The way it looks

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Liesel P.O.V

- Me solte Guilherme. - empurro-o para longe, ultrajada com tamanha ousadia. 

Em passo apressado, me esforço para seguir Michael, que segue de forma discreta porém veloz para fora do restaurante. Eu o vejo ir em direção ao carro e me apresso ainda mais. 

No momento que entra no veículo, eu entro também.

- Sai do carro. - fala ele, a voz controlada e dura enquanto dava partida. - Sai agora do meu carro. - dessa vez ele me olha, o que me faz ficar amuada no banco.

Me nego, simplesmente balançando a cabeça.

- Quer que eu tire você a força? - vejo seu maxilar travar.

- Por favor só me escute. - peço, a voz ameaçando embargo. - Dirija até em casa e me escute só um segundo.

Contrariado, fazemos exatamente aquilo. 

Quando chegamos, ele sequer olha para trás antes de disparar para dentro de casa. Eu o sigo e vejo-o se servir de bebida, acendendo um charuto enquanto afrouxava a gravata com raiva e acendia a lareira, tudo ao mesmo tempo.

Permaneço no canto da sala, abraçando meu próprio corpo.

- Fala de uma vez! - sua voz se parece com um trovão, e ele mal dirige o olhar em minha direção quando diz isso. - Antes que eu me arrependa de sequer cogitar te ouvir.

- Não foi o que pareceu. 

Uma risada de escárnio escapou de sua boca.

- Clássica. - ele bebe um pouco, coçando a testa. - Essa é nova, ninguém nunca ouviu.

- Você quer me ouvir ou não? - fico irritada, eu queria me justificar para alguém que não parecia ligar para nada do que eu dizia. - Se não quiser eu paro de desperdiçar seu tempo precioso e vou embora.

Ele se levanta e vem em minha direção de forma calma.

- Diga querida, sou todo ouvidos. - aquele olhar debochado está estampado em seu rosto.

Me aproximo dele e tiro o copo de sua mão, depositando calmamente o mesmo em uma mesa de centro perto de mim.

- As coisas nem sempre são o que parecem. - começo, ouvindo um suspiro em troca. - Eu sei o que você viu, mas não é nada daquilo, eu juro. - toco seu peito, alisando o tecido. 

- E o que eu vi? 

- Eu estava nos braços de outro. - digo sem rodeios. - Mas eu não sabia que era Guilherme, não fazia nem ideia de que ele estava lá, ou que iria para lá.

- Então você admite ter se agarrado com outro homem que não era quem imaginava. - ele faz uma careta descrente, rolando os olhos. - Eu pensei que você fosse fácil, mas não tanto assim.

Toda vontade que eu tinha de tentar consertar as coisas caiu por terra naquele momento.

- Pois saiba que achei que fosse você, seu ignorante. 

Lhe dou as costas e rumo para o quarto, trocando de roupas em velocidade recorde e me enfiando debaixo das cobertas, com lágrimas vertendo dos olhos. Eu jamais fora tão humilhada antes, e eu mesma havia me colocado naquela situação quando simplesmente abri as pernas para um estranho. Tamanha fora a minha vergonha que cheguei a soluçar.

Michael não viera se deitar, e na manhã seguinte eu sequer fui capaz de olhá-lo. Tommy nos levou embora e não fiz questão de falar além do necessário.

As semanas se passaram velozes depois daquilo, e eu passei a acompanhar o desenrolar de Theodora e Guilherme como uma dama de companhia. E apesar de tudo eu gostei daquilo, gostei de vê-la afastada de mim, grudada em outra pessoa e sugando uma outra energia que não a minha, me permitiu descobrir quais eram as minhas vontades sem as dela.

Em um fim de tarde, me dirigi até o café, decidida em provar algo diferente. Eu estava entediada com aquela vida no palácio, presa como um pássaro.

Pedi um doce estranho e café com creme, me sentando na varanda do local. Li o jornal e fiz as palavras cruzadas, aproveitando minha própria companhia até ouvir aquela voz desgraçada mais uma vez. Levanto os olhos e dou de cara com aqueles três em uma mesa não longe dali, sentindo que meu dia fora estragado de vez e o mau humor chegando como uma nuvem negra sobre minha cabeça.

Apertei o doce entre os dedos, esfarelando-o em mil pedaços.

Qual era a chance de, justo HOJE, encontrar Michael Gray?

- Senhorita. - o garçom para ao meu lado, depositando uma bebida em minha frente. - Cortesia do cavalheiro às suas costas.

Antes de esganá-lo por me provocar, viro lentamente para trás. 

Um homem de pele bronzeada, cabelos raspados negros e olhos igualmente escuros me sorri, revelando dentes perfeitos. Ele levanta a xícara de café para mim, me fazendo sorrir de volta.

Não fora Michael quem me enviara o pequeno mimo, fora o homem. Eu não resisto e olho para trás mais uma vez, não encontrando-o mais lá. A animação murcha claramente, mas me assusto ao olhar para cima e encontrá-lo ali. 

Era alto como um arranha-céu.

- Incomodo? - pede, apontando a cadeira em minha frente.

- Não mesmo. - mordo o lábio, vendo-o se sentar.

Começamos a conversar, ele era divertido e engraçado, sem contar inteligente e lindo de morrer. Me senti derretida por aquele homem maravilhoso bem ali.

Não rolou exatamente um interesse romântico, mas era bom ser cortejada por um desconhecido, fazia os ânimos se elevarem de vez em quando.

- Senhor, vou ter que pedir para que se retire do local. - um homem chega novamente, com uma plaquinha de gerente estampada.

- Mas por qual motivo? - questiona. 

Aquele deus de bronze era italiano. Um italiano lindo e gostoso.

- Ordem dos Peaky Blinders. - o gerente parecia visivelmente constrangido e amedrontado.

Miro aquela maldita mesa e encontro o cafajeste observando tudo sem disfarce algum. 

Quem ele pensava que era, para mandar alguém se retirar de algum lugar somente por falar comigo? E o que era Peaky Blinders? Tudo me cheirava a sujeira, e me lembrava de como aquele outro homem foi embora depois de um garçom falar com ele, da mesma forma que esse está prestes a fazer.

Levanto e caminho até seu lado, apoiando um braço na mesa.

- Que porra acha que está fazendo? - pergunto, pegando a xícara de chá que ele bebia de suas mãos.

- Vê-la se oferecendo para outro homem não é o que eu mais gosto no mundo. - responde ele, dando de ombros, fechando a cara pra mim.

Solto um som de escárnio, mordendo os lábios e rolando olhos de forma ofendida.

- Oh não... você não quis me ouvir, me ofendeu e agora isso? - sinto que bufo como um touro, olhando-o como se estivesse esfaqueando cara parte da sua cara linda. - Me esquece seu merda. - não dou tempo para que processe nada daquilo, virando todo o líquido em sua roupa. 

Deposito a xícara na mesa, sorrindo satisfeita.

- Ótima tarde rapazes. 


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