tentava se legalizar no país. Naquela tarde levamos todas para o aeroporto, algumas haviam conseguido contato com suas famílias e outras iriam tentar a sorte no último lugar em que foram vistas.

Vê-las no aeroporto me fez marejar, eu já estava sentindo saudades, e eram garotas que eu mal conheci.

- Vocês nos salvaram Lisie, não há nada no mundo que possamos fazer pra agradecer. - Roxie me abraça enquanto chora, atrás dela estava o noivo. - Eu nunca vou esquecer.

Enxugo as lágrimas, dando tchau para todas.

Ao entrarmos no carro, Michael somente sinaliza para que fiquemos em silêncio, dirigindo até uma oficina afastada do centro da cidade. Descemos e homens se aproximam do veículo, falando somente com ele, o que me deixa um pouco deslocada.

Eles então começam a fazer algo que não faço ideia do que seja e Michael vem até mim, sinalizando outro carro no outro lado na rua.

- Por que isso? - questiono.

- Quero saber se tem alguma escuta, mandei vasculharem a casa também. - responde, começando a dirigir. - Finn me disse que encontraram uma no quarto e outra na sala de estar, provavelmente Sierra as colocou.

Fecho os olhos, tentando absorver tudo aquilo. 

- Quando ela poderia ter colocado?

Ele dá de ombros, uma carranca estampada.

- Provavelmente naquela noite em que foi até a casa, e eu a expulsei. Catarina nunca vai deixar que nos safemos disso, ela é irmã da Sierra e vai continuar alimentando a vingança até o fim.

Umedeço os lábios.

- Será que podemos parar na farmácia? Não estou me sentindo bem.

Há uma náusea tão forte quanto a daquela noite subindo por meu corpo.

- Para o carro. 

- Por quê?

- Para agora.

Não tenho tempo de abrir a porta, vomitando pela janela mesmo. 

Quando o primeiro enjoo passa, saio e me coloco de joelhos na beirada do asfalto, vomitando novamente.

- Vamos pro médico. - diz ele, sem saber o que fazer e nitidamente assustado. - Tem algo errado com você.

- Tá tudo bem, é só o estresse.

E apesar de tentar protestar, ele me leva em uma clínica particular. 

Estamos sentados há dez minutos na entrada enquanto protesto que estou bem, quando a médica nos chama, sorridente. 

- Eu me chamo Daisy, e você querida?

Foi um choque vê-la ali.

Ela estava nos meus sonhos, foi quem me acolheu no primeiro momento em uma das piores partes, e assim como todo o resto, Daisy era real também. Depois de algumas perguntas rotineiras, ela faz alguns exames e sugere que façamos um ultrassom. 

Ali deitada e sentindo o gel frio ser passado na barriga, pego a mão de Michael e fecho os olhos. Não era uma das melhores sensações para se ter no inverno, e confesso que fiquei um pouco aflita com tamanha preocupação e o jeito atencioso dela.

Michael parece tenso, ele olhava fixamente para a tela enquanto tentava desvendar o que via.

- Ora, veja só, era realmente o que eu imaginava. - Daisy nos olha sorrindo, apontando para a tela. - Parabéns família, é um bebêzinho muito saudável.

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