Frigthening

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Amanheci muito antes do sol sequer nascer.

Com uma mochila nas costas, saí do prédio ainda naquela mesma madrugada, pegando um táxi até o aeroporto mais próximo, eu iria voltar pra casa. Aquela palhaçada toda não poderia ser real.

Estou próxima ao guichê para despachar a bagagem, bebendo uma xícara de café forte para me manter acordada por enquanto. Não havia pregado o olho para tentar resolver o que fazer.

Duas cutucadas em meu ombro me fazem virar a cabeça, sentindo que todo o sangue sumiu de meu corpo e estou pronta pra desmaiar.

- Onde pensou que ia?

Michael estava de cara fechada, levemente corado e eu garanto que era de raiva.

- Eu vou embora. - aperto a passagem entre o peito, pegando a mala para dá-la ao responsável.

- Não, você não vai.

Algo encosta em minhas costelas, me fazendo congelar.

- Meia volta, vamos pra casa. - faço o que ele pede, completamente amedrontada. - E sem mais palhaçadas.

Entro no carro e ele pega a mala e a joga na parte de trás do carro, batendo com força sua porta ao se sentar no banco do motorista.

- O que você tava pensando? Achou que eu não ia ficar de olho em você? - não sei o que dizer pra ele. - Me responde porra.

Ele dá um soco no volante, há uma veia dilatada em seu pescoço.

- Me deixa ir embora, por favor Michael. - tento racionalizar aquele momento, fazendo contato visual. - Não vou contar pra ninguém, eu juro.

- Você não vai ir embora, é minha agora.

Meu coração começa a bater forte e quero chorar.

- Eu não sou um objeto pra ser seu. - rebato, sentindo a angústia se tornar fúria. - Sou uma pessoa, tenho sentimentos.

- É mesmo? Quem bom. - a sobrancelha do piercing é arqueada. - Mais alguma coisa que eu vou ignorar depois?

Me calei diante daquilo, murchando no banco carona.

Tudo que pensava era em como gostaria de abrir a porta do carro e sair rolando pelo asfalto, com uma imensa vontade e torcida para que o carro de trás passasse por cima de mim ao ponto de me fazer ir parar no hospital pra sempre.

Foram duas horas silenciosas até o fim da viagem. Michael não pareceu se incomodar nenhum pouco, ligou o rádio e deixou tocando em uma estação qualquer.

Reduzimos a velocidade e entramos em um condomínio fechado. Ele subia uma grande colina, as casas eram afastadas entre si, buscando refúgio entre a natureza ali presente. A única casa murada ficava depois do topo, rodeada de grandes e frondosas árvores, foi a que ele avançou para dentro, abrindo o portão.

Era uma mansão de estilo vitoriana, grande e extremamente bem cuidada. Funcionários responsáveis pelos cuidados da propriedade eram possíveis de serem vistos de longe, e seguranças também. 

Seria um lugar perfeito de se morar, se não fossem as circunstâncias. 

- Bem-vinda ao lar. 

Desci do carro ainda em absoluto silêncio, olhando tudo ao meu redor.

- Não tem saída, pode tirar isso da cabeça.

Encarei-o, irritada. 

Quis gritar e bater em seu peito, mas qual seria o sentido disso? Nada mudaria. 

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