Nobody is here for you

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Liesel P.O.V

Tem duas semanas desde que o inferno recaiu diretamente sobre meus ombros. 

Ezio não me toca pois tem medo de machucar o seu suposto filho, mas a violência física não termina nunca. Ele me bate, humilha, faz com que me sinta menos do que nada. Ironia, não achamos?

Sou obrigada a fazer suas refeições, organizar a casa e todos as demais tarefas que ele achar que possuo a capacidade de desempenhar. É uma propriedade enorme, e sem nenhuma empregada para me ajudar.

Ontem ele quis um prato típico de sua região de nascença. Com base no que imaginei que fosse, uma vez que não possuo permissão de sair ou de me contatar com ninguém, eu o fiz, e servi como imaginei que evitaria outra surra. Ezio se sentou na ponta da mesa enquanto eu ficava de pé ao seu lado, como me obrigara a fazer, ele dizia que a mulher só poderia se sentar à mesa uma vez que o homem já estivesse farto, e aguardei ansiosa para poder correr para algum canto em que não houvesse sua presença. 

Duas ou três garfadas depois, Ezio cuspiu a comida de volta no prato, socando com força a mesa.

- Será que você não consegue fazer nada direito, Liesel?! - gritou, apertando as têmporas. - Prove isso aqui.

Agarrando meus cabelos, ele enfiou a comida para dentro da minha boca, machucando dolorosamente.

- Isso parece o que pedi pra você? - seus olhos vidrados esperavam uma resposta que eu não sabia dizer qual era, entre lágrimas e sangue, balançando minha cabeça de um lado para o outro com força.

O meu silêncio o irritou profundamente. 

Fui empurrada e jogada no chão. Ezio retirou seu cinto, dobrando-o de forma que ficasse mais grosso e firme, e me bateu com ele até se cansar. Quanto mais eu gritava, maior era a força que ele usava para o próximo golpe. 

Tamanho era o meu desespero, tentei me proteger de todas as formas possíveis, e consegui evitar que me atingisse no rosto, o que foi ainda pior.

- Tira a mão do rosto. - mandou, com voz furiosa.

Exitei, levando outra cintada na lateral do corpo.

- Senta e tira a mão do rosto, agora. - mais uma vez, cada segundo mais irado. - Ou vai ser ainda pior Liesel.

Soluçando de horror, me coloquei desajeitada como ele queria, tremendo a todo instante.

Eu ouvi o ar ser cortado e pude sentir o ardor antes mesmo do cinto encostar em meu rosto, toda aquela dor que viria. Com um baque seco, mais da metade de meu rosto estava ardendo como se estivesse encima de uma fogueira, aquilo me derrubou no chão novamente, e outro golpe veio, praticamente encima do anterior. 

Não tive forças para mais nada, nem mesmo gemer de dor, tudo estava anestesiado e minha cabeça girava, os olhos piscavam com lentidão.

- Quando acabar, limpe essa sujeira toda e vá tomar um banho, eu volto em breve.

Ezio só voltaria perto da meia noite, e eu tinha que esperá-lo chegar, amedrontada. Ao passar pela porta, aquelas desculpas esfarrapadas e vagabundas se repetiram. Ele viu meu rosto em um tom doente e inchado, por onde o cinto acertou, e o tocou como se não fosse ele mesmo quem fez aquilo, dizendo que a culpa era minha por não fazer as coisas direito, mas prometia que não iria se repetir.

Que ele me amava.

Que a culpa era minha.

Que não ia acontecer de novo.

E de novo.

E de novo.

Mas acontecia, todo dia. Sempre que ele tinha oportunidade.

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