Obsessed

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Depois de ouvir tudo que minha mãe me disse, fui pra casa.

Ponderei e bebi.

Seria possível?

Liesel P.O.V

Faz duas semanas desde que nós mal trocamos um breve olhar. 

Eu me sinto mal, e quem causou isso foi eu mesma. Sei que não deveria ser tão hipócrita, se Michael está assim é justo, ele tem seus motivos.

- Nós precisamos mudar o acordo com o velho de uma vez, isso não está dando mais certo de forma alguma. - ouço sua voz abafada de dentro do escritório.

Lá dentro estavam Tommy, ele, John e Arthur.

- Qual é o problema com ela? Não está conseguindo o que queria? - é a voz de John.

- Eu já consegui, e agora não quero mais.

Uma bufada alta ecoa pelo ambiente e a porta se abre de repente.

Eu estou parada como uma palhaça, pálida por ter sido pega em flagrante. A mão ainda no ar em uma batida jamais realizada. Os olhos quase transbordando.

Não sei o que dizer então simplesmente me viro e saio de forma calma.

- Liesel! 

Eu não queria ser seguida agora, não queria que ninguém viesse conversar comigo e muito menos que Michael cruzasse meu caminho. Ele conseguiu o que queria não é mesmo, então tanto faz agora, eu sou tão descartável quanto o mais inútil dos objetos.

Pego a faca e começo a desossar um pedaço de carne, querendo focar em qualquer coisa menos o que acabei de ouvir.

- Liesel.

Não. Droga. 

Continuo sem olhar pra cima, sentindo as lágrimas penduradas nos cílios e prestes a caírem. Sua mão encosta em meu ombro e eu explodo.

- Tira a mão de mim porra. - a faca está apontada e aquela bosta de choro começou. - Se encostar em mim de novo eu corto a sua mão fora.

- Não foi nada daquilo que você ouviu, vamos conversar por favor.

Finco a faca na tábua, tirando o avental e jogando-o sobre a bancada.

- Será que você pode só... - travo o maxilar, apertando os olhos e balançando a cabeça de forma perdida. - Será que pode ficar longe de mim?

Tiro a dólmã e a coloco num cabide, encerrando meu serviço.

- Vocês conseguem assumir daqui pessoal? - chamo a atenção dos demais, estes somente concordam. - Obrigada, boa noite.

Passo pela porta de forma automática. 

Grace está sorrindo em minha direção e por mais que quero cumprimentá-la eu não consigo. Estou agindo por conta própria, o cérebro desligado. A forma robótica como passei por todos gerou olhares de pena, e eu odiava pena.

Tentei dormir mas não conseguia, então chorei um pouco enquanto via uma comédia romântica ridícula e clichê e bebi vinho. Em um determinado momento eu enfiei a cara na almofada e funguei como uma louca, deixando o tecido com rodelas de ranho e lágrimas.

Horas mais tarde há batidinhas ecoando da porta de entrada. Cambaleio até ela, abrindo-a.

- Liesel.

Rolo os olhos, bufando de deboche.

- Você tem problemas sérios pra compreender coisas simples não é?

Michael vestia uma roupa extremamente antiquada e ainda sim formal.

- Será que podemos conversar?

- Sobre o quê? Meu Deus que insistência chata. - coço um olho enquanto me apoio na porta entreaberta. - Fala logo pra eu poder ir dormir.

- Posso entrar?

Inacreditável.

E ainda mais inacreditável o fato de eu tê-lo deixado entrar e agora estar sentada no sofá de frente para ele, que está na poltrona ao lado da estante. Cruzo as pernas, passando um braço por cima da almofada.

- Fala logo.

- Com essa camisola eu não consigo pensar muito bem. - seus olhos estão em meu decote rendado.

Para provocá-lo eu me deito e apoio a cabeça em minha mão.

- Tem dez minutos, já se passaram dois.

- A partir de amanhã você vai morar comigo.

Me endireito, começando a rir.

- É sério.

Olho ao redor e depois volto minha atenção pra ele.

- Boa piada, eu não iria nem morta.

- Mas vai, o seu pai te vendeu pra nós.

Enquanto acende um cigarro e pega algo no bolso, estou prestes a protestar. Um gravador é largado encima da mesa de centro, a gravação começa a tocar.

" - Ela é uma boa garota, não vai dar trabalho. 

- É a sua irmã, nós não queremos ela.  - Arthur diz.

- Queremos dinheiro. - é a voz de Michael.

- Acreditem, eu não tenho dinheiro, perdi tudo nos cassinos de vocês. - ouço um barulho de porrada ser desferida e um gemido doloroso. "

Era Theodora na gravação.

- Eu cansei de ser bonzinho, você vai sair dessa espelunca pela manhã e vamos pra minha casa.

Eu vejo um homem que não havia visto até agora, diferente do com o qual me deitei e o qual trocava farpas dias atrás. 

Aquele ali era mau, e mau de verdade.

- Não tente nenhuma graça, estou te avisando.

Michael vai embora, me deixando tremendo no meio da noite. 

Eu senti que realmente não valia nada pra ninguém.

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